Quantas vezes, após momentos avaliativos, os pais são confrontados com o desalento e frustração dos filhos relativamente aos seus desempenhos nos testes? As frases...”eu sabia tudo, mas estava muito nervoso e não me lembrei da resposta, ou “estava tão preocupado com o tempo que nem reparei que ainda faltavam três perguntas para acabar o teste”, ou ainda, ”eu sabia tudo, mas não sei o que se passou que troquei as respostas” são exemplos de como a ansiedade causa um impacto enorme em crianças e jovens, sobretudo em momentos formais, caracterizados pela pressão da avaliação de conhecimentos.
As noites de véspera de teste sem dormir, as más disposições episódicas, tendem nestes casos a indiciar a necessidade de dotar as crianças de estratégias para lidar com a ansiedade inerente aos momentos avaliativos. Falar com o seu filho sobre o tema é essencial. Numa primeira fase, pais, filhos e professores devem transmitir aos alunos que mais do que avaliar, o fundamental na escola é usufruir, desfrutar das aprendizagens, dos diferentes tipos de conhecimento. A grande preocupação dos educadores deverá centrar-se na promoção da motivação para procura do conhecimento. Influenciá-los pela positiva com demonstrações concretas e exemplos dos próprios pais, assim como demonstrar as mais valias associadas ao conhecimento e consequentemente à frequência escolar, são fundamentais e poderão constituir-se como tranquilizadoras para crianças e jovens, realçando que os momentos avaliativos fazem parte do processo. Não são nada mais do que isso, uma pequena peça, ainda que importante, de um puzzle gigante oferecido pelo meio escolar.
Se as crianças desde tenra idade forem lidando frequentemente com a avaliação de desempenhos como uma tarefa quotidiana que serve apenas, numa fase inicial, de ferramenta para os professores aferirem como os conteúdos foram integrados e quais as necessidades de reformular ou reforçar aprendizagens, certamente irão sentir-se mais tranquilos ao longo de todo o percurso escolar. Até porque, posteriormente nesta relação de ensino-aprendizagem, em que todos saem beneficiados, as próprias crianças, devidamente motivadas e impelidas pelo espírito do saber irão ter brio em demonstrar aos outros os seus conhecimentos e até mesmo de forma mais entusiasta, as suas áreas de interesse.
Para além desta abordagem inicial à criança sobre o que é realmente a escola, quais os benefícios e que propósito tem em nossas vidas, deixamos aqui um conjunto de estratégias concretas, capazes de auxiliar os pais nesta árdua tarefa de conferir calma e tranquilidade aos filhos em momentos que por si só, tendem a despoletar alguma insegurança e ansiedade.
Fazer um plano de estudo e colocá-lo em prática
As seguintes sugestões talvez sejam úteis quando o seu filho tem que estudar para disciplinas como História ou Ciências. Encoraje-o a fazer o seguinte:
- Juntar todos os materiais que vai necessitar para o estudo, nomeadamente, todos os livros da disciplina, caderno da disciplina, trabalhos de casa que foram realizados noutros suportes (e.g., fichas, textos, questionários);
- Ajude-o a criar cartões com conceitos ou termos que são necessários memorizar. Coloque o conceito na frente do cartão, no verso escreva a informação-chave ou alguma estratégia de memória para ajudar a lembrar dos pontos importantes relativamente ao conceito presente na frente do cartão;
- Rever os apontamentos das aulas, trabalhos de casa e fichas feitas na aula, sublinhando a informação mais importante;
- Fazer diagramas dos eventos importantes e apontar as suas causas e consequências;
- Criar possíveis questões de desenvolvimento que possam surgir no teste, fazendo apontamentos com as respostas para cada uma dessas questões;
- Explicar oralmente as ideias principais presentes no(s) capítulo(s) estudado(s) a um familiar ou amigo. Ensinar é a melhor forma de aprender;
- Pedir a um familiar ou amigo que coloque questões sobre a matéria;
- Criar uma linha temporal dos acontecimentos importantes presentes no(s) capítulo(s) estudado(s);
- Responder às questões que normalmente surgem no final dos capítulos.
Definir metas e respeitar o seu próprio ritmo
É importante respeitar e ter em consideração o ritmo de cada aluno no momento da definição dos períodos de estudo. Pode ajudar o seu filho a definir objetivos, tendo em conta alguns passos:
- Reveja com ele o plano de estudo e estabeleçam períodos de estudo para cada tópico/disciplina de acordo com o plano;
- Garanta que o seu filho contabiliza períodos de pausa quando constrói o horário de estudo. Blocos de estudo mais curtos (e.g., 30-45min) são muitas vezes mais produtivos do que blocos de duas horas seguidas. Por exemplo, deve experimentar estudar durante 30-45 minutos, fazer uma pausa durante cerca de 15 minutos e retomar o estudo por mais 30-45 minutos;
- Estabeleça um objetivo para o estudo. Por exemplo, qual a matéria que ele quer saber mais ou melhorar o seu conhecimento, quão bem ele gostaria de se sair na realização daquele trabalho ou daquele teste?;
- Sugira que vai lhe colocar questões sobre a matéria que teve a estudar quando ele sentir que está pronto, de forma que consiga testar os conteúdos que já estão consolidados e perceber se existem outros que precisa ainda rever.
Analisar o formato dos trabalhos de casa e dos testes
O seu filho tem alguma dificuldade em compreender o que é esperado do seu trabalho, nomeadamente ao nível dos trabalhos de casa, das expectativas dos professores e as questões-tipo dos testes? Se sim, seguem algumas sugestões que podem ajudar:
- Peça aos professores questões-tipo e exemplos de respostas bem estruturadas e completas, ajude o seu filho a analisar e rever todas elas;
- Ajude o seu filho a ter consciência de quais as palavras-chave que ajudam a clarificar o sentido das questões (para questões de desenvolvimento ou resposta curta), no caso das questões de escolha múltipla, ajude-o a eliminar algumas das opções. Uma forma de memorizar alguns destes conceitos chave é utilizar os acrónimos. Contudo, é importante garantir que o seu filho, ao memorizar os acrónimos sabe o significado de cada uma das palavras, garantindo assim que será capaz de aplicar esse conhecimento no momento dos testes;
- Encoraje o seu filho a praticar as questões de escolha-múltipla, caso seja esse o formato privilegiado nos testes;
- Recorde o seu filho que as questões de escolha-múltipla têm uma resposta correta, uma obviamente errada e uma ou duas muito próximas da resposta correta. É necessário ler cada uma delas cuidadosamente e tentar eliminar o máximo de questões possíveis antes de escolher uma. Encoraje o seu filho a não alterar as suas respostas depois de ter selecionado uma delas com atenção, a menos que ele próprio verifique que cometeu algum erro na escolha da resposta;
- Para questões de correspondência, sugira que leia todas as alternativas e faça corresponder primeiro os conceitos/itens/definições que tem a certeza da resposta, risque de seguida esses que já estão selecionados e continue para os restantes itens;
- Ajude-o a rever os guiões de estudo, os testes-exemplo, os manuais, os apontamentos das aulas com as dicas que os professores vão dando, para que desta forma a criança consiga prever o tipo de respostas esperadas (seja nas questões de resposta curta como nas de desenvolvimento);
- Relembre o seu filho que, caso fique bloqueado numa questão ou alínea do teste, deve prosseguir para a próxima questão. Provavelmente, a resposta irá surgir-lhe mais tarde ainda durante o teste;
- Porque a ansiedade pode prejudicar a memória e a atenção aos detalhes, encoraje o seu filho a rever o seu teste o máximo possível. Uma lista personalizada com os erros mais comuns do seu filho com base em testes anteriores, pode ser muito útil para a criança ser capaz de rever com atenção os problemas e questões onde pode ter cometido erros por distração antes de entregar o teste.
Colocar em perspetiva
Por vezes a ansiedade pode impedir que o aluno atinja bons resultados, mesmo quando investiu na preparação para os testes. Se o seu filho fica muito ansioso durante os períodos de estudo ou antes dos testes, apresentamos algumas estratégias que podem ajudar a gerir essa ansiedade:
- Encoraje-o a focar-se nos seus pontos fortes, “Lembra-te que tens uma boa memória e, no teste, vais conseguir lembrar-te de todos os factos importantes que estudaste”;
- Ajude-o a colocar o momento do teste em perspetiva, isto é, a relativizar o seu peso “lembra-te que este é apenas um teste, tu já fizeste bons trabalhos/apresentações orais, tens tido bons resultados nos projetos que têm desenvolvido nas aulas, não é assim tão grave se no teste cometeres alguns erros ou não acertares tudo.”;
- Enfatize o esforço e as estratégias utilizadas pelo seu filho e mostre-lhe que isso é o mais importante “Estudaste muito e bem, podes estar orgulhoso disso… o que, com certeza, se vai refletir no teste” ou, em termos de perspetiva a longo prazo e aprendizagem ao longo da vida “Daqui a 1 ano ou 20 anos, ninguém vai lembrar-se da nota que tiraste neste teste”.
Enquanto adultos, sabemos que os testes são apenas uma das medidas utilizadas para avaliar a performance dos alunos relativamente às suas aquisições do conhecimento, o processo de aprendizagem é complexo e multifacetado que precisa ser medido de diferentes formas e perspetivas. Sabemos, também, como é importante garantir às nossas crianças experiências escolares positivas e de sucesso, de forma a dar-lhe acesso ao maior número de alternativas possíveis ao longo do seu percurso académico e durante todo o seu desenvolvimento enquanto crianças, jovens e mais tarde adultos.
Artigo publicado por SEI - CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
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