O primeiro-ministro apontou o dia 4 de maio como data limite para conseguir cumprir o calendário escolar do ensino secundário com o eventual recomeço das aulas presenciais, suspensas a 16 de abril para tentar controlar a disseminação da covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus.

Para a Federação das Associações de Pais de Vila Nova de Gaia (Fedapagaia) esta é uma “ideia inconcebível” que pode pôr em risco as famílias, tendo em conta as recentes declarações da Ministra da Saúde de ainda não haver “luz ao fundo do túnel” no combate ao novo coronavírus.

“Só por causa dos exames de acesso ao ensino superior, vamos colocar alguns alunos na escola e outros em casa. A nosso ver, ou bem que há condições para irem todos ou então não vai ninguém”, criticou José Cardoso, presidente da Fedapagaia, em declarações à Lusa.

Segundo José Cardoso, a Fedapagaia fez um inquérito online e vários pais afirmaram que não deixarão os filhos ir à escola caso reabram: “Em circunstância alguma os pais irão aceitar o retorno das aulas presenciais neste ano letivo, pelo que a data de 4 de maio que está a ser equacionada não poderá ter acolhimento”.

O representante dos pais lembrou ainda que a opção das aulas presenciais para os alunos do secundário iria trazer uma situação caricata para as famílias que têm mais do que um filho.

“Íamos ter casos em que um deles ia à escola e o outro ficava em casa sob proteção o que impossibilitaria que se garantisse a segurança dos que ficam em casa pois teríamos sempre uma “porta aberta” para a propagação do vírus através das escolas”, alertou José Cardoso.

Também Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), disse à Lusa que alguns pais já fizeram saber que os seus filhos não irão à escola enquanto a pandemia de covid-19 se mantiver tal como está.

 “Dizem que preferem que os filhos chumbem de ano, se for caso disso, a terem de correr o risco de os filhos ficarem contaminados”, contou à Lusa.

Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional e Dirigentes Escolares (ANDE), lembrou que a reabertura das escolas para receber os alunos do secundário implicaria outros aspetos, que vão desde existirem transportes públicos para todos os alunos, até à logística dentro das próprias escolas.

“As turmas têm de ser divididas em grupos mais pequenos, por causa da distância social, o que implicará ter mais professores disponíveis para o mesmo grupo de alunos”, alertou.

No entanto, Manuel Pereira duvida que dentro de um mês a disseminação da doença permita a reabertura das escolas. Para Manuel Pereira, essa é uma “visão muito otimista”.

Para o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, a reabertura das escolas só deverá acontecer caso haja garantias de segurança por parte das autoridades de saúde.

"Acredito que as escolas só vão abrir quando estiverem garantidas todas as condições. Estou convencido que ninguém tomará uma decisão que coloque em risco os jovens e a comunidade educativa", disse Jorge Ascenção em declarações à Lusa.

Para a Federação das Associações de Pais de Vila Nova de Gaia (Fedapagaia) o único caminho possível para o terceiro período, neste momento, é o ensino à distância e por isso é preciso acautelar a situação dos alunos que não têm acesso à internet ou que não têm equipamentos.

A Fedapagaia lembrou também a necessidade de encontrar soluções para os alunos do ensino especial, “particularmente vulneráveis neste contexto”.

Portugal registou até hoje 311 mortes associadas à covid-19e 11.730 infetados, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

O primeiro caso conhecido em Portugal surgiu há pouco mais de um mês e em meados de março o Governo mandou encerrar todas as escolas do país e depois decretou o Estado de Emergência, que já foi prorrogado por mais 15 dias.