Era uma vez um casal que se apaixonou, casou e foi morar numa linda casa onde mais tarde nasceram os seus filhos. Linda história, não? E bem comum nos anos 60, 70... Até que nos anos 80 tudo começou a mudar. Em meados dos anos 90, mais de metade dos casais norte-americanos viviam juntos antes de avançarem para o casamento. Agora, começam por dividir a casa, partindo depois para a aventura da paternidade e da maternidade, deixando o casamento para último lugar – ou mesmo abdicando dele.

Um relatório publicado no final de abril pelo Pew Research Center (PRC), de Washington DC, revela que 35% de todos os pais não casados ​​de hoje vivem juntos, contra 20% em 1997. Arielle Kuperberg, professora de sociologia especializada em coabitação da Universidade da Carolina do Norte, atribui este fenómeno a questões de ordem financeira: "É provável que mais pais optem por viver juntos sem casar por razões económicas". O estudo do PRC revela ainda que estes pais que vivem juntos são mais jovens e menos instruídos do que os pais solteiros e os casados.

O facto de muitos millennials terem atingido a maioridade durante ou logo após o pico da Crise faz com que ainda procurem alguma segurança financeira. Para Kuperberg, nestes casos, o equilíbrio das finanças é "uma espécie de pré-requisito para o casamento, especialmente se um dos parceiros tiver dívidas ou créditos difíceis de liquidar".

A socióloga dedica-se neste momento a um estudo sobre a forma como as dívidas e os empréstimos afetam os relacionamentos. É natural, portanto, que tenha legitimidade para testemunhar que "os jovens sobrecarregados com dívidas estudantis hesitem muitas vezes em casar". É que, embora o matrimónio traga alguns benefícios fiscais, é possível as pessoas aproveitarem a maioria deles morando apenas juntas.

Outra tendência foi detetada pela revista Atlantic, a partir de um ensaio do sociólogo Andrew Cherlin, e diz respeito ao facto de as pessoas casarem hoje mais tarde, o que não quer dizer que isso implique adiar o nascimento dos filhos.

No livro "Promises I Can Keep" (Promessas que Consigo Cumprir), a socióloga Kathryn Edin comprova este fenómeno através de dezenas de conversas que manteve com mulheres com rendimentos baixos que decidiram ter filhos antes de casar. Porquê? Diz a autora que elas não querem estar legalmente ligadas a alguém sem emprego fixo ou com demasiadas dívidas – mas querem filhos. "Se uma mulher tem um parceiro, mas ainda não sabe se é com ele que pretende casar, não é má opção criar um filho com esse parceiro e deixar para mais tarde a decisão do matrimónio", proclama  Kathryn Edin.