Agora já podemos ver, ouvir e tocar/sentir o nosso parceiro, através de uma ligação sem fios. As redes sociais e as aplicações de encontros mudaram a forma como as pessoas se comportam sexualmente. Hoje exploramos a nossa sexualidade com maior liberdade e mais abertura do que em qualquer outra época da história. Mais até do que nos anos de 1960, década da revolução sexual.

O que não significa que as pessoas tenham mais sexo hoje, simplesmente têm acesso a mais estímulos que dão prazer sexual e que nem sempre requerem a participação de terceiros. Atualmente, tudo está à distância de um clique. Seja ver filmes pornográficos, comprar literatura erótica, encomendar brinquedos sexuais, praticar sexting...

Mas o que irá transformar, talvez irreversivelmente, a forma como fazemos sexo, são os teledildonics e os dispositivos de realidade virtual, desenvolvidos para realizar as fantasias mais rebuscadas e satisfazer todas as necessidades sexuais dos consumidores. Estas ferramentas, juntamente com as redes sociais e as webcams, permitem-nos ver, ouvir, tocar/sentir o nosso parceiro através da internet.

A evolução vertiginosa

Em menos de vinte anos, o mundo ficou ligado em rede e milhares de milhões de pessoas têm acesso a computadores, smartphones e tablets. Os criadores destas tecnologias dizem que nos aproximaram uns dos outros, porque é possível comunicar com alguém que está no outro lado do mundo em tempo real. Contudo, muitas vozes, nomeadamente de sociólogos e psicólogos, têm alertado para o efeito isolador destas tecnologias.

A internet e outras ferramentas abriram-nos o mundo e, para algumas pessoas, isso é mais valioso do que socializar com a família e os amigos num espaço comum (que não o ciberespaço). Tudo isto alterou a forma como nos relacionamos e, por conseguinte, afetou as relações amorosas, ou seja, mudou a forma como encontramos alguém e as estratégias que temos de adotar para manter ‘a chama acesa’.

Um maior leque de opções

As redes sociais, como o Facebook, lançado em 2004, deram-nos um vislumbre do que viria a seguir. Passamos a ter acesso às fotografias dos nossos amigos, o que nos possibilita avaliar se estão mais ou menos atraentes, também passamos a saber se têm namorada(o) ou não, como é a sua vida social e por aí fora... Dados importantes para quem quer dar o passo seguinte. Acontece que nem todos os indivíduos encontram um potencial parceiro no seu círculo de amizades, pelo que foi necessário alargar a rede.

Foi assim que surgiram os primeiros sites de encontros, como o Match.com. Depois, seguiram-se as plataformas onde os indivíduos se procuram explicitamente para terem sexo, como a Ashley Madison. Quase em simultâneo, foram lançadas as aplicações Tinder e Happn, que trouxeram uma enorme flexibilidade ao nosso comportamento sexual.

Passámos a ter acesso a contactos de desconhecidos com quem nos cruzamos ou que estejam num raio de um determinado número de quilómetros. Todavia, o ser humano é insatisfeito por natureza. Já não basta trocar mensagens eróticas e fotografar-se nua para depois partilhar com o seu parceiro. Agora, isso são apenas os preliminares.

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O terceiro sentido

Como é que duas pessoas podem ter sexo penetrativo estando em países diferentes, perguntar-se-à? A resposta são os teledildonics, brinquedos sexuais criados para duas pessoas se satisfazerem mutuamente. «Só precisam de um computador ou smartphone, dos dois aparelhos e de uma ligação Bluetooth», explica Toon Timmermans, CEO da Kiiroo.

Esta empresa holandesa tem-se focado no apuramento da tecnologia háptica, que possibilita a sensação de toque e movimento entre os utilizadores. A cereja no topo do bolo é que os teledildonics são interligados através de uma videochamada, o que, do ponto de vista de Vânia Beliz, torna a experiência muito mais completa.

«Ver o outro é extremamente importante para a relação», declara a sexóloga e autora do livro «Ponto Quê?», publicado pela editora Objectiva. A grande conclusão é só uma. Neste momento, existem já tecnologias que viabilizam os relacionamentos à distância, graças aos três sentidos: audição, visão e tato.

Os prós e os contras do cibersexo em 3D

Por um lado, os teledildonics são uma tecnologia positiva para os que vivem em diferentes zonas do país ou que residem noutro país. Por outro lado, brevemente assistiremos ao lançamento das primeiras redes sociais para indivíduos que tenham teledildonics, como o LovePalz Club, que vêm facilitar ainda mais o sexo casual entre desconhecidos. Basta um usuário permitir que outro controle remotamente o seu brinquedo sexual.

«A ideia é dar a oportunidade de conhecer pessoas novas e os teledildonics acrescentariam uma terceira dimensão à interacção», avança Toon Timmermans, que está aberto à ideia de estabelecer parcerias com redes sociais existentes. As vantagens são óbvias. Além da satisfação sexual imediata, os teledildonics evitam a transmissão de doenças venéreas e previnem gravidezes indesejadas.

Já as desvantagens, estão relacionadas com o equilíbrio psicológico dos indivíduos. «O prazer associado ao sexo também vicia», ressalva a sexóloga Vânia Beliz. Veja também o novo paradigma sexual que (já) começa a ganhar forma e saiba por que razão o bondage e o sadomasoquismo libertam a mente.

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A experiência de imersão total

Mais viciante ainda será a combinação dos teledildonics com os aparelhos de realidade virtual, como os Oculus Rift ou o Gear VR da Samsung. Porquê? Qualquer pessoa que tenha acesso a estas tecnologias e a conteúdos eróticos poderá ver, ouvir e sentir os movimentos e toque de atores pornográficos. A Kiiroo associou-se a sites como o Feelporna.com, para sincronizar os seus brinquedos sexuais com os filmes deles.

Na prática, proporcionam uma experiência de sexo interativo com estrelas da indústria porno. «Estamos a estabelecer uma relação com uma personagem virtual que responde às nossas necessidades, que nos permite realizar fantasias de forma egoísta», critica Vânia Beliz. Uma consequência disto é que dentro de pouco tempo as pessoas deixem de usar a sua imaginação para se autoestimularem, visto que a tendência são os conteúdos produzidos para dispositivos de realidade virtual refletirem todo o tipo de fantasias.

Mundo virtual ou real?

Tudo indica que alguns indivíduos poderão mesmo preferir ter sexo virtual a relacionarem-se com outros no mundo real. À medida que a tecnologia for avançando, mais difícil será distinguir entre um e outro. «Assusta-me pensar que as pessoas poderão recorrer somente a objetos para se satisfazerem sexualmente, que isso substitua outros indivíduos. Do ponto de vista ético, há alguns processos tecnológicos que podem ser travados», defende Vânia Beliz.

Claro que ainda estamos longe do apocalipse reprodutivo, mas começam a aparecer sinais preocupantes. No Japão, quase 50 por cento das mulheres entre os 18 e os 34 anos são solteiras, e mais de 60 por cento dos homens da mesma idade também. O país afirma que as gerações mais novas sofrem de síndrome do celibato.

Lá, 45 por cento das mulheres entre os 16 e os 24 anos não querem ter sexo. A quantidade e variedade de opções que existem para as pessoas se autoestimularem, sem necessidade de haver contacto humano, poderão agravar a situação. «Temo que as pessoas se tornem mais egocêntricas e que as relações se tornem cada vez mais curtas», conclui a sexóloga.

Texto: Filipa Basílio da Silva