Os professores universitários não estão predispostos para denunciar situações de fraude académica e plágio, devido, em parte, a um "grau de desconfiança e descrença nos processos administrativos" e na "capacidade punitiva" das instituições do ensino superior português, disse à agência Lusa o coordenador do projeto "A ética dos alunos e a tolerância de professores e instituições perante a fraude académica no ensino superior", Filipe Almeida.
Outra das explicações avançadas pelo investigador para os docentes não estarem "absolutamente comprometidos no combate à fraude" centra-se com o facto de a avaliação da carreira docente universitária estar focada "na dimensão científica e não na pedagógica".
Os incentivos são "poucos" para que os professores "se preocupem com o que se passa na sala de aula", sendo que dos 2.727 docentes inquiridos, 30% não sabia "sequer se havia algum código de conduta ou ética na sua instituição".
"Isto sinaliza o descompromisso", afirmou o coordenador do projeto, que apresenta hoje à tarde, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, os livros "Fraude e Plágio na Universidade" e "A fraude Académica no Ensino Superior em Portugal", resultantes do projeto de investigação, que decorreu entre 2008 e 2015.
Os resultados do estudo relativos ao questionário a 7.292 alunos de 101 instituições do ensino superior de Portugal, já noticiados pela agência Lusa em 2014, demonstram que os estudantes têm uma perceção de que a fraude é "generalizada".
Dos inquiridos, 54,2% considera que se copia para trabalhos com alguma regularidade, mais de 70% considera que se usam cábulas com frequência em exame escrito, 73% dos alunos admitem que apresentariam o mesmo trabalho em várias disciplinas, 65% que forneceriam respostas a um colega no exame e 52% que copiariam.
Homens, estudantes e de famílias com mais rendimentos
Homens, estudantes que frequentaram escolas privadas, que vêm de famílias com mais rendimentos e que têm pessoas no núcleo familiar com formação superior estão mais predispostos a cometer fraude, conclui o estudo.
Quanto a "inibidores" da prática de fraude, os estudantes elegem a relação de proximidade entre docentes e alunos como fator que "inibiria a prática fraudulenta", notou Filipe Almeida, sublinhando que os professores, por outro lado, não consideram a proximidade como um fator de inibição.
Segundo o investigador, "não é possível combater a fraude sem uma mudança multidimensional".
Para Filipe Almeida, seria necessário políticas dirigidas "para os docentes, para os estudantes e para as instituições", combatendo de forma sistémica, com toda a gente "comprometida" com esse combate.
"Mais do que agravar as penas, é as instituições levarem até às últimas consequências os processos de fraude, de forma a se atribuir uma cultura de exigência", salientou o investigador.
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