Todos, desde jovens designers da vanguarda até grandes marcas, estão a entrar nesta onda, como é o caso de ténis com solas feitas de garrafas de plástico recicladas que já estão a vender milhões de unidades.

Somente no ano passado, a Adidas vendeu um milhão de ténis Parley - um modelo feito de plástico pescado no oceano - e a gigante desportiva alemã está a aumentar a produção de uma variedade de produtos igualmente reciclados.

Na quarta-feira, Yolanda Zobel, a nova designer da marca futurista francesa Courreges, fez o "impensável" e anunciou que estava a eliminar o vinil que tem sido o símbolo da empresa desde os anos 1960.

Depois de uma coleção cápsula final chamada "Fin de Plastique" (O Fim do Plástico) que reduzirá os seu stock de vinil, a alemã tentará fabricar versões sustentáveis ​​ou recicladas do material brilhante.

"Não é possível um mundo melhor se não tomarmos medidas hoje", disse Zobel.

As atitudes em relação à moda ecológica "mudaram totalmente nos últimos anos", disse Marina Coutelan, que ajuda a administrar a Premiere Vision, uma feira semestral extremamente influente em Paris, onde as pessoas que agitam a indústria da moda se reúnem em busca de novos materiais e ideias.

Millennials promovem a mudança

Com os millennials (nascidos entre 1980 e 2000) a começar a ditar as regras na indústria da moda, "estamos a ver muitos produtos da moda feitos com materiais sustentáveis, ​​porque eles cresceram com a ideia de que precisamos ser ecorresponsáveis" disse Coutelan à Agência France-Presse (AFP).

Um exemplo são as estrelas em ascensão Rushemy Botter e Lisi Herrebrugh, a dupla holandesa que acaba de ser contratada para assumir a maison Nina Ricci Paris.

"Sempre se falou na moda sustentável", disse Herrebrugh, de 28 anos. "Agora é algo que podemos ver".

A sua própria marca Botter fabrica chapéus, cachecóis e casacos de sacos de plástico reciclado e garrafas encontradas no mar - uma causa cara a Botter, que nasceu na ilha caribenha de Curaçao.

As cadeias de lojas podem ainda ser obcecadas com a moda rápida e descartável, mas as marcas de luxo estão a liderar o caminho na tentativa de repensar o negócio, disse Coutelan.

Ela refere a gigante francesa Kering, que é dona da Gucci, Saint Laurent, Balenciaga e Alexander McQueen, entre outras, como uma das pioneiras da sustentabilidade.

O segundo maior poluidor

A marca "reduziu o seu impacto ambiental em um quarto e espera reduzi-lo em 40% até 2025", disse.

Mesmo assim, a moda ainda é, segundo algumas medidas, a segunda indústria mais poluidora do mundo.

Até recentemente, Kering possuía uma participação de 50% da Stella McCartney, a marca que mais rompeu barreiras éticas e ambientais, recusando-se a usar peles, couro ou penas.

A designer britânica usa lã reciclada e poliéster feito de garrafas de água, e pretende parar de usar nylon "virgem" dentro de dois anos e poliéster novo em 2025.

Os convites para o seu desfile da Semana da moda de Paris na segunda-feira proclamam que "o verde é o novo preto" e apresentam um novo desenho animado no qual aparece com o personagem Minnie The Minx numa história que exalta as virtudes da caxemira reutilizada.

McCartney disse à AFP que gostaria de avançar de forma mais rápida, mas "a tecnologia de que precisamos para chegar a esse nível ainda não está disponível de maneira sustentável e circular".

Os ativistas dizem que existem várias maneiras de fazer roupas sustentáveis. A jovem designer francesa Marine Serre é, muitas vezes, uma recicladora brilhante - transformando, por exemplo, colchas velhas em vestidos de noite, desfilados na Semana da Moda de Paris esta terça-feira.

Enquanto isso, a canadiana Marie-Eve Lecavalier ganhou fama com malhas de pele feitas de sobras de extremidades rejeitadas por marcas de luxo.

"Dá muito trabalho, mas o resultado é ótimo. Na América do Norte, as pessoas desperdiçam muito. Precisamos de encontrar outro caminho", disse à AFP.

Com o processo do curtimento a tornar-se num dos negócios mais sujos do mundo, alternativas ao couro como o Pinatex, feito das fibras das folhas de abacaxi, mas igualmente maleável e forte, estão a ganhar terreno.

A Hugo Boss já fabricou ténis com o material, que está a ser comercializado pela empresa britânica Ananas Anam, que trabalha com cooperativas de agricultores nas Filipinas.

O grupo alemão Wet Green desenvolveu uma linha potencialmente revolucionária chamada Olivenleder, de couros biodegradáveis curtidos com um agente feito de fibras de azeitona. São tão seguros que "pode até podemos comê-los", brincou o porta-voz Thomas Lamparter.

Para Chantal Malingrey, da Premiere Vision, a moda totalmente sustentável "ainda não é a norma". Mas tal é o ritmo da inovação, diz ela, que a tendência é "irreversível".