É uma das grandes ameaças do mundo digital. Metade dos adolescentes que estudam em Buenos Aires, Argentina, não distingue entre publicidade e informação na internet, segundo uma notícia da Agência Nacional de Comunicação (Enacom) daquele país.
Tal conclusão surge com base num estudo da mesma entidade, feito em 2017 com 350 alunos de escolas públicas e privadas da capital argentina. Cerca de 80% dos inquiridos admitiu então que “seleciona a primeira página que lhes aparece no ecrã” quando faz uma pesquisa na internet. “Isto quer dizer que eles podem confiar num artigo patrocinado por um banco como se fosse uma análise da economia feita por uma universidade”, afirmou Roxana Murdochowicz, coordenadora do estudo, ao jornal Clarín.
Na mesma pesquisa, 5 em cada 10 estudantes do ensino secundário admitiu usar uma só página de internet para trabalhar, dispensando comparações com outras páginas – e assim eliminando o risco de contraditório. A mesma percentagem de estudantes diz que usa o site “mais conhecido”, sem distinguir as fontes de informação.
Esta confusão entre informação e publicidade parece não se confinar à Argentina. “A dificuldade em distinguir estes dois géneros é comum e há uma fé inacreditável em relação ao que está na Internet”, reforçou Roxana Murdochowicz, que comparou a pesquisa feita em Buenos Aires com investigações levadas a cabo em Inglaterra e Estados Unidos.
Segundo um estudo do ano passado da Universidade de Stanford, com uma amostra de 7.800 estudantes do ensino médio de várias cidades dos Estados Unidos, a maioria dos adolescentes não distingue publicidade de informação e também acredita que todas as informações que estão na Internet são verdadeiras.
No Reino Unido, um estudo com 1500 crianças desenvolvido pela Ofcom, organismo que regula os meios de comunicação britânicos, revelou que sete em cada dez alunos dos 12 aos 15 anos não distingue estas duas realidades tão díspares e também acredita em tudo que a Internet veicula, argumentando que “se o Google diz é porque é verdade”.
“Embora o acesso à informação seja cada vez maior, a capacidade de refletir é limitada; e apesar de a Internet oferecer a possibilidade de verificar e comparar fontes, os mais novos não o fazem”, salienta Roxana Murdochowicz.
O estudo argentino adverte que a ausência de comparação de fontes tem riscos: “Limita o pensamento crítico e leva a tomadas de decisão sem fundamento”. Por outro lado, “oculta a identidade – e a intenção – de quem produz os conteúdos e não permite distinguir dados falsos dos verdadeiros”.
Murdochowicz mostra-se: “Os adolescentes não identificam a origem das notícias, mas confiam nelas sem qualquer problema. Mesmo quando não sabem quem produziu a informação que estão a partilhar. Este problema está na origem de um fenómeno atual e perigoso: as notícias falsas ou fake news.”
A mesma responsável aconselha os jovens a prestarem atenção aos títulos das notícias e a analisarem a sua relação com o resto do texto, já que muitas vezes a informação anunciada não é fundamentada.
Comentários