Apesar do histórico familiar, apesar da alta probabilidade de tal acontecer, nunca me tinha passado pela cabeça que eu pudesse ser bafejada pela sorte de uma gravidez gemelar. Nunca. E foi exatamente por isso que, ao ouvir a novidade, me senti a pessoa mais bipolar do mundo, oscilando entre as gargalhadas de uma felicidade incontrolável e as lágrimas de um medo avassalador.

“E se eu não conseguir dar conta do recado?”

Quatro filhos pareciam-me demais. Todos pequeninos, todos a precisar de mim, todos a exigir coisas para as quais as minhas duas mãos não pareciam suficientes. E depois era o carro onde só cabia mais uma criança. A casa onde não cabia mais nenhuma. A vida, onde às vezes parecia que nem eu cabia com tantas responsabilidades.

Hoje, tudo isto me parece ridículo. Dei conta do recado, respondi a todas as exigências, troquei o carro, a casa, mudei a vida. Descobri que nós, seres humanos, temos uma capacidade de adaptação e de resistência inesgotável. E que dentro deste nosso coração aparentemente pequeno e seletivo cabem todos os filhos que o destino nos confie.

Nasceram no Dia dos Namorados. Numa madrugada que me parecia mágica e encantada e que rapidamente, ao virar dia, revelou aquilo em que eu me tinha tornado: mãe de quatro. No momento em que as minhas filhas, tão pequenas, seguraram os irmãos como se agarrassem um tesouro, eu percebi que a minha vida nunca mais seria a mesma. Porque, de facto, tudo ficou muito melhor.

Costumo dizer que o Tiago e o Tomás são os homens da minha vida. Que o são, por enquanto. Mas tenho a certeza, sem qualquer margem de dúvida ou de hesitação, que estes meninos serão um dia grandes homens na vida de alguém. Que encherão de brilho os corações de duas outras pessoas, brindando-as com o carinho, o mimo e o amor imensos que, por enquanto, são meus todos os dias.

Nove anos. Obrigada, Tiago e Tomás, pela bênção imensa que é poder ser vossa mãe. E por, ao fim deste tempo todo, ainda me fazerem pensar todos os dias como é possível ser-se tão feliz assim.

Alda Benamor