Se estabelecermos uma linha de tempo, conseguimos observar que os esterótipos, os tabus, os certos e os errados têm variações tão estranhas quanto a sua natureza. Se, há 10 anos, era no mínimo excêntrico, para não utilizar outro adjetivo, ver um homem maquilhado na rua, hoje não é tão chocante saber que o sexo masculino é capaz de entrar numa loja de cosmética para comprar um produto como um corretor de olheiras. Mas podemos voltar ainda mais atrás...

Se a maquilhagem é das mulheres e os homens são menos másculos por usar um creme de rosto, apesar quem ainda afirme o contrário, no antigo Egipto, por exemplo, um homem era considerado de um bom estatuto social se usasse eyeliner. Na Roma antiga, os homens também utilizavam pigmentos vermelhos na zona das maçãs do rosto e muitos pintavam mesmo as unhas com uma mistura de gordura e sangue de porco para serem mais atraentes.

Cuidados masculinos para homens que não querem cheirar a cavalo
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Durante milhares de anos, a maquilhagem era usada por ambos os sexos, sendo este um ritual de beleza comum e sem qualquer preconceito. No reinado de Isabel I, no século XVI, os homens usavam pó branco, símbolo de um estatuto social alto, mas este padrão mudou quando a própria considerou que a maquilhagem era vulgar, passando a ser encarada como uma obra do diabo. A tal linha de tempo sofreu variações drásticas ao longo dos anos, mas parece chegar agora a bom porto. Sacudimos as ideias pré-concebidas e damos oportunidade a um novo mundo, o dos cuidados de rosto e dos produtos para homens.

O boom da indústria da cosmética masculina ainda é recente. No entanto, os lançamentos de linhas de produtos dedicadas a homens são cada vez mais recorrentes porque a procura por este tipo de produtos aumentou. E muito! Um estudo norte-americano, pago pela Mintel, uma empresa de marketing, apurou que quase dois terços dos homens, de idades compreendidas entre os 18 e os 44 anos, usam creme de rosto e 70% não dispensa o protetor solar.

A percentagem de homens que utiliza cuidados de rosto subiu, na verdade, para os 84%. Em Portugal, não fugimos da tendência. Um outro estudo, realizado pela empresa L’Oréal Portugal, apurou que 75% dos homens portugueses usa produtos de beleza e que 89% tem mesmo um papel ativo na escolha e na compra dos produtos que ultilizam. Porém, 64% ainda utiliza gamas unissexo. A preocupação existe, cresce e o mercado modifica-se consoante estas estatísticas.

O novo segmento de mercado que tem vindo a surgir

A mudança de paradigma foi acolhida pelas empresas do setor, ávidas de um novo mercado, com agrado. As marcas mostram-se cada vez mais atentas e lançam linhas de tratamento e maquilhagem para o sexo masculino. A Chanel, por exemplo, anunciou em agosto de 2018 a criação de uma linha de maquilhagem para homens composta por uma base, um bálsamo de lábios e um lápis de sobrancelhas, que pode (re)ver na galeria de imagens que se segue.

O mesmo acontece com outras marcas como a Yves Saint Laurent e a Tom Ford que, nos últimos meses, criaram produtos específicos para homens, como lápis de olhos, corretores de olheiras e cremes autobronzeadores, seguindo uma estratégia comercial que se tem vindo a globalizar progressivamente. Parecendo que não, as vendas dos produtos de cuidados de rosto para homem aumentou em 11% no ano passado. Mas pode haver mais razões para isto.

O peso e a influência dos novos influenciadores

É incontornável falarmos dos jovens youtubers que contribuiram também para a mudança de paradigma. Com milhares de subscritores em todo o mundo, estes rapazes ganham notoriedade junto das marcas que os reconhecem como seus embaixadores. Em 2016, a Cover Girl escolheu James Charles de 17 anos, então com  8,5 milhões de subscritores no YouTube, como o primeiro rapaz a ser rosto da marca e, um ano depois, seguiu-se-lhe outro, Manny Gutierrez.

Este homem de 25 anos, com 4,9 milhões de subscritores, tornou-se um dos rostos da campanha de máscara de olhos, Big Shot Mascara by Colossal da Maybelline. Mas há mais, como Jeffrey Star com 8,5 milhões de subscritores, Patrick Starrr com 4,1 milhões, Bretman Rock com 4,1 milhões ou ainda Angel Merino com 146.000. Todos eles tornaram-se nomes importantes para as marcas e, claro, para o público sedento pelas novidades de maquilhagem.

A Anastasia Beverly Hills e a Milk Makeup, marca que começou a ser comercializada em Portugal pela Sephora em meados de 2019, já incluíram homens nas suas campanhas de publicidade e, em 2017, a Asos lançou a sua primeira linha de maquilhagem específica para homem. As provas são mais que muitas e não há dúvidas. Os rótulos começam agora a ser ragados e deitados para o lixo. Os homens usam maquilhagem e que a usem com orgulho.