A rede de apoio especializado da APAV a crianças e jovens vítimas de violência sexual apoiou nos últimos dois anos quase 450 menores, tendo a maioria sofrido atos violentos de forma continuada praticados por familiares, principalmente pelos pais.

Divulgados no dia em que se assinala o Dia Europeu da Vítima de Crime, os dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) adiantam que a maioria das vítimas acompanhadas pela “Rede CARE”, em 2016 e 2017, eram raparigas, principalmente com idades entre os 14 e os 17 anos.

Maus tratos em crianças e jovens: quais são os sinais de alerta?
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“Nestes dois anos de atividade foram apoiadas 446 crianças e jovens vítimas de violência sexual, o que corresponde a cerca de 19 novos processos de apoio por mês”, sublinha a APAV, que lançou hoje a campanha "Pode servir a qualquer pessoa", que visa alertar para o facto “de todas as pessoas poderem ser, em algum momento das suas vidas, vítimas de crime”.

O abuso sexual de crianças foi o principal crime perpetrado contra as crianças (63,6%), sendo que em quase dois terços das situações (63%) ocorreram de forma continuada.

Maioria dos atos violentos aconteceu de forma continuada

A maioria dos atos violentos aconteceu de “forma continuada, sobretudo em contexto intrafamiliar”, 53,1% dos casos, sendo o pai ou a mãe os principais agressores (21,4%). O padrasto ou madrasta foram os agressores em 11,7% dos casos, seguidos do avô ou da avó (4,8%), do irmão ou da irmã (1,8%), tios (6,4%) e outros familiares (7%).

De acordo com os dados, 43,4% dos casos ocorreram em "contexto extrafamiliar", sendo que 7% dos crimes foram cometidos por uma colega ou amigo/a, 4,2% por um vizinho/a, 1,5% por um funcionário/a de atividades extracurriculares e 1,3% por um funcionário/a de uma escola.

Em 11,6% das situações o autor do crime era conhecido da vítima, mas não tinha qualquer relação com ela e em 9% era um desconhecido. Um em cada cinco agressores tinha tem menos de 25 anos, referem os dados, precisando que 12,8% tinham entre 16 e 21 anos e 5,7% entre os seis e os 15 anos

Em 9,1% dos casos o agressor tinha entre 35 e 40 anos e em 8,6% tinham entre 45 e 50 anos, refere a APAV.

Relativamente à idade das vítimas, os dados indicam que 35,87% tinham entre 14 e 17 anos, 30,4% entre 8 e 13 anos, 20,18% entre zero e sete anos, 9,87% entre os 18 e os 23 anos e em 4,4% dos casos não foi possível identificar as idades.

Um em cada cinco agressores tinha menos de 25 anos, referem os dados, precisando que 12,8% tinham entre 16 e 21 anos, 4,4% entre 12 e 15 ano e 1,3% entre 6 e 11 anos.

Em 9,1% dos casos o agressor tinha entre 35 e 40 anos e 8,6% entre 45 e 50 anos.

Nos “crimes contra a liberdade sexual”, destaca-se a violação (7,5%), importunação sexual (6,6%), a coação sexual (4,8%), e o abuso sexual de pessoa incapaz de resistência (0,4%).

Já nos “crimes contra a autodeterminação sexual”, dominam os atos sexuais com adolescentes (5%), seguidos do abuso Sexual de menores dependentes (4,8%), pornografia de menores (3,1%), aliciamento de menores para fins sexuais (2,8%), recurso à prostituição de menores (1%) e lenocínio de menores (0,4%).

A APAV adianta que 81,2% das situações reportadas “foram denunciadas e investigadas”, a maioria (69,6%) foram reportadas pelas vítimas e 16,9% por representantes legais, familiares e amigos e pela APAV.