A inclusão é, atualmente, um tema recorrente que suscita debate quer no seio da família quer entre a comunidade educativa e técnicos em geral.
Existe uma vontade expressa de incluir todos independentemente das diferenças que existam. Mas para que crianças e jovens sejam incluídos, torna-se fundamental levar em consideração as suas especificidades e diferentes necessidades que lhes são inerentes.
O propósito de que todos possam ter os mesmos direitos e que tenham ao seu alcance as mesmas oportunidades terá de ter por base a individualidade para que ninguém fique excluído.
Falando em particular das escolas e pensando em crianças e jovens com necessidades educativas específicas, a inclusão tem ainda mais impacto e uma maior importância.
As dificuldades são diferenciadas tal como deverão ser as respostas, tendo em conta o perfil de cada criança ou jovem, de modo a minimizar os obstáculos e a melhorar as repercussões no futuro que se pretende o mais possível, autónomo e incluído.
Neste sentido, estes não devem ser colocados à margem da sociedade, da comunidade e da possibilidade de interação com os pares.
A inclusão é um conceito complexo e ao mesmo tempo pouco objetivo. Se por um lado, a inclusão é uma evolução da sociedade, e da forma como esta encara as diferenças, até mesmo aquelas mais significativas, por outro, leva-nos a questionar onde se encontra o limiar da respeitabilidade quando queremos incluir alguém independentemente da sua vontade, características ou necessidades.
Será que a inclusão pode ser uma escolha própria ou dos cuidadores?
Será que todos têm de ter exatamente o mesmo tipo de respostas, por exemplo, educativas? Será suposto submeter uma criança com dificuldades cognitivas, padrões de comportamento peculiares e desregulação emocional constante, a conteúdos somente académicos que, muitas vezes, não têm significado nem funcionalidade para ela?
Esta é, sem dúvida, a grande questão! A inclusão é importante, mas será fundamental refletir sobre a forma como deve ser aplicada.
No contacto diário com as famílias, crianças e jovens com perturbações do neurodesenvolvimento, surgem pais que desejam que o seu filho esteja a assistir a todos os conteúdos académicos, embora possa nem sempre compreendê-los.
Para estes pais, o mais importante é o seu filho estar incluído na escola, em particular na sala de aula. Por outro lado, existem pais que encaram de outra forma as particularidades do seu filho e selecionam, em conjunto com os professores, os conteúdos.
Neste caso, a inclusão acontece através da diminuição do tempo de sala e de conteúdos académicos, dando maior relevância a atividades funcionais e da vida diária, adequadas ao perfil daquela criança ou jovem.
Neste sentido, coloca-se o seguinte cenário: uma pessoa que não domine, por exemplo, a língua alemã. Frequenta uma aula avançada em que o professor e os colegas já falam alemão fluentemente, não entende absolutamente nada, sentindo-se completamente deslocado do restante grupo ao ponto de se apoderar de si um sentimento de frustração e de pouca utilidade ou funcionalidade que poderá dar àquilo que está a ser transmitido.
Partindo deste hipotético cenário, imaginemos uma criança com comprometimento muito significativo a nível cognitivo, a frequentar uma aula de físico-química do 7º ano. Por si só, as características inerentes a uma perturbação do desenvolvimento acarretam já maiores desafios a esta criança/jovem, mas o facto de esta ter um défice intelectual, leva a que possa não entender ou dar significado àqueles conteúdos.
Como o intuito é incluir, coloca-se a criança nesse cenário e, por vezes, não se planeia bem de que forma.
Muitas escolas, começam cada vez mais a olhar não só para o grupo como para cada aluno. Através do novo decreto de lei da educação, n. º 54/2018, implementado recentemente, as medidas estão orientadas para o currículo e para as aprendizagens dos alunos.
Neste pressuposto, a principal orientação prende-se com a necessidade de cada escola reconhecer a enorme diversidade de alunos, procurando assim, formas de lidar e atuar nessas diferenças, adequando o processo educativo às características e condições individuais de cada aluno.
Aceitar a diferença poderá ser uma oportunidade de maior aprendizagem relativamente às ferramentas pessoais e emocionais da turma. Para isso é também essencial que os pais estejam cada vez mais incluídos na escola e envolvidos na tomada de decisão do futuro dos seus filhos.
A escola e a inclusão não devem ser pensadas apenas numa vertente académica, mas também, especialmente para crianças com necessidades educativas, como uma oportunidade para adquirir ferramentas funcionais, adequadas ao dia a dia, à pessoa e a um futuro com qualidade.
Inclusão: de que forma? Observar, ouvir, conhecer, planear e estruturar à medida da pessoa sejam quais forem as suas características, dificuldades ou necessidades.
Texto: Mariana Ribeiro, Psicóloga Clínica
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