A família real britânica está habituada a viver debaixo dos holofotes e a imprensa segue todos os seus passos e analisa todos os seus movimentos. Esse escrutínio dá origem a alguns episódios que acabam por se tornar virais.

Exemplo disso foi a descompostura que Isabel II deu ao neto William, quando este, na cerimónia de comemoração dos 90 anos da rainha em junho de 2016, se colocou de cócoras junto de George. Nesse momento a monarca não esteve com meias medidas: “Levanta-te William!”.

Isabel II, William, George
créditos: JUSTIN TALLIS / AFP

Apesar de ter sido considerado engraçada a atitude da avó para com o neto, o El País foi mais longe na abordagem do tema. Analisando o comportamento de William, o jornal percebeu que esta postura é uma atitude natural no jovem pai. Foi assim no batizado de Charlotte ou na visita de Obama ao Palácio de Kensington.

Frequentemente, o príncipe é visto a agachar-se para conversar com o filho. E o que William faz tem um nome: “escuta ativa”.

Que método é este? A primeira referência foi feita, em 1957, pelos psicólogos Carl Rogers e Richard E. Farson, que defendiam a aplicação desta técnica a qualquer pessoa. Mais tarde, Thomas Gordon escreveu um livro sobre este tema mas dedicado à relação entre pais e filhos.

Trata-se portanto de uma maneira respeitosa de tratar as crianças para que estas se sintam realmente sob escuta. A pedadoga Leticia Garcés Larrea, citada pelo El País, classifica este método como “uma forma de comunicação entre os membros da família que permite o desenvolvimento de empatia, salvaguardando ao mesmo tempo os vínculos afetivos”.

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“Ouvir é uma ação dos nossos sentidos, da responsabilidade dos nossos ouvidos. Contudo, podemos ouvir alguém sem qualquer atenção ou esforço de compreensão pelo que está a dizer. Quando o fazemos, falamos de escuta”, explica Vera Lisa Barroso, psicóloga clínica da Oficina de Psicologia.

Há quem defenda que, mais do que uma técnica, a escuta ativa é um modo de vida, em que tentamos escutar as pessoas e que nos colocamos no seu lugar. “A transmissão de segurança, recetividade, respeito e empatia... são posturas fundamentais na comunicação com os outros para relações interpessoais bem sucedidas”, assegura a psicóloga clínica.

E isso aplica-se a adultos e a crianças, mas no caso destas, a comunicação não é tão fácil, uma vez que a criança ainda não percebe o funcionamento do “mundo dos adultos” cujo principal meio de comunicação é o discurso oral, sendo este método uma importante ferramenta. “Como modelos que somos, não só estamos a ensinar às crianças a escutarem os outros e a comunicarem de forma respeitosa - um valioso contributo para relações interpessoais bem-sucedidas - como estamos a mostrar o respeito e o interesse que temos pelas crianças e por aquilo que nos estão a transmitir - um valioso contributo para a sua confiança pessoal e autoestima”, defende Vera Lisa Barroso.

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“A posição ‘abaixo do nível dos olhos’ transmite segurança, é uma postura de recetividade, respeito, empatia e maior igualdade, que não impõe, não ameaça, nem constrange”, explica Vera Lisa Barroso, ressalvando que “a autoridade dos pais nunca será colocada em causa apenas porque comunicam ao mesmo nível de altura dos filhos”.

Como em qualquer relação, este é um equilíbrio que tem de ser trabalhado. “A autoridade dos pais deve ser respeitada e reconhecida pelos filhos, porque se for uma obediência imposta falamos de autoritarismo, que não é de todo um método educativo bem-sucedido” até porque a psicóloga clínica defende que “os pais terão muito mais sucesso na educação dos seus filhos se lhes conseguirem transmitir e não impôr mensagens. A obediência será resultado do respeito pelas figuras de autoridade e afeto e não resultado do medo pelas figuras autoritárias”.

Mas as crianças são verdadeiras caixinhas de surpresas. Há mil e um motivos que podem despoletar uma birra e a "escuta ativa" é um método eficaz defendido pelos especialistas. Numa situação de birra “as crianças precisam da ajuda dos adultos para se acalmarem e conseguirem pensar sobre o que está a acontecer” uma vez que “a criança está completamente descontrolada” e o primeiro objetivo do adulto deve ser “acalmar o seu sistema nervoso, para que depois esteja suficientemente disponível para ouvir”, explica Vera Lisa Barroso.

“Uma das boas estratégias para chegar até aos mais pequenos (quando dominados pela zanga ou frustração) é abraçar, esfregar as costas, dar a mão… promover contacto físico que tranquiliza e depois comunicar numa posição “abaixo do nível dos olhos”, sugere.

A pedadoga Leticia Garcés Larrea vai mais longe e defende que este método ajuda a criar adultos mais seguros de si mesmos, uma vez que, ao serem tratados de determinada maneira, vão saber defender-se de situações de abuso, ao longo da sua vida. Pelo contrário, a pedagoga defende que uma criança que esteja familiarizada com gritos e ameaças é mais vulnerável e consentirá, mais facilmente, situações de maus tratos. "Há que estar ali a dar-lhe a segurança necessária para que possa tomar, um dia, as suas próprias decisões", conclui.

Texto publicado pela primeira vez em setembro de 2016.