A gravidez é um período único na vida da mulher, quer pelas profundas alterações fisiológicas e hormonais que o seu corpo experiência, quer em termos psicológicos.
É difícil saber como se comportará a doença numa primeira gravidez. Em algumas grávidas assiste-se a uma melhoria, mas noutras pode mesmo aumentar o número de lesões no corpo e as lesões poderão revestir-se de um aspeto distinto do habitual.
A Psoríase é uma doença crónica, causada por alterações moleculares no nosso sistema imunológico (imunopatogénese). As manifestações são de forma habitual somente cutâneas, mas, em alguns casos pode envolver para além da pele também as articulações e outros órgãos.
Esta doença é simultaneamente afetada por fatores ambientais e genéticos, não se conhecendo completamente o papel dos fatores hormonais.
O tratamento
Pelo receio de que alguns dos medicamentos com que se trata a Psoríase possam trazer problemas ao desenvolvimento do bebé (conhecido por teratogenicidade), muitos são interrompidos quando se planeia ou se confirma uma gravidez.
Esta suspensão do tratamento muitas vezes de forma repentina pode também contribuir a pouco e pouco para o aumento das lesões na pele.
Planeie cuidadosamente com o seu dermatologista o plano terapêutico durante este período e o de amamentação, pois alguns tratamentos são seguros e o risco- benefício destes medicamentos deve ser reavaliado continuamente ao longo desta fase de vida tão particular.
O risco do bebé vir a desenvolver Psoríase, está intimamente relacionado com a predisposição genética da família. A probabilidade será superior se ambos os pais tiverem as manifestações da doença.
Não é a mãe que transmite diretamente a doença ao filho(a) como em algumas outras doenças (autossómicas dominantes) pois, ainda que sejam herdadas as alterações genéticas de um dos progenitores, a doença pode nunca se vir a manifestar sem outros fatores ambientais e imunológicos.
A Psoríase na gravidez pode apresentar-se de formas muito distintas
A Psoríase vulgar (também designada por Psoríase em placas) é a mais comum, caracterizando-se por lesões eritematosas com superfície descamativa, por vezes espessa de cor branca. As regiões do corpo habitualmente mais afetadas são os cotovelos e os joelhos, podendo surgir noutras áreas da pele corporal.
A Psoríase guttata é mais típica das grávidas muito jovens. Trata-se de uma forma de psoríase cujas lesões são muito pequenas, com diâmetro inferior a 1 cm.
Outra forma de Psoríase é a pustulosa, caracterizada por pequenas pústulas todas muito semelhantes entre si, podendo cobrir áreas muito extensas da pele do corpo.
A Psoríase ungueal como o nome sugere, é o envolvimento das unhas pela doença. Podem aparecer manchas amareladas (manchas de óleo), pequenas depressões na superfície da unha (pitting) e áreas de separação entre a unha e o leito ungueal (que surgem como áreas esbranquiçadas da unha e se confundem frequentemente com infeções fúngicas).
Os estudos realizados até ao presente não permitem afirmar categoricamente que a Psoríase melhora durante a gravidez e que agrava após o parto. A evolução da doença varia de grávida para grávida e por vezes na mesma grávida entre gravidezes sucessivas. Parece haver um número significativo de mulheres que descrevem uma melhoria da doença no segundo e no terceiro trimestre da gravidez e outras a estabilização da doença.
No entanto, não é raro observar um aumento do número de lesões no período pós-parto, fruto de alterações hormonais e imunológicas, mas possivelmente relacionadas também com o stress fisiológico e psicológico inerentes a um número menor de horas de repouso.
A gravidez das mulheres que têm Psoríase traz naturalmente preocupações diversas quanto ao impacto da doença nesta fase da vida reprodutiva. Apesar da falta de ensaios clínicos incluindo grávidas (estudos para introduzir novos medicamentos no tratamento da Psoríase), têm-se hoje muita informação acerca dos tratamentos que serão seguros e que tratamentos devem ser evitados na gravidez e na amamentação.
A gravidez e as opções terapêuticas disponíveis devem ser planeadas com o seu dermatologista.
Texto: Dra. Ana Paula Maio, Especialista de dermatologia na Cuf Tejo
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