«As meninas projetam-se no papel de mãe mais cedo do que os rapazes no papel de pai», como refere a psicóloga Filomena Bayle. Já nessa altura a menina se preparava para ser mãe. Porém, o nascimento de uma mãe não acontece num momento definido, não existe um instinto materno que em dado momento é ativado, nem passa necessariamente pela vivência da gravidez, como é o caso na adoção.

Esperanças, sonhos, medos e fantasias

Gradualmente a partir do trabalho desenvolvido ao longo dos meses que antecedem e se seguem ao nascimento, ou à espera, do bebé, uma mulher vai-se tornando mãe.

Durante a gravidez, ao mesmo tempo que o seu corpo forma o feto, a sua psique prepara ativamente o caminho para a nova identidade, e o bebé imaginado toma lugar na mente da futura mãe, predispondo-se para receber o bebé real. A grávida estará completamente ocupada com esperanças, sonhos, medos e fantasias, perguntando-se como será o bebé, como será no papel de mãe e como será o parceiro no papel de pai.

A nova imagem na grávida

Neste processo a mulher vai procurar estabelecer uma rede de suporte formada pela família e amigos. A imagem corporal da grávida vai-se modificar e, ela terá antes de mais tem de aceitar o crescimento dentro de si de um ser estranho e depois lidar com as transformações e incómodos físicos que vão ocorrendo, o que pode não ser fácil, sobretudo quando a mulher não se reconhece nesta nova imagem.

Virar para dentro, introspetivo, foco no corpo e nas emoções

Até estar garantida a viabilidade da gravidez, por volta da 12ª semana o mais comum é a mãe ainda não se deixar mergulhar em pensamentos específicos em relação ao bebé. Nesta fase inicial há um virar para dentro, introspetivo, focalizado no corpo e nas emoções da mulher, geralmente associado a mais sono, menos apetite e mais sonhos com acidentes com a mãe ou o bebé, a par de um reavaliar da identidade feminina.

A sua própria mãe como espelho

Nesta passagem de filha a mãe, a mulher começa a identificar-se com a sua própria mãe e com a relação precoce que com ela teve, aumentando a curiosidade em relação a ela e outras figuras maternas e diminuindo em relação ao pai e aos homens. A história da sua educação passa a ser alvo do seu sentido crítico e o resultado é um reelaborar da relação com a mãe. O interesse pelo parceiro é nesta fase mais centrado na sua identidade como pai do seu filho do que como seu companheiro e muitas vezes isto é acompanhado de uma diminuição da disponibilidade e do desejo sexual da mãe. Os primeiros sentimentos ambivalência vão ser sentidos. A par de um sentimento de felicidade pode haver outros de estranheza, insegurança, pânico, irritabilidade ou agressividade face à expectativa das novas responsabilidades ou o medo de perder o bebé, como refere Bayle.

Texto: Teresa Abreu, Psicóloga clínica e coordenadora científica de A Nossa Gravidez Guia para Pais Grávidos

Com edição de: Ana Margarida Marques

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