Tenho o privilégio de assistir diariamente ao crescimento de muitas crianças e sentir o peso deste tempo que urge. Sinto que nas primeiras idades as conquistas são muitas e celebradas quase de igual forma e, à medida que a autonomia se vai ganhando, o ênfase das alegrias é canalizado para um reduzido leque de vitórias.

 

Parece-me indiscutível que o sucesso académico poderá ser premonitório de um bom futuro, tal como é certo que este factor é diminuto face a muitos outros requisitos para atingir o “sucesso” tão ambicionado por todos os pais.

 

A verdade é que a enfatização e constante preocupação sobre este tema, leva muitas vezes à distracção sobre a importância da autonomia. O peso de saber ler, contra a sabedoria do pentear e a escolha do casaco adequado para a escola.

 

Importa salientar, que nem sempre a informação do que será ou não adequado numa criança ou jovem saber fazer de forma autónoma em determinada idade é consensual dentro do universo clínico. Da mesma forma, realço que muitas vezes o ritmo da vida surge como o principal entrave às tentativas dos pais que se tranquilizam com o que a criança sabe fazer e não com o que realmente faz.

 

Nos últimos tempos deparo-me com as dificuldades da maioria das famílias no que diz respeito à mobilidade dos seus filhos no seu dia-a-dia, com todo o conhecimento mediático dos perigos que espreitam. As consequências e vulnerabilidades que estas novas atitudes da sociedade actual possam trazer, parecem não ser analisadas ou ponderadas. Mas, será desapropriado questionar este impacto? Mesmo que, justificado pelas aparências de um Mundo pior para as nossas crianças no que respeita à sua liberdade de crescer explorando o mundo pelos seus pés. Ousar dizer, que isto é uma limitação que terá certamente efeitos mais contraproducentes nos futuros adultos que qualquer progresso vindo das máquinas. O isolamento, que se diz provocado por computadores na nova geração, surge em parte como a nossa resposta à escolha de uma segurança fictícia. No fundo, parece-me óbvio que estamos a deixar de ensinar competências essenciais. Permitir-lhes as descobertas a que têm direito, desculpando-nos que terão tempo para as adquirir, como se no futuro não houvesse tantos perigos, ou que a maturidade se ganha apenas com a passagem do tempo e não com a aquisição de competências.

 

O tempo é cada vez mais o bem mais caro e difícil de gerir. Sim, porque é preciso despender tempo para ensinar, reflectir, preocupar, tentar, treinar e sobretudo errar. Como coordenar isto nas nossas crianças?

 

Como encontrar a segurança que cobiçamos para nos permitir dar-lhes asas. Isso requer confiança. Primeiro em nós próprios. Depois neles, como por extensão nossa. E no fim, nos outros.

 

Será importante não esquecer, que o melhor que lhes podemos dar, é o tão requisitado tempo, mas tempo de aprendizagens, de oportunidades e escolhas, tempo para errar, sentir medo e nos assustar. Por vezes magoar-se-ão, existirá um sentimento de culpa por não o evitarmos, até de revolta por achar que poderia existir outra maneira de os deixar crescer. Mas, até onde poderemos nós fazer “por eles” e deixar as nossas crianças que rapidamente se tornam jovens e tão lentamente adultos ganharem autonomia?

 

No fim, a única certeza que temos é que eles crescem…

 

E nós? Crescemos com eles.

 

Bárbara Dias
TSEER
barbara.dias@pin.com.pt

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