
"Acho que sou uma das poucas estilistas aqui. E, infelizmente, somos uma das indústrias mais nocivas para o meio ambiente", explicou em entrevista à Agência France-Presse (AFP) na passada quarta-feira em Glasgow.
Filha do ex-Beatle Paul McCartney, Stella começou há trinta anos na indústria da moda. Vegetariana, chegou disposta a não trabalhar com artigos de couro e conseguiu, apesar do ceticismo inicial dos seus colegas.
O Kelvingrove Museum and Art Gallery na cidade escocesa está a homenagear a designer com uma exposição dos materiais com os quais a sua empresa trabalha há anos. Entre eles, o micélio, extraído diretamente de fungos para substituir a pele, com o qual podem ser confeccionados sapatos ou malas.
Já o NuCycl é uma tecnologia capaz, segundo os seus criadores, de reciclar infinitamente qualquer tipo de resíduo têxtil, seja natural, como o algodão, ou artificial, como o poliéster.
"Vim aqui para mostrar o futuro da moda e para mostrar a todos que existe uma outra maneira de fazer as coisas, usando tecnologia e jovens startups", disse Stella McCartney à AFP.
Quem quer trabalhar num matadouro?
A moda é o terceiro maior setor do planeta, respondendo por entre 2% e 8% das emissões de carbono, segundo cálculos do World Resources Institute (WRI).
O grande desafio destes novos materiais é vestir biliões de pessoas, sem ter que gastar centenas de dólares num produto, como acontece com coleções como as da estilista britânica.
"É isso que espero. De qualquer forma, essa é a intenção", responde. "Definitivamente acreditamos que estas são soluções viáveis e que só precisamos atrair a atenção global", explica.
"As pessoas vestem peças tendência no máximo três vezes antes de as deitar fora. E isso significa mais de 500 biliões de dólares em desperdício. Para mim, esta é uma oportunidade de negócio", diz.
"O que estou a dizer é: deem-me essas peças de roupa desprezadas e mostrarei aqui", diz ela, apontando para a sua exposição, "como consigo fazer uma sweatshirt a partir de lixo."
Quando começou, Stella McCartney causou sensação e desconforto com um vídeo que denunciava o tratamento dos animais pela indústria do couro. Na quarta-feira, voltou a apresentar excertos desse vídeo no museu de Glasgow, silenciando o público. "Vinte e cinco anos depois, as coisas não mudaram muito", explicou.
"Temos que fazer as pessoas entenderem que centenas de milhões de animais são mortos todos os anos para a indústria da moda", denuncia. "Quem quer trabalhar num matadouro?", questiona.
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