A história é cativante e mote para se falar num restaurante em Lisboa que nos serve cozinha integralmente peruana. Uma narrativa que começa a quase dez mil quilómetros, nas margens do Oceano Pacífico e com um protagonista, Daniel Manrique, surfista, apaixonado pelo mar e por uma pequena vila e praia, San Bartolo, a sul de Lima, capital do Peru. Aos 15 anos Manrique pescava e preparava com esmero o peixe que a costa dava. O jovem acalentava um sonho, abrir um restaurante com uma mesa baseada na cozinha da região e nos pratos de ceviche que a sua mãe preparava. Nos anos de 1990, Daniel abre o seu primeiro restaurante. Quarenta metros quadrados, instalados numa antiga oficina, foi quanto lhe bastaram para iniciar um império chamado Segundo Muelle. O nome, cunhou-o Manrique no segundo molhe de San Bartolo. O sonho deste peruano não se ficou apenas pela almofada. Tornou-se um facto palpável, hoje, em 17 restaurantes, instalados em seis países, no Perú, Equador, Espanha, Costa Rica, Panamá.

Portugal faz parte do rol destas sucursais do Segundo Muelle mundo fora. O Grupo Portugália que nos habituámos a associar a uma mesa cárnica, agarrou o conceito e junta esta gastronomia peruana, mescla de cozinhas de diferentes proveniências, às suas outras coqueluches, entre elas a Portugália Cervejaria e Balcão, La Brasserie de L ´Entrecôte, Cervejarias Trindade e Ribadouro.

segundo muelle
segundo muelle Parihuela, uma sopa rica de peixes e mariscos, perfumada com ervas aromáticas.

Em Lisboa o Segundo Muelle encontrou casa bem próximo de um dos chamarizes da cozinha lisboeta, o Mercado da Ribeira. O restaurante é autónomo, está instalado num outro edifício da Praça Dom Luís I, distância suficiente para marcar a sua identidade. Ou seja, cozinha servida por partos 100% peruanos onde não é alheia toda a influência que esta mesa sentiu devido a movimentos migratórios. Espanha, África, China, Japão, Itália, são apenas algumas das cozinhas que deram o seu contributo para esta a despensa e mesa peruanas. Uma cozinha global na carta deste Segundo Muelle lisboeta. Nela não vamos encontrar o habitual elenco que dispõe os pratos de acordo com entradas, principais, sobremesas. Antes uma ementa que se divide por influências. No fundo, uma soma onde o Peru é a constante e diferentes geografias o elemento que varia. Veja-se, então: Chifa (Peru mais China), Nikei (Peru mais Japão), Mediterrânica (Peru mais Espanha e Itália), Crioula (Peru mais África). Juntem-se as comidas nativas, onde não falta o prato embaixador, o ceviche (peixe marinado em sucos cítricos).

Segundo Muelle
Segundo Muelle Pescado en Salsa de Parihuela.

Uma amplitude de carta que pode causar alguma desconfiança. Para mais quando encontramos dezenas de referências, o que eventualmente intimida o menos experiente comensal nestas lides da mesa sul-americana. Esta desorientação não é o caso neste Segundo Muelle. A carta está bem organizada, é suficientemente ilustrativa para nos antever o que virá ao prato. Uma sugestão. Começar pelos clássicos e com um trio de ceviches: Cebiche Segundo Muelle, Cebiche três ajíes e Cebiche norteño. Acompanha com um choco, variedade de milho, e camote, um puré de batata-doce. Para palatos mais acomodados às nossas latitudes gustativas, as sugestões “Mediterrâneo”, incluem alguns tártaros de atum muito interessantes, um prato de pasta, outro de salada. Mas desengane-se quem associe a presença forte do azeite, orégãos ou queijo parmesão a uma navegação gastronómica nas águas do grande maior interior europeu. Não, aqui, a náutica faz-se sempre sem perder de vista a costa do Pacífico.

Desse outro oceano e do seu extremo oposto chegou ao Peru a influência migratória japonesa e chinesa. Impossível não a sentir nas propostas “Oriente”. A seleção de makis é grande, os cortes de peixe seguem a escola nipónica, o tempero, contudo, ascende a novos patamares gustativos. É cozinha delicada, mas expressiva e exuberante no tempero. Assim como também prima pela exuberância a cozinha “Crioula” peruana. Uma mesa familiar, construída ao longo de séculos pelas matriarcas das casas e que expressa os tempos de escassez, mas também os de abundância. Há o arroz, o milho e o feijão, os mariscos e os peixes.

Segundo Muelle
Segundo Muelle Tres leches, um bolo húmido de três leites, coberto com chantilly e polvilhado com chocolate

Quem quiser acomodar na refeição uma sobremesa, vai encontrar na carta cinco sugestões. Um destaque, o bolo húmido de três leites, coberto com chantilly e polvilhado com chocolate. Não é difícil meter a primeira colher. Difícil, mesmo, é saber que chegámos à última.

O Segundo Muelle apresenta, ainda, uma ementa de cocktails peruanos, confecionados com o tradicional Pisco. Neste âmbito, destaque para o Pisco Sour, um batido com pisco quebranta, sumo de lima e clara de ovo.

Mais recentemente a casa lançou o Menu Executivo, por 14,50 euros, o que inclui um aperitivo, prato principal, água e café. O Lomo Salteado é o único prato disponível todos os dias, enquanto as restantes especialidades vão variando ao longo da semana e incluem Aji de Camarones, Risotto de Camarones, Chicharon de Pollo Novo-Andina.

Não foram esquecidas as crianças e o Segundo Muelle apresenta-lhes o Muelle Niños, composto por um bife do lombo de novilho grelhado, acompanhado de duas guarnições à escolha entre Linguini al ´olio, Thai, batata frita, salada mista ou legumes salteados.

Segundo Muelle
Praça D. Luís I, nº 30, Loja 4b, Lisboa
Tel.: 931 169 158; Email: sm.lisboa@segundomuelle.pt