Sejal Desai não perde tempo. «Se pretende ser bela no exterior, saiba que agora já pode ser linda no seu interior também», pode ler-se no site desta cirurgiã plástica indiana, que tem uma das paredes do seu consultório no Hospital Sarla em Santacruz, um dos suburbios de Bombaim, forrada com fotografias de órgãos sexuais femininos. Todas elas têm etiquetas. Umas têm escrito «Antes» e outras «Depois».
Há já quem lhe chame «designer de vaginas». Um título que não menospreza, apesar de preferir o de «primeira cirurgiã estética de vaginas da Índia». Realizar cirurgias complicadas para unir o clitóris e/ou remover ou aparar os lábios vaginais para embelezar o órgão sexual feminino é uma das tarefas que leva a cabo numa sociedade onde os assuntos mais íntimos e pessoais continuam a ser tabu.
Ainda assim, apesar da timidez inata que muitos associam às mulheres indianas, o número de procedimentos para embelezar e para «apertar vaginas», como Sejal Desai lhe chama, «para aumentar a excitação sexual e o prazer e/ou para corrigir os problemas de flacidez e rugas decorrentes da passagem do tempo, que exigem um levantamento e um preenchimento», não para de aumentar.
O look de Barbie na área genital que muitas mulheres pedem
Surpreendida com a adesão crescente, a cirurgiã plástica tem também ficado admirada com os pedidos, sobretudo de mulheres que lhe pedem «um look de Barbie», uma das requisições mais comuns. «Um look de Barbie é uma vagina igual à de uma bebé recém-nascida», esclarece Sejal Desai. Ainda há uma década, a cirurgia plástica genital na Índia não ia além da himenoplastia, a intervenção de reconstrução do hímen.
Nos últimos anos, a situação inverteu-se, com muitos especialistas a criar pacotes de rejuvenescimento vaginal e novas clínicas de medicina estética a multiplicar-se como cogumelos. Um crescimento que preocupa a comunidade médica e científica internacional e que nem o facto de ainda não existir validação científica que comprove que este tipo de cirurgia melhora efetivamente as funções sexuais demove as mulheres.
Algumas chegam mesmo a receber uma cirurgia deste tipo como presente de aniversário. «Muitas das mulheres que as fazem são influenciadas pelos parceiros», assegura Varun Dixit. Este cirurgião plástico já embelezou a vagina de uma mulher que achava que, desta forma, «ia conseguir salvar o casamento, que estava em crise», revela. «Entre 20% a 25% das expetativas em torno destes procedimentos é irrealista», critica.
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Adolescentes indianas também estão a recorrer à cirurgia
Fora das grandes cidades e nas camadas mais jovens, as cirurgias vaginais também estão a ganhar terreno. «As adolescentes são, por vezes, inseguros e deixam-se influenciar facilmente», justifica a socióloga indiana Nandini Sardesai, uma das principais críticas deste tipo de procedimentos. «As mulheres não o deveriam fazer. Para mim, é um absurdo», afirmou já publicamente, em declarações à publicação Quartz India.
Muitos especialistas internacionais, sobretudo nos EUA e no Canadá, concordam, assim como muitos afetos ao Royal College of Obstetricians and Gynaecologists. «Os clínicos a oferecer serviços de cirurgia cosmética vaginal têm de estar cientes que estão a operar sem que existam provas claras e evidentes [de que essa que melhore mesmo a autoimagem das mulheres]», refere um artigo de opinião deste organismo.
O American Congress of Obstetricians and Gynaecologists e especialistas da Austrália e da Nova Zelândia também já vieram a público alertar para o problema, que pode implicar «complicações potenciais, incluindo infeções, alteração de sensações, dispareunia (dor durante as relações sexuais), aderências pélvicas e cicatrizes». O assunto é discutido em outubro, em Gurugram, na Índia, naquele que será o primeiro congresso mundial de cirurgia cosmética genital e reconstrutiva.
Texto: Luis Batista Gonçalves
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