Saber que temos relações sexuais com a mesma frequência e com a mesma qualidade do que os outros casais e que inovamos dentro do que é considerado normal, permite-nos, pensamos nós, ficar em paz com a nossa própria sexualidade. Mas os especialistas sabem que não é assim. "Em sexualidade, nunca deveríamos utilizar a palavra normal", refere a sexóloga Marta Crawford, autora de livros como "Viver o sexo com prazer", publicado pela editora A Esfera dos Livros.
"O que é bom para uma pessoa não terá de o ser para outra e as estatísticas, muitas vezes, não fazem mais do que promover inseguranças", acrescenta ainda a especialista, que também escreveu "Sexo sem Tabus" e "Diário sexual e conjugal de um casal". Aos pacientes que surgem com dúvidas sobre a normalidade da sua vida sexual nas suas consultas, a especialista responde, caso a caso. Descubra, de seguida, algumas das situações que suscitam mais dúvidas aos casais.
1. Só atinjo o orgasmo através da estimulação do clítoris
"É perfeitamente normal, mas continua a existir o mito de que um orgasmo provocado pela estimulação do clítoris é um orgasmo de segunda e que, se a mulher não o consegue através da penetração algo está a funcionar mal. É verdade que durante muito tempo se distinguiu o orgasmo vaginal do clitoriano, dizendo que o primeiro era o das mulheres maduras, enquanto as imaturas só o conseguiam através do clítoris. Mas esta é uma crença ultrapassada", assegura.
2. Nunca tenho vontade de fazer sexo
"Esta situação pode dever-se a uma de duas situações. Ou estamos perante uma pessoa assexuada ou de alguém cujo desejo é hipoativo. No primeiro caso, trata-se de uma pessoa que não tem nenhum tipo de desejo sexual, o que para ela não é um problema. No caso de desejo hipoativo, significa que se está aquém do que é expectável, o que poderá estar relacionado com vários aspetos da relação ou de condicionamentos da vida em geral", refere a sexóloga.
"Neste caso, o ideal será procurar um profissional para tentar perceber o que se está a passar", recomenda Marta Crawford. "É importante sublinhar que a pressão do parceiro é um fator muito negativo nas situações em que há falta de desejo, seja essa falta de desejo masculina ou feminina", esclarece a especialista portuguesa. O ideal é nunca forçar qualquer tipo de intimidade, um erro. "Se o parceiro pressiona, a situação piora", adverte ainda Marta Crawford.
3. Só fazemos sexo uma vez por mês
"Se os dois membros do casal estão confortáveis com essa frequência, pode considerar-se algo normal. Se um deles não está, temos de tentar perceber porque é que isso acontece", começa por defender a sexóloga. "A ideia de que um casal dever ter sexo diariamente ou até mesmo duas ou três vezes por semana está longe da realidade", comenta Marta Crawford. A realidade e os números confirmam esta tese. São muitos os estudos científicos internacionais que o atestam.
4. Preciso de fantasiar para me excitar
"Isto pode acontecer por várias razões. Às vezes, o outro não é suficientemente estimulante e torna-se necessário recorrer a pensamentos que promovam a excitação necessária", opina a sexóloga. "Noutros casos, pode dever-se a um hábito pessoal adquirido ao longo do tempo", sublinha ainda Marta Crawford. "Seja como for, a fantasia é um bom instrumento para a sexualidade", afirma a especialista. No mundo, são inúmeros o que subscrevem esta teoria.
5. Só atinjo o orgasmo na posição de missionário
"É uma posição que promove o envolvimento e o contacto entre os parceiros, daí poder ser a preferida de muitas pessoas. O único inconveniente, se assim se pode chamar, em cingir-se a esta posição, é ficar-se limitado em termos de experiência", começa por advertir a terapeuta sexual, um conselho que repete nas consultas que dá. "Mas se resulta, seja por uma questão de encaixe ou conforto, não há nada de anormal em preferi-la", refere, todavia, Marta Crawford.
6. Sou casado mas masturbo-me
"Isso é normal e bom", garante a sexóloga. "Antigamente, considerava-se que se um casal tinha uma boa relação não havia lugar para a masturbação, que só se justificava em solteiros e tarados. Atualmente, isso já não acontece", assegura. "Contudo, nos casos em que um dos elementos do casal prefere a masturbação à relação a dois, deixa de ser normal e cria-se um problema no casal", alerta. Apesar do mito, as mulheres masturbam-se tanto quanto os homens.
Texto: Paula Barroso com Marta Crawford (sexóloga e terapeuta do casal)
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