Sete estudos publicados na década de 1990 tornaram o psicólogo americano John Gottman famoso, uma vez que foi capaz de prever, com 94% de certeza, quais os casais participantes na sua investigação que se iriam divorciar. Para lá chegar, avaliou matematicamente fatores que acreditava corroerem as relações amorosas e que, ainda hoje, se mantêm atuais. Mediu, por exemplo, a influência daquilo a que, na altura, chamou "os quatro cavaleiros do apocalipse".
Esses comportamentos que conduzem, na maioria dos casos, a relação conjugal à espiral do divórcio, mas, se forem identificados atempadamente, ainda vai a tempo de a poder salvar, como sucede em muitos casos. A par da teoria de John Gottman, os hábitos que se seguem foram reunidos, a pedido da Prevenir, pela sexóloga Vânia Beliz, com base na sua experiência clínica. Saiba o que deve ter em linha de conta para preservar ao máximo o seu relacionamento.
Não fazem tudo juntos
Esse é o problema de muitos casais atuais, uma vez que gera uma dependência que pode ser nociva. A confusão entre o que é um casamento e uma fusão é muito frequente mas, quando se decide ter uma vida em comum com alguém, não se pode esquecer que continuam a existir o eu, o tu e o nós. "A pessoa deve preservar a individualidade, manter alguns hábitos que lhe dêem prazer e não os abandonar só porque não agradam ao outro", diz a especialista.
Se nos esquecermos de preservar o nosso espaço numa relação, corremos o risco de não restar nada do que éramos inicialmente, alerta ainda a conceituada sexóloga. Para não cometer erros que podem prejudicar este equilíbrio, a sexóloga aconselha os dois elementos do casal a não abdicar de rotinas antigas. "Mantenha os seus hobbies, não deixe de ir ao ginásio ou de jantar com amigas e/ou amigos só porque está numa relação", recomenda Vânia Beliz.
Não partilham todas as contas bancárias
Deve manter a sua privacidade financeira. Muitas discussões conjugais são desencadeadas por questões de dinheiro. Para o evitar, Vânia Beliz defende que deve manter a individualidade também neste campo. "Depois de pagas todas as despesas partilhadas da casa, água, luz e/ou gás, procure manter uma fatia do seu orçamento para as despesas pessoais e não se sinta obrigada a justificá-las, nem peça justificações", recomenda a especialista portuguesa.
Não abdicam da privacidade
Apesar de algumas correntes modernas defenderem que o quarto dos pais deve estar sempre aberto para as crianças, Vânia Beliz não é da mesma opinião. A sexóloga sublinha que há momentos em que é vital fechá-lo. Afinal, antes de serem pais, já eram um casal, ainda que, por norma, haja sempre um deles que é mais permissivo nesta questão. "Habitue os seus filhos a dormirem nos seus quartos e a respeitarem o espaço dos pais", afirma a especialista.
Por outro lado, há também hábitos, nomeadamente de higiene e fisiológicos, que se devem manter privados sempre que possível, defende a sexóloga. "Não partilhe a casa de banho com o seu companheiro e mantenha rituais como a depilação só para si", aconselha Vânia Beliz. Nos casos em que tal não é possível, ao utilizar a mesma casa de banho, o casal deve fazê-lo em momentos diferentes, para garantir essa privacidade e também para dar espaço ao outro.
Não veem as mensagens do telemóvel do outro
Muitas vezes, desconfiados sobre tudo o que se passa com o outro, homens e mulheres cedem à tentação de inspecionar os perfis nas redes sociais, as caixas de email ou os SMS do parceiro. Além de representar uma violação da privacidade, será motivo para desencadear discussões entre o casal. "Seja direto e partilhe o que está a sentir", recomenda. "Adiar problemas só aumenta a tensão conjugal. Não se deite zangado ou com dúvidas", sugere Vânia Beliz.
Não dão o outro por garantido
À medida que os anos passam, é normal a relação ir mudando. Por mais que tente, é inevitável. Mas é também importante manter a conquista e cativar o outro. Para não cair num erro em que muitos casais caem, a sexóloga aconselha prudência e bom senso, como em tudo na vida. "Valorize-se a si e ao outro, elogie e faça por ser elogiado", refere. "Não ceda à preguiça, continue a cuidar de si e não use pijama como a farda de casa", aconselha ainda a especialista.
A sua relação está em risco?
Os quatro comportamentos que, segundo John Gottman, psicólogo, levam ao divórcio:
1. Crítica negativa
Marcada por expressões como "tu sempre" ou "tu nunca", surge como ataque global à personalidade do outro.
2. Atitude defensiva
Caracterizada pela lamentação e a atribuição de culpa ao outro, na tentativa de não assumir corresponsabilidades.
3. Desprezo
Revela-se através de hostilidade, sarcasmo, gozo ou agressividade.
4. Bloqueio
Denuncia-se pela recusa em dialogar ou em dar pistas sobre o que se pensa ou sente.
Texto: Catarina Madeira com Vânia Beliz (sexóloga clínica)
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