Mas porque será que as crianças tendem a não ouvir os pais? A verdade é que as crianças, muitas vezes, ouvem os pais. Ainda assim, sentem que os pais parecem não as compreender e, por isso, acabam por sentir que aquilo que os pais estão a transmitir parece não ter validade interna para si. Desta forma, perante indicações e ordens dos pais, é frequente as crianças parecerem distantes e parecerem não ser capazes de os ouvirem.

Outra das questões importantes, é que as crianças aprendem ao mesmo tempo que veem os comportamentos dos adultos à sua volta e, muitas crianças, sentem que na verdade não têm voz e não são ouvidas pelos pais. Assim, ao mesmo tempo que sentem que não são ouvidas, as crianças aprendem a deixar de ouvir os pais ou os adultos à sua volta.

Por isso, se queremos que as crianças sejam capazes de ouvir e compreender os pais, precisamos de ser capazes de dar voz às crianças e compreendê-las. Isto é, precisamos de conseguir ouvi-las sem questões excessivas, sem julgamentos e estabelecendo uma ponte de cumplicidade com o seu interior para que elas se sintam compreendidas e emocionalmente amparadas.

Quando damos voz a uma criança seja sobre aquilo que ela pensa em relação a si, à sua rotina diária, aos outros e ao mundo, estamos subtilmente a mostrar-lhe que tudo aquilo que ela pensa, ou sente, é importante para nós, que as suas ideias são válidas e que ouvimos as suas necessidades. Ao mesmo tempo que o fazemos, estamos a ensiná-la a ser capaz de nos ouvir, a ser capaz de serenar enquanto o outro se está a expressar e a valorizar as palavras que veem por parte dos outros. Desta forma é indiscutível que uma criança que tenha voz, que seja ouvida e compreendida, será sempre uma criança mais segura de si, mas principalmente uma criança mais capaz de ouvir tudo aquilo que os outros têm para lhe transmitir.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.