
As marcas de moda podem reservar a sua sósia digital para sessões de fotos sem que precise viajar.
Uma solução que "economiza tempo", disse à AFP a manequim, que está a desfilar pessoalmente na London Fashion Week, que termina esta segunda-feira, dia 24 de fevereiro.
Na moda, a IA permite gerar visualizações em sites de comércio eletrónico ou campanhas publicitárias sob medida a um custo menor.
Embora esta tecnologia abra novas possibilidades e dê origem a novas profissões, os críticos receiam que a IA também prejudique profissionais como modelos, maquilhadores e fotógrafos, e se opõem à beleza artificial e padronizada.
"Espiral infinita de opções"
Num vídeo, modelos masculinos esculpidos flexionam os seus músculos ao lado de mulheres glamourosas, tendo como pano de fundo piscinas de mármore e espelhos dourados.
Mas nada disto é real. A campanha de Natal foi gerada inteiramente com a utilização de IA pelo estúdio Copy Lab para a marca sueca de roupas íntimas CDLP.
"Somos uma empresa pequena que não tem dinheiro para alugar uma casa em Beverly Hills", diz um dos cofundadores da empresa, Christian Larson.
De acordo com Larson, a fotografia "real" tem limitações. "Com o filme, só pode tirar um certo número de fotos, o sol põe-se, a luz desaparece e o orçamento esgota-se", disse Larson à AFP.
"Com a IA, está numa espiral infinita de opções", acrescenta.
A montagem de uma campanha publicitária envolvendo uma sessão de fotos nos Alpes franceses para óculos de ski normalmente levaria vários meses e poderia custar 30.000 euros, mas pode ser feita virtualmente por apenas 500 euros em poucos dias, disse Artem Kupriyanenko, citando uma campanha realizada pela sua empresa de tecnologia Genera.
A Genera, com sede em Londres e Lisboa, tem um catálogo de 500 modelos gerados por IA, dos quais alega possuir os direitos autorais.
Os avatares podem ser personalizados pelos clientes. "Podemos criar qualquer formato de corpo, qualquer género, qualquer etnia", diz Keiron Birch, ex-funcionário da Calvin Klein e atual diretor de arte da Genera.
A Inteligência Artificial tende a criar um tipo de rosto distinto, que difere de gerador para gerador, diz Carl-Axel Wahlstrom, cofundador do Copy Lab, um "estúdio criativo de IA" com sede em Estocolmo.
O MidJourney, por exemplo, tem uma tendência a gerar modelos com lábios mais preenchidos.
As modelos são incluídas em bancos de imagens, muitas vezes retocadas, refletindo uma estética "branca e ocidental", explica Carl-Axel Wahlström, cofundador do Copy Lab.
Para obter resultados menos genéricos, o ex-consultor de publicidade refina as descrições que fornece aos mecanismos de inteligência artificial.
Controlo do uso da IA
Alexsandrah Gondora lamenta que "algumas marcas usem imagens criadas a partir de bancos de dados extraídos da Internet e não necessitem de pagar um modelo". Outras poderiam praticamente duplicar os melhores manequins sem o conhecimento dos mesmos.
A Fashion Workers Act (Lei dos Trabalhadores da Moda), que entrará em vigor dentro de alguns meses, visa abordar estas situações, permitindo que os modelos controlem o uso de IA na reprodução da sua imagem. Mas a aplicação prática parece complicada.
Alexsandrah Gondora é paga pelos serviços do seu alter ego digital e tem a palavra final sobre o resultado.
O mesmo acontece quando ajuda a dar vida a Shudu Gram, uma top model negra gerada por IA. O personagem virtual, criado em 2017 e anunciado como a "primeira supermodelo digital do mundo", é seguido por 237.000 contas no Instagram.
Alexsandrah Gondora e outras modelos emprestam as suas características em diferentes ocasiões.
Shudu, por exemplo, apareceu na capa da revista Vogue australiana, “interpretada” por Alexsandrah Gondora.
Usada de forma ética, a IA não priva modelos de diversas origens de oportunidades, diz a londrina, que até afirma que a tecnologia "abriu algumas portas" para si.
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