Desde muito cedo que Ana Rita Pinto demostrou ter um espírito empreendedor. Aos 6 anos já fazia colares de missangas que posteriormente vendia às vizinhas na vila de Odemira, no Alentejo, onde residia com a família. Daí até lançar o seu próprio negócio passaram-se quase duas décadas. A ideia para a Gapi World surgiu durante a fase da adolescência e nasceu da vontade de reaproveitar uma camisa floral que já não tinha utilidade. “Adorava o padrão, mas nunca a usava. Recorri à minha avó, a pessoa de quem herdei a minha veia empreendedora, e pedi-lhe que me ajudasse a transformar aquela camisa num elástico para o cabelo. A minha avó, sem nunca o ter feito, aceitou o desafio e fez – não só um, mas vários iguais. Rapidamente o usei e mostrei às minhas amigas, que me incentivaram a fazer mais cores, mais padrões e, claro, a vender”, conta Ana Rita Pinto em entrevista ao SAPO Lifestyle sobre este projeto que tão depressa ganhou forma e clientes como ficou em standby com a sua entrada na faculdade.
Coincidências das coincidências foi em Lisboa, onde estudou Relações Públicas e Comunicação Empresarial, que conheceu aquele que viria a ser o seu braço direito no relançamento do seu projeto de sonho, André Campos. “Foi numa das nossas viagens de carro de Lisboa a Odemira que a Rita me falou da Gapi e logo fiquei entusiasmado porque percebi o enorme potencial”, recorda o jovem de 23 anos sobre o projeto da namorada. Em 2019 os espíritos empreendedores do casal juntaram-se para relançar, praticamente do zero, esta marca especializada nos famosos elásticos de cabelo dos anos 1980, os scrunchies.
“O que me fez pensar que a produção scrunchies tinha muito potencial foi o facto de haver tantas possibilidades - padrões, cores, tipos de tecido –, e ainda ser um acessório usado diariamente e em tantas situações – no dia a dia, no trabalho, para o exercício físico... E numa breve pesquisa percebi que havia muito pouca diversidade nas grandes lojas. Sabia que conseguia fazer algo que fizesse a diferença”, refere a fundadora sobre este projeto.
Mas relançar a Gapi requereu muito mais do que a vontade de Ana Rita e André. Para isso contaram com a ajuda dos avós da jovem de Odemira que, numa fase inicial, eram quem executavam todas as coleções da marca feitas de forma totalmente artesanal e em casa. O Sr. José Maria cortava os tecidos e a Sra. Inácia fazia toda a produção numa máquina de costura centenária. “Quando acabei a licenciatura, em 2020, decidi dedicar-me à costura. Com a ajuda da minha avó, rapidamente apanhei o jeito. Atualmente já tenho uma máquina de costura própria e o meu atelier para trabalhar, mas a minha avó está sempre pronta para ajudar – pergunta-me sempre se não quero que ela costure uns quantos, adora!”, conta.
Sejam lisos, às riscas, de xadrez ou com padrões inspirados em séries de sucesso, como Harry Potter, How I Met Your Mother e Stranger Things, não existem limites para a criatividade da Gapi que desde o início procurou ter produtos únicos. Mas onde é que a dupla vai buscar inspiração para as suas coleções? “O processo criativo acontece muito espontaneamente e nas mais pequenas coisas”, refere André sobre essa etapa que também inclui a escolha dos padrões para os scrunchies.
Cães, gatos e até donuts são alguns dos motivos que podem ser encontrados na loja online da marca. “São feitos por designers que fazem as alterações que pretendemos até chegar ao padrão perfeito, ao que idealizámos. Do desenho passa para o tecido e transformamos o tecido em scrunchies – e todos estes padrões têm uma autorização legal disponibilizada por quem os desenha”, explica Ana Rita que, no espaço de dois anos, já conta com um catálogo de 80 padrões e diferentes texturas, como a malha, o cetim ou o veludo. Buddy, Crystal Bordeaux e a edição especial Morocco estão entre os seus bestsellers.
A proximidade com o cliente é, sem dúvida, um dos pontos fortes da Gapi. Ao contrário de outras marcas, a dupla procura não só criar conteúdo inspiracional para os seguidores em diferentes plataformas – como jogos, quizzes, desafios e sugestões de séries e filmes - como ainda envolvê-lo na criação dos seus produtos e futuras coleções. “Estamos constantemente a receber sugestões, pedidos, perguntas. Todas as mensagens que recebemos são tidas em conta para futuros lançamentos. Valorizamos muito quem nos procura e fala connosco.”
A sustentabilidade ambiental é outro dos seus pilares. A Gapi orgulha-se em ser uma empresa livre de plástico e onde todas as encomendas chegam às mãos dos clientes num saco de flanela ou numa caixa biodegradável e reciclável que, graças aos seus diferentes designs, pode ser utilizada para outros fins. Tal como explica André, uma lógica que se aplica no reaproveitamento de tecidos sem utilidade, não tivesse sido este o ponto de partida para o nascimento da Gapi. “Alguns são reaproveitados de peças que já não são usadas e, desta forma, há scrunchies que não têm restock, mesmo que queiramos, o que acaba por torná-los mais especiais e one time only – como é o caso dos Blue Amelia, que antes de serem scrunchies eram um vestido nunca usado.”
Se o confinamento foi, para muitas empresas, uma época extremamente difícil, a Gapi aproveitou esse período para se reinventar: com as presenças em feiras suspensas, a dupla decidiu parar as vendas online, focar-se na criação de conteúdo online e mudar o packaging dos seus produtos. Para além disso aproveitou ainda para lançar um desafio aos seguidores através das redes sociais: dar-lhes a oportunidade de darem largas à imaginação e criarem o seu scrunchie de sonho. O próximo passo foi apostar na comercialização de alguns deles.
“Através do desenho, têm a liberdade de fazer padrões e de personalizar. Damos a possibilidade de alterar os scrunchies que fazem parte dos Packs disponíveis “Faça o seu pack” e até já realizamos sondagens para escolherem vários dos nomes dos nossos scrunchies, como é o caso do Blossom”, diz André sobre este serviço de personalização que será algo a considerar futuramente.
Para além de ter expandido o seu leque de produtos para bandoletes, bijuteria e ainda uma linha de elásticos para crianças, os fundadores da Gapi ainda têm muitos desejos e sonhos por realizar. A presença em feiras de artesanato, onde podem voltar a estar perto do público, e apostar numa coleção de swimwear são alguns deles. “Gostávamos muito de ter um espaço físico e, quem sabe, uma expansão para biquínis dentro da mesma linha dos scrunchies”, conclui Ana Rita.
Feito em Portugal é uma rubrica em que se dá a conhecer marcas portuguesas.
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