Datada de novembro e facultada hoje à agência Lusa, a “Breve caracterização do edificado e residentes” feita pelo município liderado pelo presidente independente Rui Moreira estima que residam 304 pessoas no bairro onde a implosão da primeira torre de 13 andares ocorreu a 16 de dezembro de 2011.

Naquele bairro de Lordelo do Ouro, que assistiu à demolição da segunda de cinco torres em abril 2013, vivem atualmente 58 famílias “associadas à prática de atividades ilícitas”, segundo um apuramento feito pelo município “junto das entidades policiais e judiciais”, revela o documento.

A torre 1, desde sempre identificada como epicentro do tráfico de droga no bairro, é que a menos residentes acolhe (84), a que mais casas devolutas têm (35) e a que mais agregados familiares (29) tem referenciados no documento como “associadas à prática de atividades ilícitas”, acrescenta a caracterização.

“Do universo dos 192 fogos, presentemente encontram-se ocupadas 101 habitações, e as restantes devolutas”, revela o texto, que identifica ainda cinco “processos de transferência”.

A intenção de demolir o “Aleixo”, considerado problemático devido ao tráfico de droga, foi anunciada pelo anterior presidente da Câmara do Porto, Rui Rio (PSD), a 16 de julho de 2008, numa altura em que se estimava que vivessem no bairro cerca de 960 pessoas.

O processo foi suspenso durante a campanha autárquica de 2009 devido à contestação dos outros candidatos, mas Rio retomou o Fundo Especial de Investimento Imobiliário (FEII) para demolir o bairro depois das eleições que lhe deram a primeira maioria absoluta.

A torre cinco do Aleixo (a mais próxima do rio Douro) foi a primeira a ser demolida, às 11:45 de 16 de dezembro de 2011, precisamente dez anos depois da inesperada primeira vitória eleitoral de Rui Rio nas autárquicas de 2001, numa operação que envolveu 150 quilos de vários materiais explosivos e obrigou mais de 500 moradores a abandonar as casas.

Em abril de 2013, ainda com Rui Rio na presidência da Câmara, foi demolida a torre 4, mas o processo esteve num impasse de mais dois anos, devido à falta de liquidez do fundo imobiliário.

Em junho de 2014, o autarca Rui Moreira alertou que o Fundo do Aleixo (Invesurb) tinha entrado em risco de liquidação por estar no limite do capital máximo admitido (cinco milhões de euros).

O independente anunciou ainda ter pedido uma auditoria sobre o fundo que, desde julho de 2012 era detido pela autarquia, a Espart (do Grupo Espírito Santo) e o empresário António Oliveira, com 30, 33 e 37% das participações no capital, respetivamente.

O FEII tinha sido constituído em 2009 mas, em maio de 2012 o seu principal investidor (Vítor Raposo, através da Gesfimo) ainda não tinha subscrito os 60% de unidades de participação previstas no contrato, pelo que a Câmara aprovou um aumento da participação autárquica no fundo e a entrada do ex-futebolista e treinador António Oliveira no negócio.

Em junho de 2015, a Câmara comunicou a entrada da Mota-Engil para o capital do fundo, com dois milhões de euros.

A Câmara aguarda neste momento que o Tribunal de Contas dê luz verde à compra de terrenos de cerca de dois milhões de euros para viabilizar o fundo criado para demolir o bairro do Aleixo, revelou na segunda-feira à Lusa fonte autárquica.