Para haver motivação escolar, algo que nem sempre sucede, têm de estar reunidos certos aspetos emocionais e sociais. "Crianças que desde pequenas vêem a sua curiosidade ser estimulada e ouvem os pais a falar com prazer do conhecimento e da aprendizagem, mais facilmente se automotivam para aprender", garante, com segurança, Inês Afonso Marques, psicóloga infantil da Oficina de Psicologia.
Ter um adulto ao lado que compreenda as dificuldades da criança e que seja capaz de reconhecer as suas capacidades, permitir-lhe-à também atingir mais rapidamente os objetivos. Assim, de acordo com a psicóloga, "um professor que consegue cativar os alunos, recorrendo a diferentes estratégias de ensino consoante a necessidade dos seus alunos", também motiva as crianças a serem mais autónomas nos seus estudos.
A necessidade de melhorar a autoestima académica
O ensino está dependente de vários fatores para produzir os resultados desejados. A pobreza aliada a uma baixa frequência das aulas e a uma influência parental negativa constituem as principais causas do insucesso e do abandono escolar. Por isso, quanto melhor for a qualidade das relações familiares de um aluno, na grande maioria dos casos, melhores serão o seu aproveitamento e as interações com colegas e professores.
James P. Comer, autor norte-americano, escreveu no livro "What I Learned in School", lido e seguido por muitos pais e educadores nos Estados Unidos da América, que "não pode haver aprendizagem sem uma relação importante". E, efetivamente, o caminho para o autoconhecimento passa, sobretudo, pela forma como interpretamos as nossas relações e as dos outros.
Se pararmos para pensar, todos tivemos um adulto que deixou um marco positivo na nossa vida, seja um familiar ou um professor. Com sorte, os dois, como sublinham inúmeros especialistas, nacionais e internacionais! É mais difícil aprender quando não se gosta das pessoas que ensinam, mas um aluno com a atitude errada também dificulta o trabalho do professor.
As ferramentas de estudo a ter em conta
Ter curiosidade é fundamental para o processo de aprendizagem. Colocar questões não só ajuda a assimilar melhor os dados, como facilita a instrução. As perguntas aproximam os alunos dos professores e dão-lhes confiança. Porém, questões, por si só, não bastam. O passo seguinte no processo da aprendizagem também é essencial e apresenta os maiores obstáculos para os mais pequenos.
Testar, errar, corrigir e repetir fazem parte do processo que exige que os alunos não tenham medo de arriscar e que não se deixem desanimar pelos desafios.
E, uma vez ultrapassadas as dificuldades, o momento de revisão da matéria, que muitos pais devem fazer regularmente com os filhos, deve levar as crianças a refletirem sobre o que estão a estudar, desenvolver a capacidade de resolução de problemas e espicaçar a imaginação.
"Os métodos e hábitos de estudo podem começar a ser estimulados com o início do ensino mais formal, logo no primeiro ciclo", diz Inês Afonso Marques. Além de estabelecer rotinas, torna-se importante incentivar a criança a fazer os trabalhos de casa num determinado espaço, onde tenha à sua disposição as condições necessárias para completar as tarefas sem distrações.
Como tornar as crianças mais autónomas no estudo
Segundo a especialista Inês Afonso Marques, os pais e os professores devem orientar e sugerir técnicas de estudo, como sublinhar, resumir e esquematizar a informação, "à medida que as exigências em momentos de avaliação aumentam". Fernando Alberca, autor de "Todas as Crianças Podem Ser Einstein", defende que acima de tudo as crianças "devem aprender a ler bem", como refere.
"Devem aprender que tudo tem consequências e que o esforço produz resultados", acrescenta ainda. Em idade escolar, é importante ser exposto a experiências que façam a criança sair da sua zona de conforto, que a façam sonhar, por mais importantes que as rotinas diárias sejam. Afinal, "o estudo é só um meio para a aprendizagem", afirma ainda Fernando Alberca.
Do ponto de vista deste escritor espanhol, a atitude que temos perante a educação não é a melhor, criando espetativas irrealistas. O objetivo de estudar, alerta o autor, não devem ser as notas, pois "raramente refletem a realidade". Tanto os pais como as crianças devem aceitar que vão ocorrer percalços e perceber que não faltam ao aluno recursos para aprender e ter sucesso.
Isso pode é não acontecer nos parâmetros desejados. Para Fernando Alberca, os pais devem encarar o processo de aprendizagem "com otimismo", sabendo que os resultados estão sujeitos a influências externas além do empenho do aluno. "Há crianças muito trabalhadoras que têm uma inteligência acima da média e, ainda assim, chumbam", realça o especialista espanhol.
O que acontece quando a produtividade melhora
A produtividade melhora quando os alunos reconhecem o seu potencial e são capazes de identificar as áreas em que têm mais dificuldade, permitindo-lhes traçar planos "adequados às suas idiossincrasias", segundo a psicóloga infantil da Oficina de Psicologia. Assim também se fomenta a autonomia, sem colocar pressão desmedida sobre os ombros dos mais jovens.
Porque o que importa é os adultos darem-lhes as "ferramentas para se potenciarem enquanto pessoas", refere a especialista. O prazer pela aprendizagem exige que as figuras adultas transmitam segurança, coloquem desafios, deixem cometer erros, peçam ajuda à criança e solicitem a sua opinião. "Um ambiente previsível promove crianças autónomas e independentes", enfatiza Inês Afonso Marques.
Seres criativos que precisam de ser estimulados
Para serem melhores alunos, é preciso puxar por eles desde pequenos. "A criatividade é um processo que envolve ter ideias originais com valor", diz o autor britânico Sir Ken Robinson. E a boa notícia é que todos nós somos muito criativos na infância. Algumas crianças são melhores do que outras a diferentes disciplinas, e, por vezes, até face a crianças mais velhas.
Mas todas, sem exceção, são criativas e têm a capacidade de pensar de forma divergente, isto é, de ver múltiplas respostas e interpretações para uma questão, uma característica essencial para haver criatividade. Porém, esta é uma capacidade que se vai deteriorando com a idade, como concluiu um estudo sobre pensamento divergente que testou mais de 1.500 crianças de géneros, raças e estratos socioeconómicos distintos.
Publicado no livro "Breakpoint & Beyond", o estudo acompanhou as crianças desde que frequentavam o infantário até ao ensino básico, e verificou que no infantário a capacidade de pensar de forma divergente era de 98%, e no ensino básico descia para 50%. "As crianças ficam instruídas, após 10 anos na escola a ouvir dizer que só há uma resposta para uma pergunta", refere.
Por isso, Ken Robinson declara, nesta obra e em muitas das intervenções públicas que proferiu em conferências, colóquios e seminários que é preciso pensar de forma diferente em relação às capacidades humanas. Para este especialista, é fundamental perceber que as crianças "aprendem melhor quando trabalham em grupos e colaboram", como faz questão de alertar.
A questão da autoeducação
Sugata Mitra, professor de Tecnologia Educacional na Universidade de Newcastle, no Reino Unido, concorda com a visão defendida publicamente nessas intervenções por Ken Robinson. Entre 1999 e 2001, este especialista realizou uma experiência à qual chamou "The Hole in the Wall Experiment", "A experiência do buraco na parede", em tradução literal em português.
"Embuti computadores em paredes de bairros de lata por toda a Índia, onde as crianças quase não iam à escola, não sabiam o mínimo de inglês, nunca tinham visto um computador, e não sabiam o que era a internet", explica Sugata Mitra. No fim dos dois anos, este professor universitário chegou à conclusão que as crianças aprendem a fazer aquilo que querem.
"Se as crianças estão interessadas, aprendem, porque verificámos que começaram a pesquisar os temas dos seus trabalhos de casa no Google sem nunca terem tido a ajuda de um adulto", elabora. Assim, Sugata Mitra concluiu que grupos de crianças são capazes de aprender sozinhos a usar computadores e a internet para alcançarem objetivos educacionais, e em especial se se entreajudarem.
Sim ou não aos videojogos?
Contrariamente à opinião generalizada, Inês Afonso Marques afirma que os videojogos "podem ser uma ajuda na infância, desde que usados com ponderação e que a qualidade dos mesmos seja controlada pelos adultos". De acordo com a psicóloga clínica, os videojogos só se tornam num contratempo "se forem o único passatempo das crianças, impedindo-as de socializar e experimentar outras formas de diversão".
Esta posição é partilhada por uma investigadora na área da cognição, Daphne Bavelier, que está a desenvolver videojogos com efeitos benéficos na saúde das pessoas. A especialista diz que até um jogo cheio de ação pode melhorar o nosso comportamento. A investigadora verificou que passar muito tempo à frente de um ecrã não deteriora a visão, já que os indivíduos que jogam videojogos têm uma visão mais apurada.
E também concluiu que os jogos não provocam problemas de atenção, nem pioram as capacidades de concentração, pois os jogadores resolvem problemas mais rapidamente. Isaac Pante, especialista em videojogos, presidente do Departamento de Linguagem e Informação da Universidade de Lausana, na Suíça, corrobora a opinião. "Favorecem uma vasta gama de aprendizagens", garantiu em entrevista.
Texto: Filipa Basílio da Silva
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