Na terça-feira recomeçam as aulas para mais de um milhão de alunos do ensino obrigatório – do 1.º ao 12.º anos – que terminaram o 2.º período com o ensino dado à distância.
O regresso às aulas faz-se novamente com as escolas fechadas, tal como definido pelo Governo para tentar combater a disseminação do novo coronavírus que já infetou quase 17 mil pessoas e provocou mais de 500 mortes em Portugal.
À Lusa, o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, disse estar confiante com o recomeço das aulas, uma vez que foram sendo corrigidos erros e afinadas falhas nas duas últimas semanas de aulas do 2.º período, que já decorreram à distância.
“Claro que existem realidades muito diferentes no país: Houve escolas que terminaram o segundo período bem, enquanto outras tiveram muitos problemas. Durante as férias, houve tempo para pensar em soluções mas só agora vão conseguir perceber, no terreno, se o que planearam foi o melhor”, sublinhou Jorge Ascenção.
A principal preocupação dos pais continua a ser o grupo de cerca de 50 mil alunos sem acesso às aulas dadas à distância.
“Ainda existe a necessidade de garantir e trabalhar para que as aulas e conteúdos cheguem a todas as crianças, o que muitas vezes já era complicado quando havia ensino presencial”, lembrou Jorge Ascenção, saudando a decisão do Governo de relançar um projeto semelhante à TeleEscola, que usava a televisão para ensinar algumas matérias.
A 20 de abril, a RTP Memória começa a transmitir diariamente blocos de aulas para os alunos do 1.º ao 9.º ano de escolaridade, para apoiar os professores das escolas encerradas mas também para tentar chegar aos alunos que não conseguem aceder às aulas à distância.
Para um grupo de pais, encarregados de educação, movimentos e sindicatos, a solução deveria passar pelo lançamento de um “Programa Nacional de Transformação Digital na Educação”.
A ideia está numa carta aberta enviada para o Ministério da Educação, a quem pedem o acesso universal às tecnologias de informação e à Internet e o combate à iliteracia digital.
Na carta são apresentadas as realidades de vários agrupamentos de escolas através de números “preocupantes e reveladores das desigualdades sociais”, segundo o documento cujo primeiro signatário é o presidente do MESA - Movimento Escolas Sem Amianto, André Julião.
“Se no Agrupamento de Escolas da Portela e Moscavide, em Loures, a percentagem de alunos sem acesso a computador é pouco superior a 10%, já na EB 2,3 do Viso, no Porto, o número sobe para 25%. Estes valores sobem a pique para os 75% no Agrupamento de Escolas do Catujal-Unhos, em Loures, e superam os 90% no Agrupamento de Escolas da Trafaria, em Almada”, lê-se no documento.
Os signatários lembram que “estas desigualdades limitam o acesso universal à Educação prevista na Constituição da República Portuguesa e impedem que parte dos alunos consiga acompanhar as atividades letivas quando as aulas presenciais não são possíveis”.
O programa de transformação digital prevê ainda a desmaterialização do acesso à informação e ao conhecimento, “reduzindo o peso que os livros em papel ainda têm no ensino presencial”, e prever alternativas não presenciais.
O primeiro-ministro anunciou na semana passada que o Governo estava a trabalhar para garantir que, no próximo ano letivo, haja acesso universal dos alunos dos ensinos básico e secundário à Internet e a equipamentos informáticos.
Na terça-feira recomeçam as aulas dos alunos do 1.º ao 12.º ano de escolaridade, que representam a maioria dos mais de dois milhões de crianças e jovens que estão em casa desde 16 de março, dia decretado pelo Governo para encerrar todos os estabelecimentos de ensino desde creches a universidades e politécnicos.
Poucos dias depois, o Governo decretou o estado de emergência em resposta ao novo coronavirus, cujos primeiros casos confirmados foram registados em Portugal a 02 de março. O país encontra-se em estado de emergência até 17 de abril.
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