Ouça música, sim, mas com moderação! Esta arte é conhecida pelo seu efeito calmante e por levar à boa disposição, sendo por isso vista como inofensiva ao ser humano. No entanto, o problema não reside na música que se ouve mas sim na forma ela é ouvida. Para camuflar e abafar os ruídos do exterior, os jovens recorrem a auscultadores e têm por hábito aumentar bastante o volume, ouvindo música num nível entre os 85 e os 120 decibéis (dB). No entanto, este último valor é equivalente ao som de um motor de avião em funcionamento ou a uma vuvuzela, por exemplo, sendo que basta ouvi-la durante nove segundos por dia para se correr o risco de perda permanente da audição.

Um sentido humano que, uma vez perdido, é irrecuperável. A Organização Mundial de Saúde (OMS) acaba de revelar que mais de mil milhões de jovens em todo o mundo correm o risco de sofrer danos auditivos por ouvirem música com o volume demasiado elevado. De acordo com esta entidade, o nível de ruído em concertos e bares é, muitas vezes, demasiado elevado, tal como o volume nos dispositivos de áudio e nos headphones dos smartphones.

Por estes dois fatores, estima-se que 50% dos jovens e dos adultos entre os 12 e os 35 anos nos países de rendimento médio ou elevado estejam expostos a níveis extremamente elevados de ruído. Ainda de acordo com a organização, o mais alto nível de ruído no local de trabalho não deve ultrapassar os 85 decibéis até oito horas diárias, mas muitos funcionários que trabalham em estabelecimentos de diversão noturna ou em eventos desportivos estão expostos a níveis mais elevados, por vezes acima dos 100 decibéis.

Sem falar da quantidade de pessoas que, nas mais variadas profissões e durante o período laboral, faz uso dos auscultadores para se concentrar e isolar do mundo ao seu redor. Uma outra pesquisa, desenvolvida pelo New York City Department of Health, também já tinha confirmado que os jovens que usam frequentemente headphones e que estão expostos durante longos períodos a um nível de ruído intenso devem preparar-se para consequências futuras, como zumbido ou redução da qualidade auditiva, sendo que a probabilidade de perda auditiva duplica para este grupo em comparação a jovens que não fazem uso recorrente deste tipo de aparelhos.

As (outras) causas na origem dos problemas auditivos atuais

Como este problema surge de forma lenta e progressiva, estima-se que quando os adolescentes de hoje chegarem aos 30/40 anos de idade, já vão sentir consequências graves e muito mais cedo que as gerações anteriores. Em todo o mundo, cerca de 360 milhões de pessoas sofrem, atualmente, de problemas auditivos, que se devem a causas diversas, incluindo doenças infecciosas, questões genéticas, complicações no momento do nascimento, uso de certos fármacos, excesso de ruído e envelhecimento.

Sinais como ouvir zumbidos frequentemente, ver televisão ou ouvir rádio com o volume muito alto ou pedir constantemente que as pessoas falem mais alto e repitam a frase mesmo em locais silenciosos pode indicar que existe um problema auditivo. Portanto, é aconselhável que se faça um exame médico o mais depressa possível para que o problema não se agrave. Infelizmente, muitos jovens já sofrem algum tipo de lesão auditiva e não se apercebem, sendo que realizar exames auditivos regulares pode detetar o problema de forma precoce e ser assim mais fácil solucionar o mesmo.

Veja na página seguinte: O tipo de auscultador que deve privilegiar

O tipo de auscultador que deve privilegiar

Nos casos em que se precisa de utilizar aparelho auditivo, estão disponíveis muitas soluções altamente personalizáveis, discretas e confortáveis. Aqui ficam algumas dicas para que não prejudique os seus ouvidos nem deixe prejudicar o dos seus filhos devido ao uso incorreto de auscultadores:

1. Não deixar que o volume ultrapasse metade do máximo permitido pelo aparelho.

2. Tentar perceber se mais alguém consegue ouvir a sua música. Caso isso aconteça, baixe o volume.

3. Não fique muitas horas seguidas com os headphones colocados.

4. Se costuma participar em muitos eventos desportivos ou fazer muitas aulas de grupo nos ginásios, utilize sempre tampões auditivos para diminuir o impacto da música na sua audição.

5. Escolha um modelo de auscultador que seja colocado sobre o ouvido e não um modelo que seja colocado dentro do canal auditivo. Estes modelos são mais prejudiciais pois o som pode ser amplificado cinco vezes mais dentro do ouvido e podem alcançar muitas vezes níveis superiores a 100 dB, quando o máximo de potência considerada não prejudicial é de até 85 dB.

6. Faça rastreios auditivos regulares num centro auditivo ou teste a sua audição descarregando aplicações gratuitas, como a da MiniSom, para o seu smartphone. Esta permitir-lhe-á realizar um primeiro teste auditivo de forma rápida, eficaz e gratuita. Afinal, basta mudarmos os nossos hábitos para desfrutarmos da música e dos headphones sem prejudicarmos um sentido tão importante como a audição.

Texto: Pedro Paiva (audiologista)