Apesar da ausência de estrelas, "influencers" e jornalistas de moda neste evento que termina na terça-feira, alguns estilistas decidiram realizar desfiles.

É o caso do turco instalado em Londres Bora Aksu, da britânica Molly Goddard, ou da irlandesa Simone Rocha, cujos desfiles serão transmitidos no site da organização.

A maioria dos 94 estilistas participantes optou por vídeos para valorizar as suas coleções. No ano passado, milhares de pessoas compareceram para ver os designs Victoria Beckham ou Vivienne Westwood, pouco antes da pandemia chegar ao Reino Unido. Desta vez, todos podem acompanhar o evento na comodidade das suas casas.

Outra mudança é que esta Semana da Moda, celebrada até terça-feira, não é mais dedicada à moda feminina e sim ao "gender fluid". Uma tendência dominada por Harris Reed, de 24 anos, uma jovem promessa que chamou a atenção de estrelas como o cantor pop Harry Styles.

Para a sua primeira coleção após formar-se na conceituada escola Central Saint Martins, Reed apresentou na quinta-feira seis looks extravagantes, divertindo-se ao esbater a linha entre o masculino e o feminino.

Bethany Williams, uma jovem britânica de 31 anos com grande consciência ambiental, reciclou cobertores para criar coloridos casacos unisexo como parte de uma coleção exclusiva para as sofisticadas lojas Selfridges.

Mas foi o veterano da moda Paul Costelloe quem abriu o certame. Para celebrar os seus 35 anos de participação na Fashion Week de Londres, o anglo-irlandês relembrou os seus primeiros dias em Paris, no final dos anos 1960, com cores atrevidas como o laranja e o azul.

Se o formato virtual abre espaço para a criatividade e alguns aproveitam-no para revelar a sua profissão como o britânico Edward Crutchley, outros permanecem fiéis à passerelle.

O turco Bora Aksu apropriou-se do Museu de Arte londrinense Tate Britain, onde modelos desfilaram com vestidos longos adornados com bordados, silhuetas românticas inspiradas na França revolucionária e na matemática Sophie Germain (1776-1831), que lutou para encontrar o seu lugar num mundo muito masculino.

"O isolamento de Sophie permitiu-lhe encontrar as ideias que a guiariam durante o resto da sua vida. Deste modo, mostrou-me que mesmo nos momentos mais obscuros, há sempre esperança se decidirmos procurá-la", explicou Bora Aksu.

Impacto do Brexit

Victoria Beckham , a ex-Spice Girl que se tornou estilista, pptou por apresentar as suas criações poucos dias antes da Fashion Week.

Esta coleção, que mistura as temporadas, pretende ser "otimista, mas realista", explicou Victoria, que está confinada na Flórida, já que o seu marido, o jogador de futebol David Beckham, é um dos coproprietários do Inter Miami.

Apesar da pandemia, "as pessoas querem vestir-se", disse Victoria Beckham. "Mas há uma necessidade de conforto" e uma "sensação de proteção", que se reflete em algumas peças com detalhes militares.

Há também um lado alegre e delicado, com cores e motivos florais, ou peixes vermelhos.

Uma leveza que contrasta com o contexto sombrio da moda britânica, que sofreu as consequências da pandemia da covid-19, especialmente letal no Reino Unido, com mais de 118.000 mortes, e que levou a um segundo confinamento desde o início de janeiro.

A moda britânica emprega mais de 890.000 pessoas e em 2019 forneceu 39 mil milhões de euros ao PIB do Reino Unido, um valor que pode cair para 26,2 bilhões de libras, segundo prevê o BFC.

A organização teme a perda de 240.000 empregos diretos e até 350.000 incluindo os indiretos.

As consequências económicas da pandemia somam-se às do Brexit, que dificulta a circulação de pessoas e mercadorias, fundamental para esta indústria tão internacional.

No início de fevereiro, centenas de personalidades da moda, incluindo as modelos Twiggy e Yasmin Le Bon, assinaram uma carta aberta publicada pelo organismo Fashion Roundtable, alertando o governo para o risco de o setor ser "dizimado" pelo Brexit.

Para aumentar a visibilidade dos jovens talentos, o British Fashion Council (BFC), que representa esta indústria, fechou um acordo com a rede social TikTok. O BFC também fez uma parceria com a Clearpay, grupo especializado no "Buy now pay later" ("Compre agora e pague depois"), que propõe soluções de pagamento em parcelas on-line.

Este acordo tem como objetivo "continuar a desenvolver a Fashion Week, abrindo-a para uma gama mais ampla de consumidores e adaptando-a às necessidades dos criadores", explicou a CEO do BFC, Caroline Rush, em comunicado.

Entre os eventos mais esperados estava a coleção exclusivamente masculina outono/inverno 2021 da Burberry, desenhada pelo seu diretor criativo italiano Riccardo Tisci.

Em setembro, a marca britânica do emblemático 'trench coat' inovou na apresentação da sua coleção primavera/verão 2021. O seu desfile, filmado no meio da floresta, foi transmitido ao vivo pelo Twitch, uma plataforma de streaming que popularizou as transmissões de jogos online ao oferecer a possibilidade de fazer comentários em tempo real.

Este espetáculo sem precedentes acumulou um total de 118 milhões de visualizações nas diferentes plataformas em que foi transmitido.

Na segunda-feira, a Burberry apresentou-se novamente, com um espetáculo que foi visto no Twitch, no Instagram e no seu próprio site.

Caroline Rush, diretora-geral do British Fashion Council, que representa o setor, declarou recentemente que espera que o formato virtual "continue a ser um elemento chave das próximas Semanas da Moda".