O consumo de medicamentos naturais, especialmente suplementos alimentares e complexos de plantas, duplicaram entre as crianças e adolescentes norte-americanos. A conclusão é de um estudo da Universidade de Illinois, Chicago, publicado recentemente pela revista Jama Pediatrics e divulgado pelo La Vanguardia espanhol, que comparou dados recentes com os de há uma década.
A comunidade médica está preocupada com os efeitos colaterais potenciais destes produtos e avisa do perigo de toxicidade para as crianças.
“Este tipo de suplementos e produtos não têm de passar pelo controle da Agência Americana de Medicamentos (FDA), nem pelo processo de aprovação de medicamentos prescritos. Isso implica que temos pouca informação sobre a sua segurança e eficácia, especialmente no que toca a crianças”, avisou Dima Qato, investigadora e principal autora do estudo
A situação parece não é exclusiva dos Estados Unidos. O Comité de Medicamentos da Associação Espanhola de Pediatria admite que as conclusões da pesquisa norte-americana podem ser extrapoladas para o país vizinho. “Temos tratado várias crianças envenenadas com vitaminas mal prescritas”, contou David Andina, pediatra de emergência no Hospital Infantil Universitário Niño Jesús de Madrid, ao La Vanguardia.
Se foi possível apurar que 30% das crianças com menos de cinco anos tomam suplementos vitamínicos, parecem não existir provas científicas de que esses produtos tenham verdadeiro benefício para elas. “É melhor gastar dinheiro numa alimentação saudável”, recomenda o médico espanhol.
Roi Piñeiro, membro do Comité dos Medicamentos da Associação Espanhola de Pediatria, diz que o estudo “é um bom sinal de alerta para todos os médicos” e lembra que estes medicamentos alternativos são uma consequência natural da popularidade das medicinas alternativas - ou “práticas sem evidência científica”, como lhes chama - tais como a homeopatia, naturopatia e acupuntura. “São modismos em que as pessoas embarcam acreditando que ‘o que funciona com o outro também serve para mim’”.
Os especialistas queixam-se de que a ideia de que os produtos são “naturais” arrasta consigo a convicção de que “não podem fazer mal”. “É uma ideia falsa que cresce exponencialmente. Não apenas entre os farmacêuticos, mas também junto de muitos profissionais de saúde pública”, reclama David Andina.
O médico dá exemplos bem concretos. “O excesso de vitamina D, por exemplo, pode aumentar os níveis de cálcio, com efeitos muito negativos para a saúde da criança. E uma infusão de anis - que muitos pais acreditam ser natural e segura, para tratar cólicas de bebês entre os dois e os três meses, pode provocar convulsões. Tivemos um recém-nascido na UTI, há pouco tempo, por essa razão”, revela.
Entre os adolescentes, e segundo o estudo da Universidade de Illinois, é comum consumir melatonina para promover as capacidades cognitivas e combater problemas de sono, assim como remédios naturais para tratar o défice de atenção - cuja ingestão parece aumentar o risco de insónia.
Mas os consumos são diferentes para rapazes e raparigas: elas passaram a ingerir mais ácido fólico e vitamina B, que se diz terem propriedades antidepressivas; eles tomam mais ômega-3 e suplementos para os músculos. “O problema é que todos esses produtos apresentam efeitos colaterais cardiovasculares, como arritmias”, garantem os autores do estudo.
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