A anemia é uma condição em que não há glóbulos vermelhos (eritrócitos) saudáveis em número suficiente para o transporte adequado de oxigénio, para os tecidos do corpo, de forma a satisfazer as necessidades fisiológicas do organismo. É caracterizada pela descida, para valores inferiores aos normais, de um ou mais dos principais parâmetros eritrocitários (concentração da hemoglobina, hematócrito ou glóbulos vermelhos).
A gravidez incorpora um sistema que inclui mãe, feto e placenta, existindo assim uma tríade que é necessária sustentar. A gravidez normal origina muitas alterações na fisiologia materna, incluindo alterações nos parâmetros hematológicos.
A anemia é um dos problemas mais frequentes durante a gravidez e contribui para a morbilidade e mortalidade materna e fetal. A causa mais frequente de anemia é a deficiência de ferro.
O hemograma é a análise clínica mais indicada para o despiste de anemia, pois permite quantificar um conjunto de parâmetros, nomeadamente, o número de glóbulos vermelhos e a concentração de hemoglobina no sangue da grávida.
Durante o acompanhamento Pré-Natal, a medicina laboratorial desempenha um papel fulcral no despiste de patologias que podem afetar a mãe e o feto. O hemograma completo é realizado logo no 1º trimestre da gestação, antes das 13 semanas, e ao analisar as células sanguíneas da grávida, para além do despiste da anemia, permite avaliar o estado geral de saúde da mãe e despistar e controlar variadas alterações.
A anemia e a deficiência de ferro têm impacto negativo na mãe, feto e placenta. No que toca à gestante, a anemia pode conduzir a insuficiência cardíaca, hemorragia pós-parto, pré-disposição para a infeção, atraso na recuperação pós-cesariana, risco de embolia e o útero, com carência de ferro, pode ter pequenas fragilidades nas fibrilas musculares e dificuldade em contrair-se.
Para o feto a anemia pode causar atraso de crescimento intrauterino, risco de morte fetal no útero três vezes superior e prematuridade. Um bebé quando nasce num ambiente deficiente em depósitos de ferro pode desenvolver deficiências a nível cognitivo e das aptidões mentais.
Hemograma: a interpretação de resultados
As células circulantes no sangue são divididas em três tipos: glóbulos vermelhos (eritrócitos), glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas. O hemograma é considerado “completo”, pois consiste numa contagem automatizada das células no sangue, nomeadamente: glóbulos vermelhos (GV), concentração de hemoglobina (Hb), hematócrito (Ht), volume globular médio (VGM), hemoglobina globular média (HGM), concentração média de hemoglobina globular (CMHG), glóbulos brancos (GB), contagem diferencial de leucócitos (leucograma) e contagem de plaquetas.
Esta análise clínica é realizada a partir de uma colheita normal de sangue de uma veia do antebraço da mãe.
Na mulher grávida, a anemia é definida quando a concentração da hemoglobina é inferior a 11 g/dL no primeiro e terceiro trimestre e inferior a 10,5 g/dL no segundo trimestre.
Por Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica
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