Como é que nasceu a ideia de criarem a Tem-Tem?
A ideia surge de duas necessidades diferentes. Por um lado, o Hugo e o João, como fisioterapeutas e osteopatas infantis, tinham dificuldade em recomendar calçado adequado para as crianças. Por outro, o Nuno e o Ricardo, como pais, tinham dificuldade em comprar calçado adequado para os respetivos filhos.
Apresentam o vosso produto como “calçado respeitador”. O que é que isto significa?
Como qualquer pessoa pode facilmente verificar, os sapatos que usamos habitualmente não são desenhados a pensar nos pés. Basta vermos como o nosso pé tem um formato mais alargado à frente – na zona dos dedos –, enquanto o calçado convencional tem o formato mais alargado atrás e afunila na zona dos dedos.
Pelo contrário, o calçado respeitador é aquele que é desenhado e produzido a pensar na saúde e bem-estar dos pés. Isto é conseguido através de calçado extremamente flexível, leve como uma pluma, com uma sola fina e sem declive, uma biqueira (toe box) larga, onde os dedos se podem mover livremente, sem contraforte ou qualquer outro reforço e com uma palmilha fina e sem elementos anatómicos. Estes são os seis princípios fundamentais do calçado Tem-Tem.
Muitas vezes os pais acham que a criança é desajeitada ou trapalhona, quando na verdade só lhe estão a criar dificuldades com a utilização de calçado muito pouco flexível
E como é que o uso de calçado não adequado afeta a saúde dos pés das crianças?
Para crescerem fortes e saudáveis, os pés das crianças precisam de se desenvolver da forma mais natural possível. Isto é impossível com calçado que não respeita os pés, seja porque a biqueira é apertada e condiciona o livre movimento dos dedos ou porque a esmagadora maioria tem um declive que, obrigatoriamente, altera o centro de gravidade da criança. Além disso, o calçado rígido tem um claro impacto na capacidade que a criança tem de interagir com o meio ambiente. Muitas vezes os pais acham que a criança é desajeitada ou trapalhona, quando na verdade só lhe estão a criar dificuldades com a utilização de calçado muito pouco flexível.
A forma que tratamos a saúde dos pés nesta fase – dos primeiros passos – pode ter efeitos/consequências no futuro? Porquê?
Os pés servem de base para todo o corpo em termos de suporte, equilíbrio, postura e bem-estar geral. É, por isso, que ter problemas nos pés pode causar dores nas costas, problemas nas articulações, problemas de postura ou até afetar a saúde dos seus órgãos.
No caso das crianças, é ainda mais importante manter os pés saudáveis, porque qualquer alteração no seu desenvolvimento pode causar patologias ou deformações que ficarão até à idade adulta e que terão consequências em todo o corpo.
Já existem estudos que o demonstram cabalmente, como um realizado na Áustria, em 2001, que observou claramente a existência de uma relação significativa entre usar sapatos apertados – entre os 12 meses e os 10 anos –, e a probabilidade de desenvolver Hallux Valgus, mais conhecido por joanete.
Os vossos sapatos são feitos, idealmente, para crianças com idades compreendidas entre os 10 meses e os três anos de idade. Não pensam criar calçado respeitador também para outras idades? Porquê?
Faz parte dos nossos planos futuros. Começámos pela primeira fase de marcha porque nos parece a mais importante no desenvolvimento do pé, mas o objetivo é alargarmos os tamanhos disponíveis para podermos acompanhar as crianças durante todo o seu desenvolvimento. Já temos, inclusivamente, muitos pedidos de pais para aumentarmos os números porque querem continuar a calçar Tem-Tem aos filhos que já estão demasiado crescidos para usar o nosso tamanho máximo.
falta, sobretudo, maior atenção para o tema do calçado respeitador.
E como tem sido a receção do mercado? Tem existido muita procura? O que é que acham que ainda vos está a faltar (se se aplicar)?
A receção foi excelente, creio que havia mesmo muita gente à espera que chegasse a primeira marca portuguesa de calçado respeitador para os primeiros passos e aquisição de marcha. Tanto os pais, como os especialistas (podólogos, fisioterapeutas, etc) têm sido unânimes em considerar os nossos sapatos como excelentes para a primeira fase da vida das crianças.
O que falta, sobretudo, é maior atenção para o tema do calçado respeitador. Depois de lerem e perceberem o que temos para dizer sobre a importância do calçado, não acredito que existam muitos pais que voltem a comprar calçado convencional para os filhos.
Falem-nos dos modelos que têm disponíveis agora no mercado...
A nossa gama regular é composta por dois modelos: Fogg e Nemo, cada um com três variações de cor. A grande diferença é que os Fogg têm um velcro e dois elásticos, enquanto os Nemo têm dois velcros e permitem um maior ajuste para peitos do pé mais altos. De momento, temos também duas edições limitadas: Nemo Bege e Branco e Nemo Pirata.
Os Nemo Bege e Branco foram uma edição limitada que idealizámos para assinalar a chegada da primavera. Os Nemo Pirata são um lote de sapatos que era para ser Nemo Cinza e Branco, mas devido a uma falha na encomenda o tom de cinzento da pele não era o habitual (o que faz com que seja diferente do cinzento da biqueira).
Como acreditamos na importância da sustentabilidade e em reduzir ao máximo o desperdício, decidimos, desde logo, não recorrer à prática mais comum da indústria que é a de inutilizar o lote. Ao invés, optámos por fazer destes piratinhas um lançamento especial, a um preço mais reduzido.
A aceitação tem sido incrível e, em apenas duas semanas, já temos um dos números esgotados.
Serão sempre estes os modelos ou esperam lançar novos? Se sim, já têm datas?
No futuro, temos planos de desenvolver também sandálias e botas, sempre seguindo os princípios do calçado respeitador. Estamos a fazer um esforço grande para as sandálias estarem prontas a tempo deste verão, mas, neste momento, ainda não é possível confirmar que vá mesmo acontecer e, por isso, não temos ainda datas de lançamento.
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