Enquanto enfermeiros, cabe-nos a minimização desta problemática, mantendo o foco na importância e no benefício das vacinas.
E quando o medo das crianças à vacinação, significa um obstáculo à mesma? Como lidar com o medo dos mais novos?
É importante os pais saberem que o medo é normal, tanto o medo do procedimento doloroso (a injeção) como o medo do desconhecido (muitas crianças não se lembram da última vez que levaram uma vacina). O medo que a criança sente deve ser respeitado, mas sem o acentuar ou exacerbar.
As vacinas injetáveis são algo que causa desconforto ou dor e que podem assustar, mas são indiscutivelmente algo necessário e representam um grande benefício para a saúde de todos. Ao mesmo tempo que é algo assustador, é importante para a criança. Por outro lado, algumas abordagens dos pais e profissionais de saúde, podem ajudar a tornar o momento de vacinação mais tranquilo e menos traumático para os mais pequenos.
O que os pais podem fazer quando as crianças têm medo?
Antes de mais, é importante lidar com a criança e o seu medo de acordo com a idade e fase de desenvolvimento. Não adianta tentar explicar o que vai acontecer a um bebé de 1 ano, como não adianta tentar esconder e desvalorizar a um adolescente de 15 anos. É essencial adequar a forma de lidar com o medo da vacinação a cada criança.
A partir dos 5 anos, altura em que as crianças têm a capacidade de compreensão mais desenvolvida, os pais devem tranquilizá-los, ajudando-os a ultrapassar os medos, por exemplo, havendo espaço de conversa sobre o que vão fazer e tentar corrigir ideias erradas. Em idades mais avançadas, na pré adolescência, já podemos introduzir explicações mais racionais e concretas. Em qualquer idade, é importante não mentir à criança.
O que não fazer antes da vacinação?
Dizer ao filho que “se não te portares bem, vais levar uma pica”, pode tornar-se desastroso na construção do significado que a vacinação tem para a criança. Assim, devemos evitar utilizar expressões como “não é nada”, “não dói”, e não devemos não permitir o choro, nomeadamente através de castigo ou mesmo oferecendo recompensa caso a criança não chore.
Dependendo da idade da criança, pode-se optar por algumas estratégias:
- Se bebé, dar aos pais a possibilidade de amamentar durante a vacinação ou oferecer à criança chucha e sacarose;
- Dizer à criança que é normal sentir medo;
- Contar a verdade sobre o que vai acontecer, a criança irá sentir-se mais segura ao saber o que vai acontecer, não tendo assim que enfrentar o desconhecido;
- Conversas em casa, em família, adequadas à idade da criança, ajudam a desmistificar o tema;
- Incentivar à coragem, o medo não significa falta de coragem;
- Oferecer à criança a possibilidade de utilizar um anestésico local, para diminuir a dor;
- Utilização de aparelho vibratório com gelo;
- Distrair as crianças com recurso a música e brinquedos.
A atitude dos pais reflete-se nos filhos?
A atitude dos pais face ao momento de vacinação, tem um impacto determinante e que espelha muitas vezes a reação dos filhos. Pais calmos e tranquilos influenciam a serenidade dos filhos e, consequentemente, a diminuição da perceção da dor, manifestado, por exemplo, pelo choro. Ao contrário, é frequente sentirmos um bebé mais agitado e choroso se os pais que o acompanham vierem à nossa consulta mais ansiosos e nervosos.
Em muitos casos, o medo da vacinação estampa o medo de um perigo imaginário, que representa algo muito doloroso para as crianças, mesmo que estas não se lembrem da última vez que foram vacinadas. Sabemos que as crianças entre si, abordam esta temática com uma conotação bastante negativa. Felizmente, a evolução da ciência e a prática dos enfermeiros, permite a utilização de anestésicos locais ou mesmo a amamentação e meios de distração, que reduzem a sensação e a percepção da dor.
A vacinação não tem de ser um momento doloroso e traumatizante.
Mais do que nunca, num momento em que a pandemia por covid-19 trouxe à tona (como consequência da não vacinação) doenças como o Sarampo, a vacinação infantil não deve ser adiada e o medo da vacinação não deve representar o adiamento da mesma. Temos unidades de saúde preparadas, com circuitos não-covid, em que a segurança não está comprometida, e o adiamento trará consequências a nível individual e de saúde pública.
A vacinação é importante e salva vidas. Por favor não adie!
Um artigo da enfermeira Ana Margarida Rocha, enfermeira no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas
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