Todos temos duas presenças, uma no mundo real, contactando com pessoas de carne e osso, falando verbalmente, tocando na pele dos outros, ouvimos os risos, vemos as lágrimas, sentimos o calor. A segunda é no mundo da internet, um mundo online, onde temos amigos próximos que por vezes nem sequer os vimos a nossa frente, onde postamos altas fotos em sítios paradisíacos, comentamos vidas alheias e colocamos likes nos 1000 amigos mais chegados.
Tentámos gerir as duas vidas em simultâneo, uma presença activa online, e uma vida cheia no offline. Tentámos mostrar que somos tão bons no offline quanto dizemos que o somos no online, e começamos a descurar do real.
Há dias estivemos em Viena, num restaurante girissimo, com música ou vivo e uma onda cool que transpirava por todos os presentes. Na mesa ao lado estava um casal novo. Ela sentada à frente dele, os dois cabisbaixos, engolidos pelos iphones.
A banda conseguia pôr os mais tímidos a soltarem uns movimentos rítmicos de ombro, e muitos eram os que se balançavam ao som das fortes e conhecidas badaladas. Todos queriam dançar, curtir e aproveitar. Ele cabisbaixo, envolvido numa luz amarelada do monitor. Ela, apontava o indicador, e fazia-o delicadamente deslizar pelo ecrã iluminado.
Por momentos ainda pensei que estivessem zangados um com outro, mas como esticavam a sua mão livre para chegar á do outro, rapidamente apercebi-me que não havia zanga no meio. Também pensei que estivessem a falar um com o outro, mas também percebi que não. Cada qual, engolido no seu próprio espaço criado na net, ausente do mundo que os rodeia, ausente do mundo real.
Tiravam fotografias da comida, do ambiente, do outro que por momentos levantava a cabeça e posava sorridente para a câmera, das luzes que brilhavam, e voltavam a emergir no mundo cibernético durante mais alguns largos minutos.
E assim permaneceram, durante toda a refeição, apenas levantando a cabeça para felicitar a chegada de um novo prato, ou para sorrir para a captação de um suposto momento vivido.
Torna-se um problema (grave) quando somos engolidos para o online, e deixamos de viver no offline.
Marta Andrade Maia
My baby blue blog
Comentários