Quem conhece o bairro dos Anjos, em Lisboa, e por lá passava todos os dias na Rua da Guiné (que é nada mais nada menos que uma das principais para sair em direção à Almirante Reis) não era difícil não olhar para o novo espaço que estava em remodelação.
Jezzus, assim se apresentava a fachada com um slogan apelativo “In Jezzus we crave”, um “Pizza Saves”, no terraço acima, e janelas vestidas a cor-de-rosa com o aviso “brevemente” a avisar que algo iria acontecer no lugar que antes era ocupado por uma churrasqueira de bairro.
Mas o tempo foi passando e nada mudava naquela fachada. E foi um processo demorado, com alguns contratempos, que durou perto de ano e meio. Até que, quando se pensava que nada ia acontecer ali e que os proprietários tinham desistido da ideia, num belo dia de novembro a pizzaria aparece aberta.
Do lado de fora conseguimos ver os néons com o cor-de-rosa, o branco e o azul a sobressair das grandes janelas. Tudo é bastante iluminado. “Um dia tenho de experimentar”, digo para mim, uma fã assumida de pizzas.
A experiência realmente aconteceu num dia de passagem em regime take-away e houve algo que surpreendeu muito pela positiva: a rapidez com que todo o processo aconteceu (fico a saber mais tarde que as pizzas demoram apenas 90 segundos a serem cozidas no forno). Em menos de cinco minutos, fiz o pedido, paguei, dei uma olhadela no espaço onde invejei o chão de mosaico hidráulico e saí com duas caixas de pizza na mão. As escolhas recaíram na Judas dos Açores (Mozzarella Fior di Latte, Ananás Assado dos Açores, Chouriço de Porco Preto alentejano, Parmesão de 24 meses e Broto/Pesto de Coentros, 16€) e Funghi Mio (Creme de limão, mozzarella fior di latte, shitake e pleurotos orgânicos, salsa, raspa de limão, 14€). Os ingredientes são bons e a massa é completamente diferente daquilo que estamos habituados, mais elástica.
Os cinco minutos não deram margem para conseguir saber muito mais sobre esta nova pizzaria até que chega o convite para a inauguração oficial. E fico a saber que, além de uma pizzaria, há todo um conceito desenvolvido em torno deste espaço de restauração.
Primeiro ponto: a pizzaria faz parte de um grupo de restauração familiar lisboeta, Alfredo de Jesus, que acumula experiência de vários anos em cafetarias, pastelarias e restaurantes de bairro. E que eram os proprietários da anterior churrasqueira. A ideia da nova geração desta empresa familiar é ter espaços diferentes, com conceitos mais modernos, como é o caso da Jezzus e da Leitaria de Lisboa, na Rua da Artilharia 1, que também faz parte do portefólio.
E é desta forma que ficamos a perceber o nome da pizzaria. Jezzus é o aproveitamento do nome de família, Jesus, com pizza. Para quem é daquela geração que devorou Dragon Ball, sabe bem o que significa “fusão”, nestas coisas. Mas não só.
“São interjeições de espanto, ou quando temos uma grande experiência, quando experimentamos alguma coisa muito boa dizemos “oh, Jesus” e o nome também está relacionado com isso”, explica Tiago Jesus, uma das mentes por detrás deste projeto.
A pizzaria, que abriu em soft opening em novembro, tem vindo a conquistar os habitantes do bairro como explica o proprietário: “Tem corrido muito bem e ultrapassado as nossas expectativas. De semana para semana, temos tido cada vez mais gente”.
A aposta vai na linha de explorar o que de melhor fazemos a nível nacional. Como nos explica Tiago Jesus, o conceito assenta em três pilares essenciais: boa escolha de matéria-prima com o recurso a cereais e farinhas vivas portuguesas de moleiro, do produtor do Oeste, Paulino Horta, bases de pizza de fermentação natural durante 48 a 72 horas, com recurso a massa mãe e escolha de produtos frescos, orgânicos, sazonais e de pequenos produtores nacionais, sempre que possível. E isso é notório na ementa.
O ambiente grita retro por todos os lados, num design que ficou a cargo da Join Studio (Joana Pereira e Ingrid Mayer). “Nós tentámos pegar no nome e em elementos que nos levassem para ele, mas sem ser muito objetivo, como podemos ver nos vitrais, nas cores, que nos chamam para igreja, mas sem ser de igreja, com cores fortes e néon”, explica Joana Pereira. “Ao mesmo tempo quisemos trazer elementos que não fossem demasiado religiosos, mas mais cool”, completa Ingrid Mayer. A decoração é simples, com recurso a elementos coloridos que nos fazem viajar para as décadas de 1980 e 1990, numa proposta muito diferente das tradicionais pizzarias. Há um público jovem que se quer atrair e o espaço ajuda a chamar essa juventude, num dos bairros mais alternativos de Lisboa.
Há ainda o detalhe de que, toda a loiça de servir foi pintada à mão na zona de Aveiro.
Uma ementa italiana que fala português
O que podemos encontrar na ementa da Jezzus, desenhada por Tiago Jesus e pelo chef Luís Alvim? Para começar a refeição há Rotolinos, uns rolinhos de Massa Mãe, disponíveis em três sabores (8€), as Bordas de Massa Mãe, servidas com molho de tomate temperado, creme de Queijo de Ovelha e Pesto de Manjericão (6€) e a Burratabela, uma Burrata artesanal servida com Tomates confitados e Pesto de Pistacho (10,50€).
Nas pizzas vai encontrar a clássica Marguerita (Tomate, Mozzarella Fior di Latte, Manjericão, Parmesão 24 meses e azeite virgem extra, 11€), mas também combinações improváveis, mas tipicamente portuguesas, como a Pizza à Bulhão Pato (Creme de Bulhão Pato, Mozzarella Fior di Latte, Amêijoa, Pecorino, Pesto de Coentros e raspa de Limão, 16€), ou outras como a Judas dos Açores (mencionada acima), a Mother of Jezzus (Mozzarella Fior di Latte,Curgete, Alho Francês, Queijo Azul de Azeitão, Pistacho e Parmesão de 24 meses, 13€), a Nossa Senhora Burrata (Tomate, Mozzarella Fior di Late, Rúcula, Coração de Burrata, Tomate Cereja e Pesto de Pistacho, 16€) , a Holy Guanciale (Tomate, Mozzarella Fior di Latte, Papada de Porco Preto Alentejano, Cebola Roxa e Salsa, 13€), entre outras.
Se quiser fugir à pizza pode optar pelas Tábuas de Charcutaria servidas com Panuozzo de fermentação longa, e que podem ser com Paio de Porco Preto do Cachaço (14€), seleção de charcutaria de Porco Preto (18€) ou seleção de charcutaria de Porco Preto e Queijos Artesanais (18€).
Nas sobremesas temos Sweet Lord, uma tarte de Queijo no forno com calda de Goiabada (5€), Sr. Abade de Priscos, o célebre pudim, mas com uma bola de gelado de baunilha a acompanhar (6,5€) ou Cookie de Chocolate (5,5€), que também é servida com bola de gelado.
Se é fã de pizzas, acrescente este nome no roteiro pois tem a grande vantagem de estar a dois passos do metro.
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