As crianças em idade condicional para entrar no primeiro ano devem ou não ficar mais um ano no pré-escolar? E que critérios se deve ter em conta antes de decidir? Estas são apenas duas das questões que, nesta altura, muitos pais se colocam. Vale a pena empurrar o filho para a escola aos cinco ou esperar pelos seis? Rita Castanheira Alves, psicóloga clínica infanto-juvenil e de aconselhamento parental, responde.

A lei diz que «as crianças que completem 6 anos de idade entre 16 de setembro e 31 de dezembro podem ingressar no 1.º ciclo do ensino básico se tal for requerido pelo encarregado de educação, dependendo a sua aceitação definitiva da existência de vaga nas turmas já constituídas, depois de aplicadas as prioridades definidas no n.º 1 do artigo 10.º do presente despacho normativo».

Essa é, pelo menos, a informação que consta no Artigo 4.º, ponto 7 do Despacho normativo n.º1B/2017, as chamadas matrículas condicionais. «Os estudos mostram haver tanto vantagens como desvantagens na permanência no jardim de infância por mais um ano e na transição para o primeiro ciclo. Por isso, não há uma regra e uma resposta única para todas as situações», esclarece a especialista.

«As vantagens e as desvantagens devem ser analisadas para cada situação específica de matrícula condicional para a tomada de decisão. Pais/cuidadores devem estar tranquilos e abertos a qualquer hipótese, equacionando as suas próprias expetativas e lembrando-se que cada criança é única e tem o seu ritmo e tempo próprios», sublinha ainda.

«Nesta tomada de decisão, é importante ter em conta um conjunto de fatores  e competências que vão muito para além da idade cronológica, que, por si só, não é um indicador objetivo de desenvolvimento e maturidade da criança», acrescenta ainda a psicóloga clínica infanto-juvenil, habituada a lidar com muitos pais que também partilham desta dúvida.

O que ponderar antes de decidir

- Competências cognitivas

«Pondere se o seu filho tem competências de base para a aprendizagem da leitura e da escrita e do raciocínio numérico, como a perceção, orientação visuoespacial e coordenação motora; a memória auditiva», aconselha Rita Castanheira Alves.

- Maturidade emocional

«Observe se a criança tem competências no cumprimento das regras de funcionamento e dos procedimentos e no saber estar em grupo, nomeadamente no saber esperar pela sua vez, no cumprir procedimentos e formas de funcionamento, no saber estar sentada e atenta e a respeitar o grupo, no seguir ordens e instruções sequenciais, no saber trabalhar em grupo e no contribuir para a organização do grupo», refere.

A lista não se fica, contudo, por aqui. Também abrange a tolerância  à frustração, nomeadamente a saber aceitar o erro, a ter persistência na realização das aprendizagens e das tarefas propostas, a par da capacidade de autonomia e iniciativa, da vontade de aprender, da motivação e da curiosidade para  as aprendizagens», diz Rita Castanheira Alves.

- Contexto familiar e afetivo

«É preciso ter presente que somos todos diferentes e as crianças não são exceção, por isso a tomada de decisão deve ser sempre específica e tendo em conta as características individuais da criança em questão, tomando por base os fatores já referidos e outros aspetos da vida da criança, como a sua história de vida, família, rotinas e ritmos, ligação ao grupo de crianças com quem está e se este transitará todo, eventual impacto psicológico na criança de uma ou de outra decisão», realça.

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O que fazer se precisar de ajuda

Se não conseguir decidir sozinho, «poderá recorrer à opinião e análise profissional dos educadores com quem a criança passa grande parte do dia, a especialistas que a acompanhem e conheçam (como o/a pediatra) ou, em caso de maiores dúvidas, consultar um psicólogo para uma avaliação psicopedagógica que possa ajudar nessa decisão», aconselha Rita Castanheira Alves.

«Acima de tudo, apelo que sejam os pais ou educadores os primeiros a estar tranquilos e abertos a qualquer hipótese, disputando as suas próprias expetativas ou de outros elementos significativos», afirma ainda a psicóloga clínica infanto-juvenil e de aconselhamento parental.

Texto: Nazaré Tocha com Rita Castanheira Alves (psicóloga clínica infanto-juvenil e de aconselhamento parental)