André Carvalho, 39 anos e ex-profissional na área de Marketing e digital (trabalhou na TVI e na IOL), e Carolina Quina, 32 anos, que trabalhou na TVI durante 8 anos, tomaram a decisão das suas vidas: despediram-se dos empregos e deixaram a casa para viver uma experiência única. Viajar durante 8 meses, onde passaram sobretudo pela Ásia e Oceânia, com os três filhos menores: Leonor (8 anos), Pedro (5 anos) e o bebé André Maria, de 17 meses.
Carolina foi a principal impulsionadora da viagem e, para além de mãe, envergou as vestes de professora e fotógrafa de serviço ao longo desta experiência. A aventura foi sendo documentada num blog, nas redes sociais e agora surge no livro “A Viagem” (Livros Horizonte), onde contam na primeira pessoa como foi antes de partirem, o decorrer da viagem e o regresso a casa.
O SAPO Lifestyle falou com o casal e desde logo impôs-se a pergunta: Porque é que decidiram largar tudo e fazer esta viagem? “Acima de tudo, porque queríamos ver os nossos filhos a crescer. Como quase todas as pessoas, víamos os nossos filhos duas horas por dia, ao final do dia, quando já estão cansados e queríamos parar por um momento e estar com os nossos filhos, o dia todo, durante muito tempo. Para além disso, sonhávamos em viajar e conhecer o mundo. Era um sonho que tínhamos: parar e simplesmente viajar em família”.
Apesar de, para o casal, a decisão parecer fácil, a família e os amigos tiveram reações divergentes. “Houve quem tivesse ficado muito feliz pelo que queríamos fazer. Houve quem tivesse muitas dúvidas. A família mais próxima ficou um pouco apreensiva e desgostosa. Não sabiam como é que iam ficar sem nos ver durante tanto tempo”, contam.
Leonor, Pedro e André Maria, os filhos, tiveram uma participação ativa na criação do livro, escrevendo alguns dos textos e colorindo as páginas com muitos desenhos. Mas antes de partirem nesta aventura, “era apenas uma viagem com os pais”. Só agora no regresso, e depois de voltarem às rotinas, “é que sentimos que eles começam a perceber que tiveram uma experiência pouco usual no país em que vivem”, acrescenta o casal.
A viagem foi planeada antes da partida, com os destinos pré-definidos e que incluíram Tailândia, Austrália, Tasmânia, Nova Zelândia, Bali, Vietname, Hong Kong, Macau, China e Japão. Mas fazer malas para uma família de cinco acabou por se revelar “o único erro”: “Não sabíamos o que pôr numa mala para oito meses e acabamos por levar coisas a mais. No fundo, o que levamos era o que ainda nos ligava à nossa vida aqui. Por isso, em vez de irmos viajar com meia dúzia de coisas, levámos muita coisa. Uma mala e uma mochila para cada um, exceto para o André bebé”.
Tirando a parte da mala, a viagem nunca trouxe arrependimentos, apenas algumas saudades da família, dos amigos, das rotinas e da comida. No entanto, e como o casal nos confidenciou, “a saudade é uma das coisas que dá ainda mais sentido a uma viagem destas. Mas o arrependimento, felizmente, não fez parte dos nossos sentimentos”.
O périplo ficou marcado por momentos inesquecíveis ao longo desses oito meses, como por exemplo, o jantar de Natal numa praia no fim do mundo sozinhos em Kangaroo Island, uma caminhada de 12 quilómetros no Park Abel Tasman, um encontro com uma família portuguesa que também estava a viajar pelo mundo em Sydney, um jantar de amigos em Port Douglas, uma subida ao vulcão em Bali, um passeio por Hanoi ao final da tarde, um almoço na margem do rio em Yangshuo, uma festa de anos de um filho de uns amigos em Pequim e, ainda, um almoço de sashimi no mercado do peixe em Tóquio.
Todas estas experiências criaram memórias inesquecíveis na família, que ainda partilharam nesta entrevista o melhor e o pior de viajar em família. Do lado positivo, realçam o contacto com novas pessoas, a vida em perspetiva, os momentos hilariantes, as saudades, mas sobretudo aproveitar as coisas mais simples e usufruir em pleno da família. Já do outro lado da moeda, “as malas (quando se leva muitas), quando não há ligação com as pessoas e costumes, poluição, não poder beber água da torneira, escalas e controlo de passaportes e fronteiras”.
No regresso, os filhos também reagiram de formas diferentes e começam agora a exteriorizar os efeitos desta viagem. “Enquanto nós adultos sentimos uma reação assim que chegámos, as crianças nem por isso. Agora, sim, sente-se que mudaram. Por exemplo, o Pedro que era mais caseiro e agarrado às rotinas, agora está sempre a falar em viajar. E a Leonor, que durante a viagem não quis saber da sua vida cá nem por um segundo, agora que voltou está mais presa às rotinas e mais resistente em viajar”, revela o casal.
No final, que lição se pode tirar de uma viagem deste género, em família? Para André Carvalho e Carolina Quina, a resposta não tem muita ciência: “As coisas simples da vida são as melhores. Devemos viver cada momento sem estar ansiosos pelo próximo. Devemos fazer mais o que queremos do que o que não queremos”.
André e Carolina têm agora um novo projeto profissional. Abriram a sua própria agência de viagens, a Blue Olive, que já tinham iniciado um pouco antes de partirem. “É uma agência de viagens com um perfil diferente, que faz viagens à medida de cada pessoa para qualquer parte do mundo e que não podia estar a correr melhor”.
5 dicas de Carolina Quina e André Carvalho para famílias que pensam fazer uma viagem longa:
- Aproveitar todos os momentos;
- Tentar ter sempre calma para usufruírem da melhor forma;
- Não levar muitas malas;
- Ter a viagem minimamente planeada para diminuir tempos de indefinição, que criam ansiedade nas crianças;
- Estar disponível para conhecer novas pessoas.
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