A incidência de bacteriúria na mulher grávida é aproximadamente a mesma da mulher não grávida. Contudo, a bacteriúria recorrente e a pielonefrite são mais comuns durante a gravidez, como consequência das alterações fisiológicas do trato urinário.

A infeção urinária ocorre em 5 a 10% das mulheres grávidas, sendo na maioria dos casos uma bacteriúria assintomática (2-7%). A incidência de cistite é de 1,5% e de pielonefrite 1-2%.

No período gestacional ocorrem alterações fisiológicas e anatómicas, como a dilatação dos ureteres, a compressão da bexiga pelo útero, o aumento do fluxo urinário, devido ao aumento do volume sanguíneo total, e a perda de glicose na urina, originando um maior índice de nutrientes que provocam o surgimento de bactérias. Assim, a probabilidade das gestantes desenvolverem infeções do trato urinário aumenta, essencialmente na segunda metade da gestação.

As infeções urinárias constituem uma das complicações médicas mais frequentes na gravidez, sendo responsáveis pelo aparecimento de complicações em 20% das gestações e por 10% dos internamentos.
Na grávida os microrganismos responsáveis pela bacteriúria e infeção urinária são os mesmos da mulher não grávida.

O diagnóstico precoce e o tratamento atempado da bacteriúria assintomática e das infeções urinárias sintomáticas, como a cistite aguda e a pielonefrite, são fulcrais na prevenção de graves complicações na gestação, como baixo peso do feto à nascença e parto pré-termo. A Urocultura constitui o teste de referência para o diagnóstico da bacteriúria assintomática, realizado através da colheita de urina, e além de diagnosticar a infeção permite identificar o agente envolvido. A realização simultânea do antibiograma fornece ainda informação de quais os antibióticos sensíveis ou resistentes à bactéria, ajudando o médico assistente na prescrição do tratamento mais adequado.

Na realização deste teste laboratorial uma pequena amostra de urina é semeada num meio de cultura específico (placa de gelose), permitindo aos microrganismos presentes crescerem e formarem colónias. As características morfológicas e a coloração das colónias ajudam o Patologista Clínico a identificar as bactérias presentes. Os testes bioquímicos identificam as bactérias presentes e os testes de suscetibilidade aos antibióticos identificam os agentes antimicrobianos que são suscetíveis de inibir o crescimento das bactérias.

A presença de uma tipologia de bactérias que cresce é considerada uma Urocultura positiva. Culturas com contagem igual ou superior a 100.000 unidades formadoras de colónias (UFC)/ml de um tipo de bactéria são geralmente indicadoras de infeção.

O rastreio da bacteriúria assintomática deve ser feito a todas as grávidas no primeiro trimestre da gravidez (entre a 12ª e 16ª semana de gestação ou na primeira visita) e deve ser repetido caso a urocultura seja positiva ou sempre que existam fatores de risco para infeção (antecedentes de infeções urinárias, diabetes mellitus, hemoglobina S ou risco de parto pré-termo).

A urocultura na grávida deve ser realizada quando existem sintomas de infeção urinária (disúria-ardor ao urinar) ou outros sintomas como febre, arrepios ou dor lombar.

Por Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica

Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica
Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica