Há odores que não enganam e que de pronto se aconchegam nas nossas memórias gustativas mais prazenteiras. Um deles, de assinatura bem portuguesa, o Cozido. É este odor, o de caldo e carnes, de couves e enchidos, de leguminosas fumegantes, que nos acolhe à entrada do restaurante UQ, no Skyna Lisboa Hotel, um quatro estrelas. É quinta-feira e o elenco semanal de buffets ao almoço reserva ao comensal o Cozido à Portuguesa.
Esqueçamos que estamos na unidade hoteleira e concentremo-nos no restaurante, de porta aberta diretamente para a Rua da Artilharia 1, e com uma Carta e oferta de Menus Executivos (estes de segunda a sexta ao almoço), que valem a visita por si, independentemente do estar, ou não, alojado na unidade.
Contas feitas, o restaurante UQ senta simultaneamente 60 comensais, num ambiente de decoração acolhedora e discreta, eficaz a alhear-nos por uma ou duas horas do bulício nervoso da capital. Um ritual como conta ao SAPO Lifestyle Patrícia Moura, relações públicas da unidade: “o restaurante é frequentado por muitos clientes que trabalham nas proximidades. Isto especialmente ao almoço e para os buffets. Ao jantar encontramos o cliente estrangeiro, alojado no hotel, e que escolhe a partir da nossa carta”.
Uma carta refrescada este outono e inverno e que entrega os seus créditos a um jovem chefe de 37 anos, Rui Canhoto, defensor acérrimo da cozinha e produtos portugueses, da sazonalidade dos alimentos e na depuração do gosto, isto é, não ocultar o produto sob grande aparato de mesa.
Marcas identitárias de um chefe com experiência de cozinha portuguesa dos dois lados do Atlântico, como o próprio nos explica: “Trabalhei vários anos no restaurante Fernandes Steak House, em Newark, Nova Jérsia, nos Estados Unidos. Um verdadeiro portento da cozinha portuguesa. Um espaço muito querido pela comunidade portuguesa, mas também pelos norte-americanos. Prima pela simplicidade na apresentação dos ingredientes. Não se confunda isso com desleixo, antes pelo contrário”.
Uma inspiração que Rui Canhoto verte para aquilo que temos oportunidade de provar à mesa deste UQ. “Dos Estados Unidos trouxe a ideia de que a nossa cozinha é muito boa e tem de ser bem tratada”, sublinha Rui Canhoto, a governar a mesa deste UQ desde dezembro de 2016 e coadjuvado pelo subchefe Ricardo.
Antes de abordarmos as peças de resistência da nova carta, façamos um périplo pela oferta no que respeita a Menus Executivos, com buffets à hora do almoço. Não há como lhes desmerecer. Por 12,00 euros, sentamo-nos à mesa com a oportunidade de espraiar os apetites pelos pratos principais, um naipe de sobremesas, bebida e café. E não será a monotonia que nos demove dos acepipes com a mão do chefe Rui Canhoto. “Não há repetições e, por exemplo, nas feijoadas de segunda-feira, vamos encontrar variações em torno das carnes e dos peixes”, como nos conta Patrícia Moura.
“Dos Estados Unidos trouxe a ideia de que a nossa cozinha é muito boa e tem de ser bem tratada”
Já à terça-feira, quem se senta à mesa do UQ encontra Massas e Pastas. Mas desengane-se quem espera encontrar uma viagem por sabores transalpinos. O que Rui Canhoto nos apresenta são massas de pendor português, com os folhados com queijo de cabra ou as bolas.
Quarta-feira é dia de Bacalhau e, com ele, a infinidade de preparos que lhe sabemos associados. Não faltam os clássicos, como o Bacalhau no Forno, à Brás e o Espiritual. Como também vamos encontrar um prato que é homenagem do chefe ao seu pai, como nos detalha: “Compus um Bacalhau à D. José em honra do meu pai e avó, ambos José”. Uma memória que Rui Canhoto, Lisboeta de nascença, traz das origens familiares, no Alentejo.
Chegada a quinta-feira, o Cozido à Portuguesa é incontornável, aqui com direito a sopa do mesmo. A fechar a semana, numa toada mais ligeira, chegam os grelhados e com eles, toda a amplitude de mesa que sugerem, dos peixes e das carnes. Paralelamente a todas estas sugestões cárneas ao longo da semana, “há sempre uma opção vegetariana”, recorda-nos Patrícia.
Chegados aos pratos do nova Carta, percebemos a natural afeição pela cozinha mais substanciada da estação fria. Rui Canhoto mantém, contudo, algumas referências das cartas anteriores, nomeadamente o Polvo à Lagareiro - soberbo na tenrura e na ligação com os ingredientes que o substanciam, como o azeite, o alho – (16,00 euros), as sopas do dia (4,50 euros), o Filete de robalo à delícia com molho de limão (12,00 euros), o Peito de frango gratinado com mozzarella e espinafres (14,00), as Costeletas de borrego grelhadas com batata ao alho (19,00 euros).
No desfile deste almoço, temos a oportunidade de provar, como entrada, uma lulas fritas em molho marinara (9,00 euros), cujo único “defeito” (entre aspas como se vê) é o de se tornarem um vício e o de passarem de prato de abertura de apetites, para a refeição principal à mesa. A fritura é sequinha, a polme estaladiça e sabe bem o mergulho das lulinhas num molho apetitoso e rico. Segue-se o Polvo com a competência já descrita atrás e um Bacalhau à D. José (19,00 euros), que merece uns minutos de grelha, seguido de forno e acompanhado no prato de pimentos, batata a murro e brócolos. Para fechar a bateria de pratos de resistência um Lombo de Porco Ibérico com uma trilogia de cogumelos (16,00 euros). Carne tenra, bem acompanhada com os brócolos e batata em formulação criativa, sem que percamos o rumo a cada um dos componentes.
Marca de Rui Canhoto. Cada alimento a valer por si e uma mesa recheada de portugalidade, extensível também aos vinhos. O restaurante UQ tem nos néctares Pinta Negra (adega mãe), a proposta da casa. Isto com opção de escolha a copo.
A encerrar, as sobremesas. Provamos uma Mousse de chocolate (4,00 euros) leve e cremosa, uma Barriga de Freira, substancial e em rigor pela tradição e a pedir algum comedimento em abono do controlo calórico (vá, de quando em vez, é-nos permitida alguma folga) e um Cheesecake de Oreo (4,00 euros). Saiba o comensal que no capítulo sobremesas pode, ainda, encontrar o Arroz Doce (3,00 euros) ou um Petit Gateau (5,00 euros).
Contas feitas, os pratos da refeição variam entre os 3,00 euros (no caso das entradas) e os 19,00 euros (principais). Valor que se justifica perante uma cozinha cuidada, trabalhada e com respeito pela tradição de comeres nacionais. Isto sem desmerecer na inventiva que o chefe Rui Canhoto introduz em cada prato.
UQ restaurante
Morada: Rua Artilharia 1, nº 112,r/c, em Lisboa (Skyna Hotel Lisboa)
Horário: 12h30 às 15h00 e das 19h30 às 22h30
Reservas pelo telefone 212 484 900 e email: reservas.lis@skynahotels.com
Comentários