Se presta atenção ao mundo dos vinhos, já terá encontrado numa ou noutra feira ou até ouvido falar de um novo produtor que não esconde as suas raízes. Impossível não associar a “Mainova” ao Alentejo e foi precisamente aí que nasceu este projeto de enoturismo, na Herdade da Fonte Santa, em Vimieiro, Arraiolos.
Como distinguir um novo projeto no meio de tantas outras herdades que já gozam do seu estatuto? Criando uma marca diferente, que não fosse só mais um nome entre outros vizinhos famosos. Na Herdade da Fonte Santa nasceu a Mainova, pelas mãos de Bárbara Monteiro, a mais nova de três irmãs, que em 2019, deixou para trás uma carreira na área de consultoria de comunicação, para dar corpo ao seu próprio projeto.
A herdade, com 200 hectares, foi adquirida pelos pais de Bárbara, empresários da área da cerâmica, que plantaram as videiras e as oliveiras há quase 15 anos. Hoje a Mainova conta com 20 hectares de vinha, apenas com castas portuguesas, e 90 de olival, onde se destacam as tradicionais Cordovil, Cobrançosa e Arbequina ou outras menos óbvias, como Picual e Frantoio. Grande parte do terreno é Montado, paisagem aliás típica da região.
Na vinha encontramos castas como Antão Vaz, Arinto ou Verdelho para brancos e Alicante Bouschet, Trincadeira, Aragonês ou Touriga Nacional, nas tintas. Mas o destaque vai para Baga e Encruzado. As castas típicas da Bairrada e Dão, respetivamente, encontraram o seu lugar neste ponto do Alentejo, num projeto que se quer mostrar no mundo dos vinhos, contando com a ajuda do enólogo consultor, António Maçanita, conhecido pelo seu trabalho na Fita Preta e Azores Wine Company.
Em todo o projeto há um fio condutor: a sustentabilidade. “Já desde os meus pais que o foco é ter um equilíbrio. Retiramos da terra, mas também tentamos dar”, explica Bárbara Monteiro que acrescenta que têm “uma miniestação fotovoltaica há 14 anos” o que faz com que estes valores se tenham estendido à construção da adega, que foi desenhada de raiz a pensar na capacidade de produção da herdade, e à própria marca em si, com um cuidado na escolha dos materiais, desde garrafas 100% recicladas a caixas em papel craft.
Mas há mais. Aplicam os conceitos da agricultura de precisão, com maior controlo do uso de água, e os vinhos Mainova são selados com lacre em vez das tradicionais cápsulas de plástico. As garrafas de vinho têm todas o mesmo tamanho para não haver qualquer tipo de desperdício e custos desnecessários e o mesmo acontece com os azeites, cujas garrafas são feitas a partir de vidro reciclado, incluindo a de cerâmica, que é produzida na fábrica dos pais de Bárbara, assim como toda a loiça do restaurante.
“Se o meu pai aqui estivesse diria que o projeto era para os netos, e não para ele. Portanto é algo a longo prazo”, acrescenta.
Sendo a sustentabilidade o seu ADN, a parceria com o chef João Narigueta (Híbrido, em Évora, e antigo L’and Vineyards), conhecido pelo trabalho que tem feito no sentido de resgatar alimentos que foram caindo no esquecimento e que hoje recupera no seu restaurante, tornou-se inevitável.
Apesar de não ter um restaurante, a herdade tem um espaço de cozinha para ser usado. Daí nasce o ciclo de jantares Mainova à Mesa com João Narigueta que arranca a 4 de março, com um valor de 120€ por pessoa, sendo que há lugar para 25 a 28 pessoas, com reserva prévia. O menu não será sempre igual e vai sofrer as alterações necessárias de acordo com a sazonalidade e disponibilidade dos produtos.
O Híbrido “foca-se na sustentabilidade e em reproduzir algumas receitas mais antigas e recriá-las com novas técnicas de cozinha e ir buscar aqueles alimentos que já foram um bocadinho esquecidos”, afirma o chef na apresentação do conceito, explicando que trabalha apenas com produtores locais.
Sendo João Narigueta de Montemor-o-Novo tem a vantagem de conhecer de perto os produtores com os quais trabalha e cujo principal objetivo é “promover novamente a produção de produtos autóctones”, como explica, com produtos provenientes apenas de um raio de 80 quilómetros de Évora. “Quando não se tem algum produto em específico, não se tem”, enfatiza João Narigueta.
Da cozinha do Híbrido para a cozinha da Mainova, o espaço pode mudar, mas a ideia mantém-se. A poucos dias do evento, o menu está definido, composto por produtos sazonais e locais.
No amuse bouche pode contar com pão – o próprio chef faz o pão com trigo barbela e massa mãe -, manteiga de cebola, alho e louro e azeite Mainova, seguido de rissol de catacuzes (uma planta que cresce de forma espontânea no Alentejo), caldo de peixe de rio curado, pil-pil e ovo e depois poderá degustar peixe de rio com shoyun de tomate verde, funcho, junco e açafrão. Nos pratos de carne as escolhas recaem em carne de caça com alface, alho doce, mel e maionese de eucalipto e carne de vaca com puré de cenoura e raiz forte e pickle de cenoura. Para sobremesa há cremoso de laranja com gel de limão e vinagre de flor de laranjeira.
A refeição será harmonizada com as quatro gamas de vinhos da Mainova: Mainada (100% monovarietal de Baga, Touriga Nacional e Trincadeira Preta), Mainova (Branco, Tinto e Verdelho), Milmat Reserva (Tinto e Branco) e Moinante (Rosé Castelão, Encruzado, Curtimenta e Dupla Curtimenta). Já nos azeites a oferta distribui-se em duas propostas de virgem extra de extração a frio: o Clássico e o Early Harvest.
Além da produção de vinho e de azeite, o enoturismo é outra das vertentes da marca, com visitas à adega, às vinhas e ao olival, além de provas de vinho e azeite, entre os 30€ e os 60€ por pessoa. Há ainda espaço para eventos à medida ou outros, como é o caso deste Mainova à Mesa. Anteriormente já tinham organizado um evento com o chef Hugo Nascimento.
A Mainova apresenta-se sobretudo como uma lufada de ar fresco num Alentejo que mostra que ainda há espaço para inovar. E que promete não parar por aqui.
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