Se por um lado desejamos conviver alegremente com a família, na paz e harmonia do lar, por outro podemo-nos confrontar com a dura realidade das obrigações, expectativas e tensões perante aqueles que nos são mais próximos. Temos que escolher o presente perfeito, não desiludir os demais, negociar o local de passagem da consoada e do dia de Natal, cozinhar o melhor menu e ainda sentir e demonstrar felicidade plena. Por vezes, tudo isto torna-se demasiado exigente e acumula-se com a dificuldade de gerir os conflitos internos e externos com os nossos familiares.
A proximidade relacional e familiar, seja numa família muito grande ou muito pequena, comporta estas polaridades, pois quando gostamos mesmo muito de alguém e desejamos proporcionar-lhes os melhores momentos, ficamos mais vulneráveis à rejeição, ao conflito e à tensão emocional.
As emoções tornam-se difíceis de regular quando fingimos que “está tudo bem” e nos prendemos à idealização de uma família perfeita. Imaginamos e fantasiamos um cenário ideal, iluminado de luzes de Natal, que muitas vezes não é o que acaba por se concretizar. O choque entre o ideal e o real pode levar a desilusões familiares que são difíceis de gerir, aumentando os ressentimentos, cobranças e frustrações pré-existentes.
Uma família é um complexo sistema de múltiplas diferenças, personalidades, necessidades e perceções, que podem entrar em conflito, formando-se alianças e lutas de poder. Simples questões como: onde vamos passar o Natal? Na casa da família do marido ou da mulher? Podem aprofundar-se em: Quem é mais importante? Quem tem mais poder?
No entanto, as diferenças e mágoas podem ser geridas, comunicadas, expressadas, agarrando as diferenças como oportunidades de enriquecimento. A família é um sistema, e quando uma pessoa está disponível para mudar, todo o sistema familiar pode transformar-se também. Neste âmbito, um Terapeuta Familiar pode contribuir para identificar e trabalhar os conflitos deste sistema, proporcionando juntamente com a família um terreno mais fértil para a mudança e preenchimento de necessidades mútuas.
Aqui ficam algumas dicas para o ajudar a equilibrar os possíveis conflitos familiares neste Natal:
- Tente escutar, realmente escutar, não apenas as palavras, mas o que está para além delas, de forma empática, em vez de entrar na espiral da discussão e contra-argumentação.
- Respire fundo e não responda impulsivamente. Se for necessário afaste-se momentaneamente, quer seja de forma física ou psicológica, vá ao jardim ou à varanda, ou a um lugar calmo na sua mente, ao jardim da sua mente, e permita-se respirar e recolocar as coisas sobre novas perspetivas, regressando ao conflito de forma mais preparada para comunicar.
- Não evite todos os conflitos, esclareça-os. Quando evitamos falar de um conflito durante muito tempo, corremos o risco de as emoções entrarem em ebulição na nossa “panela de pressão” até que se dá uma explosão. Reprimir aumenta a pressão e retira o prazo de validade para abordar o tema conflituoso de forma construtiva.
- Centre-se no “eu”, mais do que no “tu”. A melhor forma de lidar com um conflito é centrarmo-nos na expressão do que sentimos (“eu”) com o conflito, responsabilizando-nos pelo que é possível, mais do que criticar, acusar e apontar o “tu fizeste…tu…tu…” que aumenta ainda mais a tensão.
- Expresse as suas emoções, sendo emocionalmente congruente e honesto, comunicando o que sente e necessita. Será mais fácil ser compreendido do que se se fechar, anular ou atacar.
Não existem pessoas nem famílias perfeitas. A magia e alegria natalícias não são obrigatórias. Mais importante talvez seja respeitarmo-nos, cuidarmo-nos e contactarmos com as emoções, pensamentos e comportamentos que vão estando presentes nestes momentos, de forma a regular e aprofundar uma genuína proximidade interna e externa, que se reflete na família. E isto sim pode ser mágico!
Vanessa Damásio
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Familiar e Conjugal
Psinove – Inovamos a Psicologia
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