Para o conseguir, Marta, 26 anos, criou o projeto “From Kibera With Love”, que apoia 65 crianças e jovens, mas também os seus pais na criação e gestão de negócios para poderem dar algum suporte aos filhos e comprando-lhes camas e colchões para deixarem de dormir no chão e mesas para as refeições.
Em entrevista escrita à agência Lusa, a propósito do Dia Internacional do Voluntariado, que se assinala no sábado, Marta recorda como nasceu a vontade de ser voluntária e os obstáculos que encontrou quando em 2012 chegou sozinha a Kibera para três meses de voluntariado.
Marta sempre acreditou que podia mudar o mundo: “sempre tive esse impulso e hoje em dia é maravilhoso todos os dias ao acordar aperceber-me que isso realmente está a acontecer” e poder “gritar que estou a mudar a vida de mais de 100 pessoas”.
Quando reuniu o dinheiro necessário, Marta fez uma pausa de um semestre na faculdade e partiu para o Quénia. “A verdade é que não tinha nada que me prendesse a Portugal”.
Não sabia bem o que a esperava e como iria dar aulas e brincar com crianças com o seu “terrível inglês”, mas “o mais engraçado foi ver que aquelas crianças ainda diziam menos” do que ela.
“Falavam em swahili que hoje é um idioma que domino o suficiente para sobreviver todos os dias em Kibera, onde vivo” e onde “a corrupção e o oportunismo” são “um desafio constante”.
Após regressar a Portugal, a vida de Marta deu uma volta de 180º e passou a viver em função do projeto. Havia muita gente a querer ajudar em Portugal mas não sabia como.
“Eu estava entre as pessoas que precisavam de ajuda e as que queriam ajudar e a partir daí foi como uma bola de neve”, a história destas crianças foi-se espalhando através do Facebook, as doações começaram a crescer e o projeto nasceu oficialmente em 2013 para chegar a mais pessoas.
Em três anos, o projeto “cresceu imenso”, afirma Marta, que não tem “mãos a medir” para conseguir cumprir as tarefas do dia-a-dia, entre as quais falar com os professores dos miúdos, ir ao banco pagar as contas das escolas, comprar o que as crianças precisam e ir ao médico quando alguma está doente.
“Olhando para trás e entre ameaças de morte, vários problemas e obstáculos, relembro a cara satisfeita e ao mesmo tempo assustada das 16 crianças que coloquei no 1.º ano em 2013” e que hoje já têm a companhia da família e dos amigos e acesso a “educação de nível”, cuidados médicos, alimentação e atividades extracurriculares.
O que mais a fascina nesta aventura é “ter a certeza que está “a mudar a vida” destas crianças, que não tinham a infância que mereciam, não sabiam brincar, não sorriam e não demonstravam os seus sentimentos.
Mas, diz, nada disto seria possível “sem a ajuda de milhares de pessoas” que confiam no seu trabalho, entre os quais se encontram voluntários portugueses, como Daniela Carvalho.
Para Daniela Carvalho, a experiência em Kibera foi “arrebatadora”. Como a Marta disse ‘Kibera é o sítio mais feio do mundo mas com as crianças mais lindas do mundo’, e “é verdade”, diz à Lusa.
Apesar de a favela ter “um nível de miséria” como nunca viu noutras missões, Daniela diz que “as crianças são felizes, têm fogo e vida dentro delas”.
A jovem contou que a vontade de fazer voluntariado nasceu do facto de ter sido adotada com seis anos e crescido “numa família em que os valores morais sempre foram os de ajudar o próximo”.
“O meu maior sonho e objetivo na vida é fazer a diferença, a mesma diferença que fizeram quando me adotaram, porque para mim esses gestos são os que vão mudando o mundo e tornando-o um lugar melhor”, diz, rematando: “ser voluntário faz-se com amor, damos tudo o que somos”.
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