Não existe uma definição universalmente aceite, mas geralmente é entendido como uma doença do aparelho reprodutivo que se traduz por incapacidade em conseguir uma gravidez ao fim de, pelo menos, um ano de coito regular não protegido. "Distingue-se entre infertilidade primária (se nunca houve gravidez) ou secundária se já houve gravidez", começa por explicar o médico Miguel Lopo Tuna, ginecologista especialista em Medicina de Reprodução.
O médico alerta, porém, que existem outros sinais que devem ser investigados e que podem ser precursores de infertilidade, como a menstruação com ciclos irregulares, a ausência de período, antecedentes de cirurgia pélvica ou suspeita de patologia das trompas.
Um antecedente de dois ou mais abortos, patologia genital, doenças de transmissão sexual, doenças genéticas, entre outras, podem também diminuir a probabilidade de gravidez.
No entanto, em muitos casos, conhecer a origem da infertilidade nem sempre é possível.
"Apesar de cerca de 15% dos casais serem inférteis, cerca de 75-80% desses casais conseguem ter filhos", estima o especialista que considera que, do ponto de vista sociológico, a infertilidade tem no casal um "impacto semelhante ao de um cancro".
Taxas de sucesso altas
Os tratamentos de fertilidade em Portugal têm as mais altas taxas de sucesso do mundo mas não existe, em nenhuma clínica, um tratamento 100% eficaz, sendo o fator mais importante para o sucesso a idade da mulher.
As taxas de sucesso da Fertilização in Vitro (FIV) - o tratamento mais sofisticado e eficaz contra a infertilidade - rondam os 30-50% antes dos 35 anos (da mulher) e baixam para cerca de 10% a partir dos 40 anos.
"São tratamentos altamente supervisionados por uma entidade pública, o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA), só podendo ser efetuados em centros, públicos ou privados, devidamente autorizados", assevera o especialista.
Os casais devem também estar informados dos riscos associados às várias etapas dos tratamentos, devendo ler e assinar um consentimento informado acerca dos mesmos, que lhes será entregue pelo médico responsável pelo tratamento. "Um dos riscos importantes de que os casais devem ser elucidados, são os riscos de gravidez gemelar, que tem associado risco de parto prematuro com riscos para a mãe e recém-nascidos", acrescenta o médico.
Que cuidados é que devem ter?
Qualquer mulher que pense em engravidar deve fazer uma consulta pré-concepcional, em que se avalia se poderão existir razões para investigação de potencial infertilidade. "Nessa consulta, além da avaliação clínica, serão pedidas várias análises pré-concepcionais - como grupo de sangue, serologia de rubéola, etc... - e serão aconselhados estilos de vida saudáveis como paragem de hábitos tabágicos e alcoólicos e implementação de alguma atividade física", refere Miguel Lopo Tuna.
O especialista adverte que os casais, ou mulheres solteiras, devem ter sempre o cuidado de procurar centros de tratamentos devidamente autorizados que constem da listagem de Centros Públicos e Privados disponível no site do CNPMA.
Todos os tratamentos contra a infertilidade estão disponíveis no sistema público e privado, sendo a única diferença a existência de listas de espera nas unidades públicas (de cerca de 1 a 2 anos) e ausência de comparticipação (com exceção dos medicamentos) nos tratamentos no sistema privado.
"Existe ainda no Serviço Nacional de Saúde um limite de idade, para início de tratamento, de cerca de 39 anos da mulher, enquanto que a lei permite tratamentos até um limite de idade de 50 anos na mulher e 60 anos no homem", explica o médico.
Os tratamentos de PMA (procriação medicamente assistida) são basicamente de dois tipos:
- A inseminação artificial consiste na introdução de esperma selecionado no útero da mulher e tem uma taxa de sucesso de cerca de 15-25% por tentativa. Implica esperma sem grandes alterações (do dador), pelo menos uma das trompas permeáveis e idealmente uma mulher com menos de 40 anos. Não se excedem as quatro tentativas.
- A Fertilização in Vitro (FIV) que já existe há cerca de 40 anos e a micro-injeção intracitoplasmática (ICSI) existente há cerca de 20 anos. Aqui poderão ser usados gâmetas do casal ou doados. Neste tratamento, geralmente após uma estimulação ovárica, procede-se (sob anestesia) à colheita de óvulos da mulher que são fertilizados em laboratório, procedendo-se alguns dias depois à "transferência" dos embriões para o útero da mulher (a diferença entre FIV e ICSI, refere-se apenas ao modo como ocorre a fertilização, tendo taxas de sucesso e desfechos clínicos semelhantes). Neste tipo de tratamento podem resultar embriões excedentários que poderão ser vitrificados (um processo seguro de congelamento) e "utilizados" pelo casal num prazo de 3 a 6 anos, com taxas de sucesso sobreponíveis e menos riscos e custos.
Existe também a possibilidade de uma mulher preservar os seus óvulos ou até tecido ovárico, bem como de o homem preservar esperma (ambos através de vitrificação). Geralmente estes tratamentos são utilizados no contexto de patologia oncológica ou na chamada preservação de fertilidade por causas sociais (adiamento de plano reprodutivo relacionado com carreira profissional ou outros fatores sociais).
Quem quiser engravidar e não consegue, quais os passos a tomar?
Não deve adiar a procura de clínicas ou médicos devidamente especializados em questões de fertilidade.
Deve-se fazer logo que possível a inscrição num centro público, considerando um tempo de espera de cerca de 1-2 anos para iniciar tratamento. Se tiver pressa, procura um especialista na área privada dentro da listagem supracitada.
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