Era uma vez a história de uma flor que no século XVI atravessou meio mundo sob a forma de semente para chegar a terras lusas. No seu país de origem chamava-se Tsubaki. Em Portugal passou a denominar-se Camélia. Esta é uma das versões (há outras hipóteses) para situar a origem da bela cameleira, ou japoneira, no nosso país. Inspirado nesta narrativa com contornos de epopeia botânica vamos encontrar em Lisboa, bem próximo à Praça Duque de Saldanha, um espaço que faz justiça a esta ligação centenária entre dois mundos. Tsubaki é, desta forma e desde há dois anos, na capital, sinónimo de restaurante que alimenta a recente paixão lusa pela cozinha japonesa.
Quantos de nós, há uma década, torcíamos o nariz face à ideia de um peixe degustado cru ou à troca entre um petisco com contornos mediterrânicos por um “picado de carapau com alho francês, cebolinho e gengibre” (Aji tataki). Nomes como o dos chefes Paulo Morais ou Miguel Bértolo são indissociáveis deste merecido culto nacional de descoberta da cozinha nipónica. Dois nomes que, curiosamente, se associam ao passado recente deste Tsubaki, restaurante agora entregue às mãos do chefe Flávio Barbosa.
Encontra um bom porto neste Tsubaki quem dispensa a frivolidade de ambientes falsamente orientais, cartas onde a tolice culinária é chamada de fusão e a frescura dos ingredientes pode ser questionada. O ambiente criado pela decoradora Ana Rita Soares é contido, orienta-nos para conversas intimistas de baixos decibéis. Imperam os tons terra, a iluminação acolhedora e, porque também interessa, as mesas e cadeiras recebem-nos com conforto. Todos sabemos como estes dois últimos elementos podem, quando mal geridos na perspetiva do cliente, ser um convite a um rápido entra e sai. O que não vem a propósito quando temos nas mãos uma carta que nos propõe perto de 30 opções entre “Zensai”, ou seja, uns petiscos para abrir apetites, “Temaki” (cones de sushi), “Makimono“ (rolos de sushi); “Sushi to Sahimi” (combinados), “pratos quentes” e sobremesas.
Uma carta que ao almoço nos faz uma interessante proposta. “All you can eat”, como se percebe, tudo aquilo que conseguir comer. Ou seja, por 14,80 euros, o que inclui entradas, variações de sushi e sashimi, sobremesa e uma bebida (água, chá, limonada), podemos deambular pelas propostas desta carta do Tsubaki. Muito interessante a “tábua” de peixes a cru, finamente fatiados (sashimi) e que inclui robalo, carapau, salmão, vieiras, corvina, atum, lírio, pregado, dourada. Não obrigatoriamente nesta combinação pois depende do peixe fresco do dia. Não esquecer de mergulhar os pedacinhos desta carne com sabor a mar no molho shoyu (molho de soja) e no wasabi, uma raiz de sabor intenso, frequentemente mal tratada fora do Japão. Porquê? Não passa de uma massa que junta mostarda, rábano picante e corante verde.
O conviva que se quiser entreter neste Tsubaki com um petisco de abertura, tem uma interessante amplitude gustativa, com perto de 15 sugestões. Prove o “Miso shiru”, um caldo de soja, tofu, alho francês e wakame (2,00 euros), a “Trilogia Gravlax”, ou seja, três curas de salmão com crocante (8,20 euros); um “Hotategai”, vieiras seladas fatiadas em molho cítrico japonês (9,90 euros). Uma paixão pelo potencial de diferentes peixes que levou o chefe Flávio Barbosa aquando do “Dia Internacional do Sushi” (18 de junho) a incluir na carta do restaurante uma edição especial, ou seja, um trio de entradas inspiradas num peixe que nos é particularmente grato, a sardinha. Na altura, uma visita ao Tsubaki tornou-se sinónimo de encontrar no prato nigiri, um bolinho de arroz cozido, coberto com um pedaço de sardinha, um oshizushi, pequenos blocos de arroz comprimido do mesmo peixe e um sunomono, uma salada avinagrada de…claro, sardinha.
Ainda no serviço à carta, a não desmerecer os pratos quentes e, neste item, um “Tori Ramen”, a massa japonesa em caldo, frango, ovo escalfado, cogumelos e alho francês (12,00 euros) e um “Yakisoba”, massa salteada com vegetais, camarão, frango e molho especial (12,00 euros). Quem for dado a combinações pode optar entre dois “sets de sushi to sashimi”, respetivamente a 19,90 e a 21,90 euros, um de pendor mais tradicional e mais encostada à cultura japonesa (12 rolinhos, 2 gunkan, 2 nigiri, 8 sashimi), outro de “fusão” onde o chefe junta técnicas e matérias-primas ocidentais com as nipónicas (12 rolinhos, 2 gunkan braseados, 2 nigiri braseados, 8 sashimi braseados).
Não querendo tornar exaustivo o rol de referências culinárias nesta peça, vale dizer que aqui encontra a carta completa deste Tsubaki e, nela, um bom punhado de opções de rolos de sushi (“Makimono”) e um trio de cones de sushi (“Temaki”). Se a criançada torcer o nariz a tanto peixe (para mais sem aspeto - felizmente - de Douradinhos), sempre podem os pais apontar o dedo ao “Kodomo Hambagu” (6,90 euros), traduzindo, um hambúrguer de salmão no pão, acompanhado com o delírio infantil, a batata frita. É claro que encontra na carta outras guarnições, como o arroz de sushi, o arroz salteado, ou salada.
As sobremesas vão variando ao sabor dos dias e da estação do ano. No dia da visita deste articulista caiu a sabor sobre o prato um cheesecake de saquê com maracujá e um gelado de limão.
Restaurante Tsubaki (Turim Saldanha Hotel)
Rua Latino Coelho, nº 23
Horário: Todos os dias da semana, das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 23h00 (sábado e domingo sem almoços).
Contactos: Tel. 210 492 320; email: tsubaki@turimhoteis.com
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