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Com este projeto, que envolve 250 crianças de jardins-de-infância públicos e privados do Porto, os investigadores pretendem que as educadoras diferenciem, "tão cedo quanto possível", as crianças em função das suas necessidades de apoio educativo e intervenham de forma a reverter ou atenuar essas dificuldades, indicou à Lusa a investigadora Diana Alves.

Os resultados até agora obtidos num estudo piloto com 31 crianças de cinco anos "são animadores" e mostram que as crianças "apresentam ganhos em termos de vocabulário e de consciência fonológica (capacidade para identificar e manipular os fonemas ou sons que constituem a língua materna), superiores às crianças que não usufruíram da intervenção da educadora", indicou.

As competências de literacia emergente têm vindo a ser cada vez mais alvo da atenção dos educadores de infância visto que, apesar das "muitas práticas de elevada qualidade que podem ser observadas", existe uma "ausência de intencionalidade que as sustente e diferencie", explicou.

Este trabalho enquadra-se num modelo de atuação designado por "Response to Intervention" (Resposta à Intervenção, RTI), que surgiu inicialmente nos Estados Unidos e está "bastante disseminado internacionalmente".

O RTI, segundo indica a investigadora, é um modelo comportamental e multinível, focado na prevenção, em que as educadoras identificam as crianças com maior ou menor risco de desenvolver dificuldades de aprendizagem e asseguram uma intervenção de intensidade e frequência adequadas às necessidades das crianças. "Desta forma, as educadoras selecionam, alteram e doseiam as intervenções de acordo com a resposta das crianças", acrescentou.

Como ponto de partida, o RTI propõe a realização de um despiste universal junto de cada turma, "etapa crucial" onde são determinadas as competências das crianças sobre as quais as estratégias das educadoras vão incidir e estabelecidas as metas e os instrumentos para monitorizar a sua evolução, ao longo de três níveis de apoio.

No primeiro nível, a intervenção da educadora é universal e dirigida a todas as crianças, com caráter preventivo e proativo, podendo não ser, contudo, suficiente para algumas crianças. Assim, o segundo nível reporta-se a uma intervenção com caráter "mais individualizado e mais frequente".

O terceiro e último nível aplica-se apenas às crianças (muito poucas) referenciadas como estando em alto risco que necessitam de uma intervenção ainda mais intensiva e individualizada, sendo verificado quando esta apresenta, nas dimensões avaliadas no despiste universal, um desempenho muito abaixo do resto do grupo.

Para Diana Alves, este modelo, que não é específico de um ciclo de escolaridade ou de uma área curricular, vem colmatar as lacunas que os modelos tradicionais, que têm estado muito presentes no contexto educativo, "vão deixando no terreno".

A investigadora esclarece que o RTI não impede o aparecimento de dificuldades no processo de aprendizagem, mas permite que a educadora faça uma identificação precoce e uma intervenção atempada, o que irá prevenir o acumular das mesmas.

A avaliação da eficácia do RTI está a ser investigada pela equipa liderada por Diana Alves, da qual fazem também parte Orlanda Cruz e o doutorando Marco Bento.

Atualmente, para além do projeto nos jardins-de-infância, está em curso o estudo "O Crescer do Ler", realizado em parceria com a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e com a FAPFeira, envolvendo cerca de 715 crianças que frequentam os jardins-de-infância públicos do concelho de Santa Maria da Feira.

Espera-se, com este projeto, "promover as competências de literacia emergente" junto das crianças, potenciando "o sucesso no processo de aprendizagem da leitura e da escrita", bem como "otimizar as práticas pedagógicas no contexto pré-escolar e contribuir para a discussão e definição de novas políticas educativas", concluiu Diana Alves.