Aos 12 anos, a nortenha Marlene Vieira soube exatamente que era na cozinha que queria passar os seus dias. Aos 16 anos, inscreveu-se na Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira. Nos anos seguintes, Marlene saiu e voltou a Portugal, passando por Nova Iorque e por inúmeros hotéis de cinco estrelas e restaurantes.
Em 2009, participa, pela primeira vez, no concurso “Chefe Cozinheiro do Ano”, dominado quase exclusivamente por chefs do sexo masculino. Com 31 anos, decide que quer seguir o seu caminho a solo e abre o Avenue, na lisboeta Avenida da Liberdade. Em 2018, lança o primeiro livro, Os doces da Chef Marlene”. Em 2019, integrou a série da RTP, “História da Gastronomia Portuguesa”. Em 2021, abriu o seu restaurante de alta cozinha, o Marlene, frente ao rio Tejo em Lisboa.
É aí, no Marlene que, a partir de 20 de março, a chef vai abrir as portas da sua cozinha para nos revelar as receitas mais bem guardadas e os truques dos grandes chefs. Cozinha de Chef com estreia no canal Casa e Cozinha (20h30), traz até nossas casas a primeira mulher a ingressar no Top 10 dos Melhores Chefs Portugueses nos Prémios “Mesa Marcada 2022”.
Em cada episódio, a chef cria dois pratos com propósitos distintos. Tanto pode optar por uma receita complexa e visualmente impactante, ideal para impressionar convidados, como pode recriar pratos tradicionais portugueses com um toque diferenciador. A par com a confeção dos pratos, em cada episódio inclui as “dicas da chef” e a rubrica “O conselho do Sommelier”, com a presença de Gabriela Marques.
A propósito da estreia de Marlene Vieira num programa onde protagoniza a sua cozinha, o SAPO Lifestyle endereçou um roteiro de perguntas à chef que não esconde ter no seu futuro o restaurante que lidera consagrado com a estrela Michelin.
A partir de 20 de março, a Marlene assume o comando do seu novo programa de televisão. O que podemos esperar de Cozinha de Chef?
Tal como diz o nome do programa de uma cozinha de chef espera-se que saiam novas técnicas, receitas que fazem parte do mundo das cozinhas profissionais. Quem assistir a este meu programa terá acesso a vários truques e dicas de cozinha explicados por uma profissional que conta com 30 anos de carreira.
Tendo de resumir a sua cozinha numa frase, como a apresenta?
É uma cozinha com texturas, camadas de sabor e elegância.
Habituamo-nos a enaltecer os sucessos, esquecendo que com os insucessos também crescemos. Qual foi o insucesso na sua vida profissional que mais a fez crescer como cozinheira?
Tive alguns insucessos como todos nós, o mais marcante foi quando perdi numa competição nacional de cozinha quando, inicialmente, era a grande favorita à vitória. O excesso de confiança fez-me perder, o que me levou a uma introspeção pessoal, o que me fez aprender que não devemos subestimar o talento dos nossos pares.
Imagine que alguém que não conhece de todo a cozinha portuguesa se sentava à sua mesa. Que prato lhe prepararia que fizesse a síntese do nosso país?
Pataniscas de bacalhau com arroz de feijão.
Na mesma linha, que ingredientes fazem a síntese da sua cozinha?
Possivelmente, o azeite, alho e coentros.
Quais foram as palavras mais elogiosas que recebeu sobre a sua cozinha?
Tem uma forma de cozinhar que se torna um vício.
Em sentido contrário, quais as palavras que mais a magoaram?
Lembro-me, numa fase inicial da minha carreira, que os clientes pediam para falar com o chef e eu dizia que o chef era eu. Ficavam um pouco atarantados a olhar-me como se eu fosse alguém muito estranho.
O que falta dizer sobre a cozinha portuguesa que não foi dito até agora?
Não sei bem, talvez não falte nada por dizer.
Uma chef para vingar nas cozinhas portuguesa precisa de se tornar uma estrela e contar com exposição mediática?
Uma mulher para se tornar conhecida precisa querer ser conhecida, assim como o homem também. Para ser reconhecida não depende só dela. A sociedade ainda tem de se habituar à ideia de que as mulheres quando são líderes não chegam lá porque tiveram de dar graxa ou fazer qualquer outra coisa que não tenha a ver com o seu talento.
Se tivesse a possibilidade de escolher uma pessoa famosa para lhe preparar uma refeição, qual seria e porquê?
Neste momento gostaria de poder fazer um jantar para o Ferran Adrià [chef espanhol que durante anos liderou a cozinha do mítico restaurante El Bulli], porque queria que ele me desse o seu feedback em relação à minha maneira de cozinhar.
Qual a sua principal característica?
Lutadora.
O que mais aprecia num cliente?
Conhecimento gastronómico e empatia.
Que pessoa ou pessoas foram determinantes para si na sua profissão? Alguém teve influência na forma como trabalha atualmente?
Claro que sim, existiram pessoas que me mostraram como eu não queria ser quando estivesse a liderar; existiram outras que me inspiraram muito na forma de pensar e construir a minha própria identidade culinária. Tecnicamente, aprendi com todos. O chef Luís Baena e o chef Andoni do Mugaritz talvez me tenham influenciado mais na forma de cozinhar que apresento hoje.
Há alguma região do país em termos de gastronomia que prefira? Porquê?
Não. Portugal é igualmente interessante gastronomicamente em todas as suas regiões.
Há segredos na cozinha que não se partilham? Ou não há nada a esconder?
Junto das nossas equipas não pode haver segredos, se calhar para o público talvez, até porque a concorrência também faz parte deste púbico.
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