Mais do que um gesto de beleza, ter pés cuidados é sinal de saúde. Para cada problema, conheça a solução. Apoiam-na durante o ano inteiro, mas é no verão que todos os olhos se fixam neles.

Referimo-nos aos pés, a zona do corpo que ganha protagonismo nos dias quentes. Uma ida à pedicura e a aplicação de um verniz colorido pode fazer muito pela beleza do par, mas se os pés não estiverem saudáveis, os cuidados estéticos danificam mais do que embelezam.

«A remoção das cutículas são uma porta de entrada para infeções nas unhas. Por outro lado, a aplicação de verniz de cor para disfarçar um problema já instalado, como a onicomicose, só piora a situação pois impede a lâmina ungueal de oxigenar e arejar», enumera a podologista Joana Azevedo. Problema a problema, conheça a melhor forma de manter os seus pés bonitos e saudáveis durante todo o ano.

Calos e calosidades

São um mecanismo natural de defesa da pele contra a pressão ou fricção excessiva. Resultam do espessamento da pele junto das articulações ou do osso (calo) ou na planta ou zonas laterais do pé (calosidade). Ambos os casos têm solução. Para os prevenir, escolha o calçado certo. «A sola deve ser flexível, mas não muito mole para evitar movimentos de torção do pé. A frente deve ser ampla e a largura de tacão não deve ser inferior a dois centímetros. A altura do salto deve rondar os dois a quatro centímetros», refere a especialista.

Em casa, o uso de esfoliantes e sais de banho para pés ou pedra pomes mantêm a saúde cutânea desta zona. «Para recuperar a hidratação, deve usar diariamente um creme emoliente/ queratolítico à base de ureia, ácido salicílico, AHA, entre outros. No entanto, os princípios ativos devem ser adequados «ao estado de desidratação/secura da pele ou ao tipo de calosidade para não a agredir. Por isso, é aconselhável informar-se com um podologista», refere.

Em ambos os casos, a intervenção de um podologista é sempre necessária. «Para além de eliminar o calo, o especialista pode colocar ortóteses digitais (em silicone) e ortóteses plantares (palmilhas), para evitar o reaparecimento destas patologias», adverte a especialista. «Não remova as calosidades com o uso de limas ou outros utensílios que agridem a pele. Nem molhe a pele para retirar a calosidade. Quanto mais pele retira mais calosidade aparece», afirma ainda.

Transpiração excessiva (hiperidrose)

«A sua causa pode ser primária, associada a uma hiperatividade do sistema nervoso simpático (que aumenta perante fatores como stresse, ansiedade ou situações de maior emoção) ou secundária, relacionada com outras patologias, nomeadamente neuropatias periféricas, Parkinson. Quando a produção excessiva provoca mau cheiro estamos perante uma bromidose, que se deve à libertação de toxinas e se deve a fatores ambientais, hormonais, genéticos, hábitos alimentares e de higiene», explica Joana Azevedo.

Manter o pé seco, arejado e longe de microorganismos são três regras de prevenção essenciais. «Prefira calçado amplo, confortável e de materiais naturais como o couro. Alterne diariamente o calçado, seque bem os pés, sobretudo entre os dedos, e use meias de fibras naturais que absorvam a humidade», aconselha a especialista. Em casa, existem muitos produtos para combater o problema.

«Desodorisantes para pés, sabonetes, loções de lavagem que combatem o excesso de humidade, pós que mantêm o calçado seco, sais oxigenativos que promovem a desinfeção da pele a aparelhos de esterilização que permitem a higiene e desinfeção do calçado», enumera a podologista. Troque de meias mais do que uma vez por dia para manter o pé seco e prefira usar calçado aberto e arejado. «Deve procurar ajuda sempre que não é possível combater ou solucionar o problema com um desodorizante adequado para pés, consulte um podologista para obter uma solução mais adequada», aconselha Joana Azevedo.

Pé de atleta

É uma dermatomicose comum em desportistas, mas pode afetar qualquer pessoa. Forma-se na zona interdigital e pode originar prurido, dor, descamação, fissuras, inflamação. É provocada por fungos que proliferam em ambientes húmidos e quentes, daí ser comum o contágio em balneários, piscinas ou ginásios. Para além do desconforto e odor desagradável, «se não for tratada pode afetar as unhas (onicomicose)», alerta Joana Azevedo.

Evite andar descalça em locais públicos ou partilhar meias e sapatos. Siga uma higiene rigorosa, «lavando os pés diariamente com sabonete neutro e secando-os bem, principalmente entre os dedos, sem esfregar ou irritar a pele». Deve, ainda, observar diariamente os pés para detetar alterações da pele e unhas». Alterne o uso dos sapatos, prefira meias defibras naturais e troque-as todos os dias.

Este problema deve ser sempre tratado por um especialista. «Se observa algum dos sinais ou sintomas apresentados, provavelmente tem pé de atleta e deve tratá-lo rapidamente. Um podologista saberá indicar-lhe qual o melhor tratamento a seguir», aconselha Joana Azevedo.

Micose das unhas (onicomicose)

É provocada por fungos que alteram a estrutura e aparência da unha, deixando-a mais «grossa, envelhecida, com coloração diferente, esbranquiçada ou amarelada. Com o avançar da patologia é frequente a unha encravar, bem como o crescente engrossamento da unha dificultar o uso de sapatos fechados», explica. Para prevenir, siga as regras de higiene dos pés, alterne calçado e meias diariamente e não ande descalça em locais públicos. «Evite usar calçado justo ou apertado, pois promove microtraumatismos de repetição nas unhas que servem de porta de entrada para fungos», destaca ainda.

Este problema requer sempre a consulta a um especialista, podologista ou podiatra. As opções de tratamento englobam «o rebaixamento da unha e procedimentos de limpeza e reeducação ungueal, fundamental para garantir o correto crescimento da unha sem que encrave ou perca o seu trajeto e configuração normais. Pode, ainda, ser indicado um tratamento de prevenção de fungos, como sprays desinfetantes em atletas que frequentam regularmente balneários ou um creme, gel, mousse ou spray anti-microbiano em pacientes de risco como diabéticos».

Unha encravada

«Regra geral afeta o primeiro dedo do pé. A principal razão está no corte das unhas muito curtas ou com cantos arredondados, mas quem sofre de transpiração e traumatismos, como os desportistas, é também um alvo fácil. O uso de calçado apertado também pode estar na base do problema», refere. Para prevenir este problema, substitua o corta-unhas por um alicate de lâminas retas. Corte-as a direito, mantendo os cantos visíveis. Faça-o após o banho quando estão mais suaves.

«Este problema deve ser sempre tratado por um profissional. O tratamento passa pela remoção da parte da unha que está encravada na pele, desinfecção e assepsia do local. Se houver infecção (granuloma) poderá ser necessário a aplicação ou toma de um antibiótico ou anti-inflamatório. Casos mais complexos podem exigir a correção cirúrgica da unha», explica.

Joanete (Hallux Valgus)

Resulta de uma alteração biomecânica do pé, associada ao desvio do primeiro dedo e que leva a uma deformação óssea nessa zona, provocando dor e desconforto. «O uso de calçado inadequado é uma das principais causas. Quando não é o fator desencadeante é coadjuvante», explica a podologista. «O uso de calçado amplo evita o desvio e deformação permanente dos dedos», recomenda.

«Também ajuda o uso de ortóteses digitais (separadores do primeiro dedo) e de ortóteses plantares (palmilhas), que evitam a má posição dos dedos e do pé e compensam a alteração biomecânica (como pé plano) que favorece o joanete», recomenda ainda. Na opinião de Joana Azevedo, é importante consultar um podologista, «sempre que se pretende prevenir a evolução de um joanete ou sempre que existe uma alteração biomecânica do pé».

Pé diabético

Pouca sensibilidade, má cicatrização e propensão para infeções são os traços que definem este problema. A diabetes afeta o sistema nervoso, gerando perda de sensibilidade nos pés, secura cutânea e maior propensão para lesões e fissuras. A dificuldade de perceção e de cicatrização podem agravá-las e levar à necessidade de amputação do membro. Observe diariamente os pés (planta, calcanhar, espaços entre os dedos), na procura de zonas de cor diferente, bolhas, fissuras, calosidades ou inchaço.

Faça uma avaliação médica anual e procure o especialista sempre que uma lesão se mantém por mais de três dias. No que se refere a cuidados diários, lave os pés diariamente, com sabonete neutro e água tépida. Seque-os muito bem, em especial entre os dedos. Aplique um hidratante na planta e no dorso. Use calçado confortável, de forma a que não haja fricção ou pressão excessiva nos pés. Os sapatos fechados (sempre com meias) protegem mais do impacto e da sujidade.

Pele seca

A pele seca pode gerar fissuras. Ocorrem principalmente em situações de «secura extrema, desidratação Da pele e hiperpressão», explica Joana Azevedo. Podem provocar dor e dificuldade ao calçar ou caminhar. «A prevenção da pele seca é o melhor tratamento. Para tal deve apostar em cremes adequados, esfoliantes e visitas regulares ao podologista até que a situação seja ultrapassada», defende.

Em casa, hidrate a pele diariamente com produtos queratolíticos e faça uma esfoliação nessa zona periodicamente. Evite andar descalça ou com calçado que promova o desgaste do calcanhar como os chinelos. «Sempre que a patologia persiste deve recorrer a um podologista para que seja feito o tratamento mecânico da zona afetada e recomendado o queratolítico adequado», sugere ainda a especialista.

Pés bonitos e saudáveis em apenas três passos

1. Limpar

Lave os pés todos os dias, durante dois ou três minutos, com sabonete neutro e água tépida. Não os ponha de molho com muita frequência. Seque-os bem sem esfregar e aplique um hidratante com uma massagem.

2. Cortar e limar

Unhas redondas e muito curtas não ficam bem nem fazem bem. Corte-as a direito com um alicate de pontas retas. Use uma lima de cartão para desgastar as unhas, movimentando-a em linha reta de um lado para o outro.

3. Mimar

Certifique-se de que tem as unhas saudáveis, limpas, hidratadas e secas antes de aplicar o verniz. Não o use para camuflar lesões que podem agravar-se sem tratamento. Não remova as cutículas, pois deixa a unha mais vulnerável a infeções.

Texto: Manuela Vasconcelos com Joana Azevedo (podologista)