Já em Portugal, onde deu à luz com 29 semanas, chegou uma nova ‘atualização' da família e a cesariana viria a descobrir o quinto filho, surpreendendo os próprios médicos no Hospital de São João, para onde Chimene tinha viajado um mês e meio antes, com ameaça de parto prematuro.
Tudo aconteceu há 15 anos, que se completam a 17 de abril, numa gravidez que nem sequer tinha sido programa pelo casal. Hoje, Chimene, de nacionalidade angolana, e o marido, Márcio Oliveira, luso-angolano, estabelecidos em Luanda, ainda se emocionam ao recordar o início da aventura, no consultório médico.
"Foi um susto. Primeiro ela [a médica] disse que eram três e depois, noutra consulta, que eram quatro. Ainda lhe disse ‘então numa semana eu venho e são três, depois são quatro? Ao chegar ao fim da gravidez ainda são 10'. Foram cinco", recorda, em conversa com a Lusa a mãe, de 39 anos e que voltou a dar à luz há quatro anos.
Quando soube que estava grávida de Márcio, agora o caçula da família, Chimene não esconde que voltou a entrar em "pânico": "'Doutora, tem a certeza que é só um? Eu tenho cinco gémeos'".
A resposta da médica sossegou, mas, diz, nunca fiando, até o nascimento o confirmar.
Desta vez Márcio foi o único, juntando-se aos irmãos, nascidos no Porto, ainda prematuros, com entre 996 e 1.500 gramas. Rafaela e Ricardo tiveram de ser transferidos para os hospitais de Vila Nova de Gaia e de Santa Maria da Feira, enquanto Nuno, segundo a mãe o último a ser ‘descoberto' na gravidez, chegou a estar 10 dias em coma.
Nasceram ainda Giovanna e Márcio, num parto que se tornou numa verdadeira luta pela vida, acompanhada nas primeiras semanas em Portugal e em Angola, tornado o caso dos gémeos conhecido publicamente em ambos os países.
"Nas primeiras horas eu vi apenas dois. A gente não pensava que eles iam vingar, nasceram muito pequeninos", explica, algo angustiada, ao recordar os momentos que se seguiram ao dia 17 de abril de 2002.
Hoje com 15 anos, os gémeos estudam na Escola Portuguesa de Luanda e garantem que em comum, além de se darem bem entre todos, têm apenas uma coisa: "Gostamos muito de dormir", atiram, em uníssono.
Algo que nem sempre é possível entre a azáfama da escola e dos amigos, e a ajuda no movimentado restaurante dos pais, no centro de Luanda.
"Quando temos um problema conversamos todos juntos, os cinco", garante Márcio, que sonha ser futebolista, enquanto a futura psicóloga Giovanna assume: "Apesar de não parecer, somos muito unidos".
Na rua são reconhecidos como os cinco gémeos de Luanda e admitem que numa casa com cinco irmãos de 15 anos não falta animação. Ainda assim, todos tinham o sonho de ter um irmão mais novo, concretizado com o nascimento de Márcio.
"Sempre quisemos ser os irmãos mais velhos", brinca Ricardo, que tem o "objetivo" de ser juiz, enquanto Nuno, também aspirante a jogador de futebol, reconhece as dificuldades que os pais passaram, sobretudo nos primeiros anos. "Agora que temos um só irmão fazemos ideia", diz.
Márcio Oliveira, o pai, prefere desvalorizar os "tempos difíceis" do início e a falta de preparação para ser pai de cinco, ao mesmo tempo e com apenas 22 anos. Mas sempre admite que só o apoio da família permitiu criar todos de uma vez.
Sobre os gémeos, garante que cada um tem características próprias.
"São personalidades diferentes, gostos, características próprias. Totalmente diferentes entre eles", assume.
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Caso único em Portugal
O nascimento de cinco gémeos no Hospital de São João, no Porto, há 15 anos, foi “caso único” naquela unidade e ainda hoje é recordado pelos profissionais com “todos os detalhes”, revelou o diretor do serviço de Obstetrícia.
Em declarações à Lusa, Nuno Montenegro assegura que o hospital “ficou completamente mobilizado” com o parto de Chimene, a jovem angolana de 24 anos que ali entrou com 23 semanas de gravidez e a perspetiva de um parto pré-termo de quatro filhos, acabando por dar à luz cinco crianças, “seis semanas depois”.
Montenegro, que em 2002 já era o responsável do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do hospital de São João, lembra que, mesmo antes de se descobrir a quinta criança, sempre “escondida” nas ecografias, foi preciso mobilizar uma equipa de cerca de 15 pessoas para a cesariana de urgência realizada a 17 de abril, quando o parto se “precipitou” devido à rutura de membranas da grávida.
“No momento do nascimento de bebés prematuros, é preciso de tratar de toda a logística de apoio imediato. Foi preciso recrutar quatro neonatologistas pediátricos, quatro enfermeiras para os apoiar e todo o equipamento necessário para suporte de vida imediato”, descreve o profissional.
De acordo com Nuno Montenegro, foram ainda destacados três obstetras e dois anestesistas, para além de vários “assistentes operacionais”.
O surgimento de um quinto gémeo, inesperado tanto para a família como para a equipa médica, não se revelou complicado.
“Resolveu-se. A logística foi montada para receber quatro bebés pré-termo. São precisos equipamentos e pessoal proporcional ao número de gémeos. Mas não foi por haver um quinto que teve menos assistência”, afiança o diretor do serviço.
Garantir cinco vagas nos cuidados intensivos neonatais do ‘São João’ para os cinco gémeos, com pesos entre 990 e 1.500 gramas, é que foi impossível, pelo que uma das crianças foi transferida para Santa Maria da Feira e outra para Vila Nova de Gaia.
“Mesmo em circunstâncias planeadas, seria impensável ter cinco vagas disponíveis nos cuidados intensivos neonatais”, afirma Montenegro.
Para o diretor, o sucesso deste caso deveu-se ao facto de ter chegado às 29 semanas (cerca de sete meses) a gravidez de Chimene, de nacionalidade angolana, casada com Márcio Oliveira, luso-angolano, ambos atualmente estabelecidos em Luanda e com seis filhos (o casal teve outro filho há quatro anos).
“Ainda hoje, às 23 semanas de gravidez, a viabilidade de cinco gémeos estaria muito comprometida. A sobrevida sem sequelas, sem danos, seria quase impossível às 23 semanas. Com 29 semanas, as coisas, mesmo à época, seriam uma garantia mínima para que as coisas corressem de melhor maneira”, explica.
Segundo Montenegro, este foi o “segundo caso de cinco gémeos” a nascer em território nacional num período de 35 anos.
Entretanto, não voltou a acontecer em território nacional um parto com tantos nascimentos.
O médico explica que, não sendo impossíveis, as gravidezes com tão elevado número de gémeos são “mais comuns” nos casos em que existem “tratamentos de fertilidade, designadamente a indução da ovulação”, que há 15 anos “era pouco controlada”.
“Era muito mais provável que uma gravidez com este número de gémeos acontecesse devido a uma indução de ovulação, designadamente”, observa, alertando que a família angolana sempre assegurou não ter recorrido a qualquer tratamento de fertilidade.
“Há que prever a possibilidade de uma gravidez com tão elevado número de gémeos ocorrer de modo espontâneo”, destaca.
Quanto à indução da ovulação, o médico diz que atualmente existe “uma regulação muito estrita”, pelo que “não é esperado que se volte a viver uma situação idêntica”.
Nuno Montenegro não assistiu ao parto mas recebeu Chimene quando ela deu entrada no ‘S. João’, às 23 semanas de gravidez, transferida do hospital de Braga.
“Recebi-os, com outro colega que já cá não está e lembro-me de confirmar na ecografia que eram quatro. Não se via o quinto. Ver quatro, no segundo trimestre da gravidez, já é um sucesso. Lembro-me de ver 12 embriões, mas num início de gravidez. Mais tarde ficam maiores e escondem-se uns atrás dos outros”, relata.
Nuno Montenegro recorda que a família visitou o hospital de São João “há sete anos, quando os gémeos tinham nove anos”.
“Agora fazem 15 anos. Para cinco gémeos numa mesma gravidez é um sucesso absoluto”, conclui.
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