Bryan Gionfriddo sabia que havia algo errado com o seu filho recém-nascido. Bryan e April, sua mulher, estavam num restaurante quando perceberam que Kaiba, de seis meses de idade, não conseguia respirar. O pânico apoderou-se da família quando Kaiba começou a ficar azul e foi transportado de urgência para o hospital. Os médicos que o viram disseram que, provavelmente, o bebé tinha aspirado algo pelo nariz, mas o episódio repetiu-se dias depois. E continuou a acontecer todos os dias.

 

Após nova observação, os médicos chegaram à conclusão que a obstrução não era devida à presença de um corpo estranho, mas sim ao colapso dos brônquios do bebé. Kaiba tinha malacia bronquial, uma doença rara que envolve um bloqueio que afeta a respiração. Os médicos precisavam de um tratamento médico regenerativo imediato, caso contrário Kaiba não sobreviveria. Idealmente, isto envolveria a inserção de uma tala para manter a passagem aberta e esperavam que permitisse que o tecido crescesse em torno da tala e regenerasse corretamente. Foi isto que os médicos acabaram por fazer – usaram uma tala feita por uma impressora 3D.

 

A Food and Drugs Administration (FDA) ainda não tinha aprovado o recurso a esta tecnologia para uso em seres humanos, mas o tempo era essencial e os médicos correram para conseguirem uma autorização especial para esta abordagem radical. Por outras palavras, quando Kaiba foi operado para que a tala impressa em 3D fosse implantada, tornou-se num primeiro ser humano a ser submetido a este procedimento experimental.

 

O bebé foi transferido do Hospital Infantil Akron para o Hospital Infantil da Universidade do Michigan, onde o tratamento começou. Primeiro, foi submetido a uma série de exames de imagiologia para que os técnicos pudessem obter as dimensões exactas de todos os órgãos e, de seguida, as medições foram usadas para criar um modelo digital. Por fim, a impressora 3D entrou em ação. Demorou um dia inteiro para que a pequena tala, feita à medida, fosse totalmente construída.

 

O material de impressão foi policaprolactona (PCL), um pó que pode ser usado para formar uma substância maleável frequentemente utilizada noutras aplicações médicas. O PCL tem sido usado como enchimento para fechar lacunas no crâio após cirurgias ao cérebro e, no caso de Kaiba, iria formar a tala.

 

O PCL é especialmente indicado para aplicações médicas porque é suficientemente forte para oferecer apoio e, ao mesmo tempo, degrada-se com o tempo – presumivelmente depois do órgão cicatrizar. Isto significa que não é necessária nova operação para removê-lo, já que se degrada e o organismo expulsa o material pelo sistema excretor. Os médicos afirmam que esta tala em PCL durará cerca de três anos até se desintegrar. Nessa altura, esperam, os brônquios do bebé estarão suficientemente fortes e cicatrizados na posição correta.

 

Esta solução pode não ser tão de ponta como a investigação com células estaminais ou a clonagem humana, mas a utilização da tecnologia de impressão 3D na área da medicina tem o potencial de salvar inúmeras vidas. Não são só talas que são possíveis mas também órgãos orgânicos e biónicos. E pelo menos para uma família, a tecnologia é nada menos de que uma solução milagrosa. Até agora, as coisas estão bem. Kaiba foi operado há 15 meses e é capaz de respirar por conta própria, sem ajuda de mecanismos artificiais ou de bombas respiratórias.

 

«Para mim, é magia», diz Glenn Green, o otorrinolaringologista que realizou o procedimento de Kaiba. «Estamos a falar de pegar num pó e usá-lo para construir partes do corpo humano.»

 

 

Maria João Pratt