O estudo nota também que os pais têm cada vez maior dificuldade em controlar o acesso dos filhos a estas plataformas, ainda que a maior parte dos adolescentes já mentiu sobre a idade para ter acesso a conteúdo limitado e entendem que os conteúdos publicados não prejudicam a sua privacidade.

“As redes sociais e o adolescente” é o nome do estudo realizado por Alícia Rebelo, Sofia Vasconcelos, Liliana Macedo e Miguel Salgado médicos do Serviço de Pediatria do Hospital de Guimarães. Os objetivos do estudo passaram por caracterizar a utilização de redes sociais entre os adolescentes, avaliar o conhecimento dos adolescentes sobre os riscos associados e identificar o tipo de monitorização parental. Para tal contaram com 3518 questionários validados a alunos de idades entre os 9 e os 21 anos do Agrupamento de Escolas Francisco de Holanda (Guimarães), do Agrupamento de Escolas de Infias (Vizela) e da Escola Secundária Martins Sarmento (Guimarães), durante o ano letivo 2017/18.

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Dos resultados obtidos, no que se refere ao parâmetro de caracterização de utilização, destaca-se que 98% dos adolescentes são utilizadores de redes sociais, que iniciaram esta utilização entre os 10-12 anos e que o Youtube, o Instagram e o Facebook são as redes mais usadas.

Ainda que utilizam estas redes várias vezes por dia, durante 1-2 horas, predominantemente à noite, que 28% tem nas redes sociais a atividade que ocupa a maioria do seu tempo livre, mas que 97% prefere estar com os seus amigos pessoalmente. No parâmetro da monitorização parental, é constatado que 85% dos adolescentes teve autorização dos pais para criar conta de acesso, mas também que 85% afirma que os pais não sabem a palavra-passe de acesso a essa conta.

No capítulo da perceção do risco, destaca-se nas respostas que 65% já contactou com desconhecidos, que 61% já mentiu sobre a idade para ter acesso a conteúdo limitado e que os adolescentes entendem que os conteúdos publicados não prejudicam a sua privacidade e ainda que 39% considera que os conteúdos que publica não influenciarão o seu futuro.

Uma das médicas responsáveis pelo estudo, Alícia Rebelo, refere a propósito que “enquanto pediatras cabe-nos não só tratar as doenças dos adolescentes, mas também prevenir e promover o seu bem-estar geral. O acesso às redes sociais é uma realidade. É um acesso fácil, temos a tecnologia desse acesso no bolso, através por exemplo do smartphone. Entendemos que as redes sociais não devem ser diabolizadas. Elas têm muitos benefícios e vantagens, como o desenvolvimento de capacidades técnicas ou a interação entre pares. Mas têm também obviamente os seus riscos. Com este estudo tentamos perceber como podemos ajudar e educar para uma utilização segura e positiva destas redes sociais. Importa por exemplo salientar que os adolescentes utilizam as redes para interação com amigos, para conversar, e que 10% as utiliza para promover capacidades artísticas, como por exemplo partilhar fotos ou vídeos da sua autoria. A utilização das redes é uma atividade que pode e deve ser aproveitada de forma construtiva e benéfica para o adolescente”.

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As conclusões dos médicos apontam para que a tecnologia tem uma presença constante no quotidiano dos adolescentes, que o acesso às redes sociais é uma das atividades mais comuns entre os adolescentes, que o controlo parental é cada vez mais difícil no que diz respeito à monitorização dos conteúdos partilhados e das políticas de privacidade, mas também que o tema das redes sociais é atual e que requer intervenção na comunidade, alertando para os benefícios e riscos da sua utilização.

“O que temos que fazer é alertar os adolescentes, de uma forma aberta e honesta, dos riscos que correm nas redes. Se estiverem cientes disto, irão atuar de forma mais cautelosa, minimizando esses riscos e aproveitando os benefícios que estas redes sociais proporcionam”, finaliza Alícia Rebelo.