Segundo Jaime Nina, infeciologista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, «a grande diferença não está no vírus ou na sua infeção, está em nós. A gripe sazonal anda por aí há décadas e quase todos nós já a tivemos, estamos imunes, portanto se aparecer novamente será uma minoria da população a ser afetada».

«Esta gripe é nova, no sentido que ainda ninguém a tinha antes de 2009, portanto agora pode espalhar-se como fogo na floresta de verão, dado que somos todos suscetíveis, não temos imunidade para ela, nem sequer parcial. Se se portar como as gripes pandémicas anteriores (a gripe espanhola de 1918-19, a asiática de 1957-58 e a gripe de Hong Kong de 1968-69), vai atingir a quase totalidade da população mundial e daqui a dois ou três anos estaremos todos imunes ou porque tivemos a gripe ou porque fomos vacinados», sublinha.

Que sintomas são mais importantes para se suspeitar que se pode estar infetado?

Segundo Pedro Ribeiro da Silva, «existem pessoas com um sistema imunitário muito bom que até podem ter a gripe A, sem que se apercebam. Sentem apenas algum cansaço mas não revelam a sintomatologia habitual». Contudo, considera, «não é necessário ter todos os sintomas para tomar as devidas precauções. A febre alta e a tosse já são um alerta».

Tem sido um dos assuntos mais falados nos últimos meses.

O aparecimento de uma nova estirpe do vírus da gripe, um subtipo que contém uma combinação nunca antes observada com genes das variantes humana, aviária e suína do vírus da gripe, em abril deste ano, no México, disparou o alerta da comunidade científica e da população.

A velocidade de propagação da gripe A ( H1N1)v e a sua dispersão por várias partes do mundo (e não a sua maior gravidade) levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a classificar a doença como uma pandemia de nível seis.

Contudo, contrariando o medo que se tem gerado em torno deste vírus, a gripe A, como agora se tornou conhecida mundialmente, (ou gripe mexicana, denominação apontada, por alguns especialistas, como a mais correta) é, afirma Pedro Ribeiro da Silva, médico da Direção-Geral da Saúde (DGS), «uma doença benigna, com sintomas leves semelhantes à gripe sazonal, apenas capaz de ser mortal em organismos debilitados». Para esclarecer as suas dúvidas em torno do tema, lançámos questões a especialistas na matéria. Leia as suas respostas e vá de férias (mais) descansada.

Qual é a grande diferença entre esta gripe e a gripe sazonal?

Perante os sintomas, como devo agir?

Assim que revelar sintomas, em especial se regressou há menos de sete dias do estrangeiro ou manteve contacto próximo com alguém infetado, a DGS aconselha a «ligar para a Linha Saúde 24 (808 24 24 24) e seguir as indicações até que a situação esteja esclarecida».

Como devem os pais avaliar a gravidade dos sintomas?

O infeciologista e especialista Jaime Nina aconselha a ligar para a Linha Saúde 24, no caso da criança ter «febre superior a 38 graus, tosse, vómitos, diarreias ou/e falta de ar».

Se um familiar ficar doente que medidas deve tomar o resto da família?

Deve guardar uma distância de, pelo menos, um metro quando falar com o familiar infetado, não o cumprimentar com abraços, beijos ou apertos de mão. Se não tiver as mãos lavadas, evitar mexer nos olhos, no nariz e na boca.

As pessoas que tratem do doente, em casa, devem lavar frequentemente as mãos, após contacto com a pessoa infetada, objetos ou roupas potencialmente contaminados por saliva ou secreções nasais. Devem ainda arejar a casa com frequência.

As grávidas devem ter cuidados específicos?

Sugere-se que reforcem a higiene, como a lavagem das mãos, em todas as situações de risco, assim como evitar frequentar espaços públicos fechados. De qualquer forma, diz Jaime Nina, «os tratamentos a aplicar são os mesmos, uma vez que os antivirais utilizados não têm revelado qualquer efeito nocivo em grávidas».

Como é feito o diagnóstico?

Segundo Jaime Nina, em caso de suspeita, «mas apenas nesta fase de contenção, faz-se uma colheita da amostra nos primeiros sete dias da doença, quando a pessoa infetada propaga o vírus, para ser examinada em laboratório».

Uma vez que o estudo desta estirpe de vírus está em constante dinâmica, explica Pedro Ribeiro da Silva, «ao atingir um determinado número de casos (que pode ser 100, 200 ou mais, é uma situação variável) apenas, por exemplo, uma em cada dez pessoas infetadas será analisada, o que não significa que as medidas de cuidado preventivo deixem de ser tomadas».

Como se transmite esta gripe?

Transmite-se de pessoa a pessoa, através do contacto com doentes infetados, desde os primeiros sintomas até cerca de sete dias após o início dos mesmos, ou por mexer em objetos e superfícies contaminados, onde o vírus pode permanecer ativo entre duas a oito horas. As mãos, ao tocarem na boca, nariz e olhos, vão propagar a doença.

Após os sete dias do período de transmissibilidade, o risco de propagação é nulo?

Sim. Contudo, «caso os sintomas se mantenham, o prazo da transmissibilidade pode prolongar-se», refere o médico da DGS.

Qual o perfil das pessoas que estão a ser mais infetadas?

Ao contrário da gripe sazonal, não existe um grupo específico. «Inicialmente, os jovens adultos registaram um nível elevado de infeção, apenas porque estavam mais em situações de contágio», explica Pedro Ribeiro da Silva.

«A gripe A pode atingir toda a gente, mas as pessoas cujo sistema imunitário esteja mais debilitado devem tomar especiais precauções, pelo risco de vida que representa, como acontece com qualquer vírus da gripe. Aconselha-se a estarem mais atentas aos sintomas e a evitarem espaços fechados com multidões», refere ainda.

É possível superar esta nova gripe sem recurso a medicação?

À semelhança da gripe sazonal, o sistema imunitário combate a doença. «A terapêutica contribui para a cura, pois o sistema imunitário reage mais depressa no combate ao vírus. O que se faz é dar medicação de acordo com os sintomas, tal como acontece com a gripe sazonal. Apenas se prescreve antivirais às pessoas infetadas com situações de saúde frágil ou, em casos particulares, que possam estar em risco de contágio porque o tratamento é mais rápido», adianta o médico da DGS.

Que tratamentos existem?

Ainda não existem fármacos específicos para combater esta nova gripe. Como explica Jaime Nina, «casos isolados estudados nos EUA revelaram resistência do vírus à amantadina e rimantadina, mas o A(H1N1)v tem sido sensível a uma das classes de antivírus, o Tamiflu®, medicamento antiviral de oseltamivir, e o Relenza®, de zanamivir».

Como atuam?

Os antivirais impedem a saída do vírus de uma célula para a outra, bloqueando a sua propagação e ajudando o sistema imunitário a combater o vírus. A duração média do tratamento, acrescenta Pedro Ribeiro da Silva, «depende dos sintomas e do médico que o prescreve».

Todas as pessoas com sintomas recebem o mesmo tratamento?

Depende dos sintomas. De acordo com Pedro Ribeiro da Silva, clínico da DGS, «os antivirais devem ser prescritos por médicos». Se em outros países e através da Internet se consegue ter acesso a este tipo de fármaco, «em Portugal, só se consegue comprar um antiviral com prescrição e só deve ser receitado nos casos graves».

«Não deve ser tomado antes de se estar infetado pela doença, como prevenção, pois o vírus pode criar resistências e o organismo perde a sua capacidade de imunidade natural», alerta o especialista.

Qual a taxa de sucesso do tratamento?

A gripe A apresenta, geralmente, uma evolução de baixa gravidade. «Na maioria dos casos basta tomar medicamentos para os sintomas, como os antipiréticos para a febre. Só nos casos mais graves ou em pessoas debilitadas, também, se prescreve os antivirais», explica Pedro Ribeiro da Silva.

Exceto os casos anunciados, até à primeira quinzena de julho, pela OMS, registados na Dinamarca, Japão e Hong Kong, o Tamiflu ® revelaram-se, como refere o especialista da DGS, «revelado eficaz no combate ao vírus. Ao fim de sete dias, as pessoas regressam à sua vida normal. As situações que conduziram à morte aconteceram em pessoas com o sistema imunitário debilitado ou que, por algum motivo, estaria mais fragilizado em determinado momento».

Que alternativas existem caso o vírus resista aos tratamentos?

«A gripe mexicana é uma doença benigna, com garantia de cura em 99,9 por cento dos casos. O vírus tanto pode criar como perder resistências. O que se tem estado a fazer é a profilaxia dos contactos, ou seja, dar também antivirais a quem contactou com pessoas doentes, mesmo que ainda não se tenha confirmado a infeção, para prevenir o vírus. Não tem havido transmissão de vírus resistentes», esclarece Jaime Nina.

As pessoas infetadas e que fazem o tratamento ficarão imunes?

«Não existe descrição de recidiva para esta gripe, o que é uma boa notícia», assegura o infeciologista.

Aliás, a pessoa que fica contaminada com uma estirpe de vírus ganha imunidade contra ela. O que pode acontecer é ser infetada por outra variante», acrescenta ainda.

Quem tomar a vacina para a gripe A pode também ser vacinado contra a gripe normal?

«Sim, aliás, a vacina contra a gripe mexicana está a ser preparada para poderem ser tomadas juntas», avança Jaime Nina.

Tome nota

Linha Saúde 24
808 24 24 24

Organização Mundial de Saúde
www.who.int
www.euroflu.org

Direção-geral da Saúde
www.dgs.pt
www.portaldasaude.pt

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Jaime Nina (infeciologista) e Pedro Ribeiro da Silva (médico)